Flora Gomes – 31/10/2019 – Redação UàE
Publicado Originalmente no Universidade à Esquerda
Na edição do Jornal Nacional da última terça-feira (29) uma reportagem apontou que um porteiro do condomínio em que o Presidente reside (cujo nome permanece em sigilo) em depoimento, reiterou o envolvimento da família Bolsonaro ao assassinato de Marielle Franco e Anderson Gomes. No dia do brutal assassinato da vereadora do PSol, Élcio de Queiroz, ex-policial militar, preso pelo crime, esteve no condomínio “vivendas da barra”, onde reside o atual presidente Jair Bolsonaro (PSL) em casa de nº 58, alegando que visitaria o atual presidente, apesar de ter se dirigido à casa de Ronnie Lessa, nº 65. Segundo registros, Bolsonaro, que na época ainda era Deputado Federal, estaria em Brasília no dia da visita. Entretanto, a autorização à entrada do condomínio está vinculada a casa de nº 58 e segundo algumas reportagens de investigação, pode ser realizada através de telefone celular.
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Em resposta à reportagem, Bolsonaro fez uma transmissão ao vivo em rede social, já que estava na Arábia Saudita reunindo-se com empresários. No vídeo ao vivo, Bolsonaro alega ser vítima da imprensa, sobretudo da Rede Globo. Um dia antes, o atual presidente havia divulgado em suas redes sociais um vídeo em que ele seria um grande Leão sendo atacado por Hienas, as quais seriam expressam dos diversos aparelhos de mídia, partidos de oposição, Supremo Tribunal Federal (STF), que tentam atacá-lo constantemente. No vídeo, o grande leão é salvo pela ajuda do “cidadão patriota”.
Sobre as afirmações do porteiro do condomínio, que poderiam levar o caso ao STF, o Ministério Público do Rio de Janeiro (MP-RIO) manifestou-se alegando que as suspeitas em direção a Jair Bolsonaro seriam falsas. A promotora do MP-RIO Simone Sibilio, que havia apoiado abertamente a campanha presidencial de Bolsonaro e postado foto em rede social com Rodrigo Amorin, deputado do PSL que havia quebrado uma placa em homenagem à vereadora assassinada, declarou que o acesso ao condomínio foi liberado por Ronnie Lessa, e que haveria um registro equivocado quanto a autorização ter sido permitida mediante autorização da casa 58. A Promotoria também, em tom de desqualificação e ameaça, reiterou a condição de crime relativo à falso testemunho.
O atual presidente também fez declarações no vídeo defendendo membros de sua família, que possuem alguns históricos de acusação. Seu filho mais velho, por exemplo, foi acusado no final de 2018 de realizar lavagem de dinheiro e de manutenção de organização criminosa, utilizando como laranja Fabrício Queiroz, ex-assessor de gabinete no período no qual Flávio Bolsonaro (PSL-RJ) era Deputado Estadual no Rio de Janeiro. Na época, o primogênito de Jair Bolsonaro afirmou que o MP-RIO acusava-o para atingir seu pai, recém eleito. Flávio Bolsonaro, no início do mês de outubro, conseguiu aprovar um pedido ao Supremo Tribunal Federal (STF) de paralisação das investigações em seus dados relativos ao caso Queiroz.
Em uma reportagem de maio de 2019 a revista britânica The Economist, realizou destaques na relação entre a família Bolsonaro e as milícias. Um tio de Michelle Bolsonaro, atual primeira-dama, foi preso por ter laços com milícias de Brasília. Além disso, Flávio Bolsonaro empregava em seu gabinete Raimunda e Danielle, mãe e esposa, respectivamente, de Adriano Magalhães da Nóbrega, um dos líderes do Escritório do Crime, grande grupo miliciano no Rio de Janeiro.
A relação de Bolsonaro com as milícias já foi alvo inclusive de menção aberta do atual presidente, que, quando ainda candidato, defendeu a existência destas como forma de extinção da violência em uma entrevista à Jovem Pan.
Apesar dessas menções, o procurador-geral da República, Augusto Aras, alegou não ter fundamento nas referências a Bolsonaro quanto ao caso de Marielle e Anderon, optando pelo arquivamento imediato do caso.
Ainda em viagem na Arábia Saudita na manhã de ontem, Jair Bolsonaro alegou que estaria em contato com o ministro da justiça Sérgio Moro, para que este recolhesse novo depoimento do porteiro. Além disso, em entrevista ao programa Brasil urgente, na manhã de hoje, Eduardo Bolsonaro declarou que caso haja críticas e radicalizações no país com relação ao atual presidente, poderia haver um retorno do AI-5, causando ainda mais revolta e comoção internacional.
Após as novas revelações do caso Marielle, atos estão sendo convocados pelo páis para o dia 5 de Novembro. Em São Paulo, um ato já ocorreu hoje em frente ao MASP.
Desde o início do Governo o Jair Bolsonaro e sua família estão envolvidos em diversos casos de desvio de dinheiro e relação com milícias. Qualquer indício de relação entre o atual Presidente com o assassinato de Marielle e Anderson é gravíssima, mas foi rapidamente arquivada pelo procurador-geral da república.