Martim Campos – Redação UàE – 17/07/2020
Na sessão do Conselho Universitário que ocorre agora, uma carta dos Técnicos Administrativos em Educação (TAEs) da UFSC foi lida pela técnica Sandra Regina Carrieri, expressando a posição contrária a retomada do ensino remoto na UFSC.
Confira a carta na íntegra:
Os TAES são contra o Ensino Remoto na UFSC Enquanto a pandemia avança, todos os braços ideológicos do sistema, empresariado e governos clamam pelo ensino remoto nas universidades. Isso não é à toa. O ensino remoto diminui custos e ainda dá uma sensação de que “as coisas estão acontecendo”. Além disso, o ensino à distância faz parte do projeto do capital para a Educação, de desmonte dessa política pública, de precarização e privatização. Por isso, há que olhar para o tema com cuidado.
Nós, Técnicos Administrativos em Educação/TAEs, reunidos no dia 03 de julho de 2020 em reunião aberta com o SINTUFSC, nos posicionamos contrários à retomada das atividades curriculares pelo ensino à distância/ensino remoto na UFSC porque entendemos que a Universidade é mais que uma fábrica de diplomas. Se o que se preza é o ensino de qualidade, mais vale esperar um pouco do que agir por impulso.
É certo que o tempo voa, não há vacina ou remédio contra o vírus e ninguém quer perder o semestre. Por isso a pressão para retomar as atividades de ensino, já que a impressão que dá é que a UFSC está parada.
Pois há que dizer claramente: a UFSC não está parada. O trabalho segue como sempre, apenas em condições muito mais desfavoráveis para os trabalhadores. Tanto os TAEs como os professores estão realizando suas tarefas a partir de suas casas, sem a estrutura adequada, com seus próprios equipamentos, tendo gastos adicionais e ainda enfrentando profundo estresse por ter de dividir o trabalho com a vida cotidiana. Infelizmente a administração da universidade não tem tido a capacidade de explicar à sociedade sobre isso e a cada dia mais vai se entregando aos argumentos dos que atacam a UFSC.
Diante da gritaria geral dos que prezam mais o dinheiro do que a vida, a pressão para o retorno das aulas via internet aparece como uma solução. Não é! Se o que se quer é a qualidade do ensino é preciso entender os prejuízos que uma retomada apressada pode causar. É sério que setores no interior da nossa universidade façam coro com a defesa da retomada à distância – ou remota, como quer o eufemismo que se tornou usual. Grave que esta seja a política defendida pelo reitor Ubaldo Baltazar e seus pró-reitores.
A retomada das atividades de ensino curriculares causará grandes prejuízos. Tanto pela precariedade desta forma que não nos coloca em uma interação dinâmica como a de sala de aula, como por seus efeitos posteriores. Sabemos que muitos cursos não poderão aderir a esse formato, por possuírem compreensões pedagógicas distintas que não compactuam a retomada remota, por possuírem disciplinas em que a dimensão corporal ou prática são imprescindíveis: para esses, como será o futuro? Terão mais contratação de professores e TAEs para atender uma demanda acumulada de estudantes pelas disciplinas? Terão recursos disponibilizados para compra de materiais para um número maior de estudantes que irão cursar as disciplinas? Iremos prever uma modificação na matriz de distribuição orçamentária e de contratações para o pós “ensino remoto”?
E os estudantes? Estarão em pé de igualdade para receber os conteúdos? Terão internet de qualidade, equipamentos, ambiente tranquilo? É óbvio que não. As desigualdades assomarão e se tornarão ainda mais profundas.
Nós, TAEs da UFSC, entendemos que essa decisão de voltar às aulas remotamente é equivocada e lutaremos contra ela. Vale lembrar que encampamos duras lutas por causas maiores que apenas as de nossa categoria: em 2015 uma greve contra os cortes orçamentários (inclusive na qual tivemos um amplo debate sobre a dívida pública); em 2016 lutamos contra a Emenda Constitucional 95 (à época PEC do Fim do Mundo), pensando seus efeitos para toda a classe trabalhadora e também pelo já comprimido orçamento universitário; em 2019 engrossamos as paralisações e atos contra os cortes no orçamento da educação superior e participamos, a despeito de nossas dificuldades, da luta contra o “Future-se”.
Produzir um “novo normal” nesta situação é grave. É normalizar a morte de milhares de pessoas que inclusive morrem por conta da irresponsabilidade governamental. Neste momento, professores (principalmente), TAEs e estudantes devem estar com as energias voltadas para, desde as diferente áreas do conhecimento, analisar esse momento sensível que vivemos. E não para continuar burocraticamente à vida universitária. Nós não somos um cartório.
É o momento de a universidade questionar e debater com a sociedade catarinense como chegamos onde chegamos. Elaborar respostas e principalmente perguntas para orientar uma reflexão ampla. Temos trabalhado arduamente nessa direção. É isto que a Universidade está fazendo e deve continuar.
Nada impede que professores, grupos de pesquisa, departamentos criem cursos abertos, debates, grupos de estudo e leitura, oficinas, etc. e envolvam os estudantes para se debruçar em questões importantes para o momento. Aliás, isto já tem acontecido. Agora o foco de todos nós deve estar voltado para a superação desse momento de profundo abandono pelos governos. Mais do que terminar o semestre a universidade deve estar aliada ao trabalho de busca de uma solução concreta para a pandemia.
Ainda que nossa administração se renda facilmente ao discurso e a pressão dos mercadores da morte, nós, trabalhadores TAEs, nos manteremos firmes na luta contra as soluções fáceis e ineficazes.
Ensino remoto não é a solução! Lutar contra a pandemia é!
Técnicos Administrativos em Educação – TAEs da UFSC.