Edição UàE a partir da foto de Isac Nóbrega/Fotos Públicas.
Nina Matos – Redação UàE – 05/07/2021
Durante as últimas oitivas realizadas pela Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Covid, novos escândalos envolvendo o governo Bolsonaro emergiram, exigindo que os senadores voltem sua atenção para encontrar as relações e os elos entre as denúncias.
No dia 25 de junho, os irmãos Miranda compareceram à CPI na condição de testemunhas após denunciarem irregularidades na compra da vacina Covaxin, produzida pela empresa indiana Bharat Biotech.
Há uma série de indícios que sustentam o argumento de que a negociação para a compra da Covaxin seja parte de um esquema de corrupção. Os dados obtidos pelas investigações mostram que os contratos eram inseguros, os preços negociados eram elevados — além de terem sofrido aumento de 1.000% —, funcionários do Ministério da Saúde (MS) foram pressionados em diferentes momentos para que a compra fosse efetuada e até mesmo o tempo de conclusão da negociação foi muito inferior em comparação com outras negociações de vacinas feitas pelo governo Bolsonaro.
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Apesar da compra dos lotes da vacina ter sido interrompida após as denúncias, o governo federal tinha reservado R$ 1,6 bilhões dos cofres públicos para o pagamento da negociação feita com a Precisa Medicamentos.
Localizada em Santos, no estado de São Paulo (SP), a Precisa Medicamentos é um dos pontos centrais das investigações sobre a Covaxin. A relação da empresa com o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) não é recente: foi através da família Bolsonaro que Francisco Maximiano — dono da Precisa — obteve acesso a ministérios, embaixadas e ao BNDES.
Apesar da Precisa ter alguma experiência com o governo federal antes de Bolsonaro — a primeira negociação foi no governo Temer —, a partir de 2019 a empresa fechou outros dois contratos a nível federal: todas as três negociações referiam-se a compra de preservativos femininos, nos valores de R$ 27,4 milhões, R$ 41,2 milhões e R$ 15,7 milhões.
Maximiano, por sua vez, possui outras experiências de negociações com o governo federal. Por outra empresa da qual é sócio, a Global Gestão em Saúde, Maximiano assinou um contrato de R$ 20 milhões com o MS para venda de medicamentos para doenças raras. Os medicamentos nunca foram entregues apesar da Global ter recebido seu pagamento.
Na época, quem ocupava o cargo de ministro da Saúde era Ricardo Barros (PP), deputado federal e líder do governo na Câmara — citado pelos irmãos Miranda na CPI como quem respondia pelas negociações da Covaxin.
Outras empresas de Maximiano também são alvos na Justiça devido ao não cumprimento de diversos contratos firmados. Apesar do histórico negativo do empresário, foi graças a Bolsonaro que a Precisa obteve um crescimento de 6.000% no valor de contratos.
Como parte da investigação, a CPI exigiu a quebra de sigilo bancário e fiscal de Maximiano. Com as análises dos dados obtidos, é possível observar incongruências entre as declarações à Receita Federal feita pelo empresário e suas movimentações bancárias — o que por si só não configura como crime, mas que pode indicar enriquecimento ilícito e lavagem de dinheiro.
Durante todo o percurso da pandemia no Brasil foi evidente que Bolsonaro não tinha qualquer preocupação com a vida, apostando todas as suas fichas na continuidade das atividades econômicas às custas de muitas mortes. Entretanto, com o avanço das investigações da CPI, levantam-se elementos que tornam essa acusação mais sólida e expõe diretamente muitos dos que lucraram com a política de Bolsonaro para a pandemia.