Luiz Costa – Redação UàE – 22/05/2018
O valor da refeição nos Restaurantes Universitários da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) sofreram aumento de 122%. Desde o dia 7 de maio os estudantes da universidade deixaram de pagar R$ 1,80 para pagar R$ 4,00 por refeição.
A decisão foi tomada pelo Conselho de Administração da UFSCar (COAd), que reúne representantes da comunidade universitária, inclusive, membros da atual gestão da Reitoria. Apesar da proposta de aumentar ganhar por maioria no Conselho, o número de votos contrários foram expressivos, principalmente por parte dos representantes discentes – aqueles que representam a categoria mais afetada com o aumento da alimentação. A proposta entrou em pauta no Conselho em março deste ano, período em que não havia representantes discentes no órgão, pois se encontrava em processo eleitoral. A discussão, que havia sido iniciada no dia 17 de março, foi retomada pela gestão da universidade após a eleição dos representantes discentes. As reuniões para apresentar o orçamento, entretanto, não visavam qualquer negociação. A proposta defendida pela atual gestão entrou em deliberação no CoAd no dia 17 de abril, sem que houvesse qualquer alteração na mesma.
Por parte da comunidade estudantil, houve mobilizações e tentativas de negociar o valor a ser aumentado, afinal, a refeição estudantil é o meio de assistência mais abrangente na universidade – a maioria dos estudantes dependem das refeições servidas a baixo custo para manter suas atividades universitárias. As tentativas de construir uma proposta intermediária, porém, foram em vão.
Há duas semanas atrás, quando o novo valor entrou em vigência, os estudantes decidiram realizar uma manifestação na tentativa de que houvesse alguma negociação com a gestão. Os estudantes ocuparam o edifício da reitoria em São Carlos e outros edifícios no campus Sorocaba.
Na mesma semana que iniciou as ocupações, sem mostrar disposição ao diálogo, a gestão solicitou reintegração de posse do edifício da reitoria.
Os professores da UFSCar, em carta à comunidade no dia 18 de maio, relataram que “o que assistimos a partir de então [da ocupação] foi um espetáculo de atrocidades por parte da administração da UFSCar”, pois a reintegração “poderia requerer força policial e exporia, sobremaneira, a integridade física dos estudantes, criminalizando nominalmente aqueles que estavam ali pedindo para serem ouvidos”. Por consequência da ação da reitoria, sete estudantes foram processados na Justiça Federal.
Na carta – apoiada até o momento por 293 docentes – os professores apontam que “é inadmissível que uma gestão administrativa fale em nome da instituição sem que essa tenha sido consultada, em especial quando se trata de ações graves e de excepcionalidade, como substituir o diálogo democrático pela entrada da polícia num campus universitário”.
Os docentes chamam atenção para as “narrativas enviesadas apresentadas pela atual gestão da UFSCar”. “Estamos lidando com um problema que afeta diretamente os alunos, mas o que figura como pano de fundo neste cenário é a democracia, a autonomia universitária, a diversidade, a liberdade de pensamento e de expressão. Situação ainda mais grave quando pensamos em um ambiente de papel formador como a universidade”, conclui a nota.