Flora Gomes – Redação UàE – 25/06/2020
A posição da reitoria da UFSC
Foi divulgado ontem (24) um pronunciamento do Reitor Ubaldo Cesar Balthazar, da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) acerca do destino das atividades de ensino na Universidade. Intitulado “A UFSC se prepara para um nova vida universitária”, o vídeo discorre sobre as investigações realizadas pelos Comitês e Subcomitês, caracterizando esse trabalho como “criativo e abrangente”, e que teria permitido toda a representatividade possível. Afirmou também que o comitê central já aprovou o relatório do comitê assessor.
Ubaldo declarou que certamente a partir do próximo mês as atividades de ensino retornarão em uma “nova normalidade” e assegurou que não haverão aulas presenciais enquanto houver pandemia, devendo ter prioridade o “ensino remoto”. A reitoria afirmou que irá garantir condições aos estudantes que não tem acesso às tecnologias necessárias.
No vídeo, Ubaldo não se pronunciou sobre a pesquisa institucional realizada pela UFSC na qual cerca de 35% dos estudantes não puderam responder. Algumas entidades, como a Associação de Pós-Graduandos da UFSC (APG-UFSC), pronunciaram-se acerca desses dados, alegando ausência de rigor metodológico bem como a impossibilidade de participação de membros da comunidade universitária que não têm acesso à internet ou equipamentos.
Segundo Ubaldo, o plano a ser desenhado será para no mínimo um semestre. Nesta semana o Prefeito de Florianópolis já havia anunciado restrição à circulação de pessoas e do funcionamento do comércio na capital devido ao aumento significativo do número de casos do novo coronavírus.
A instância que deve deliberar sobre as condições do retorno é o Conselho Universitário (CUn), com sessão marcada para a próxima sexta-feira (26). Entretanto, segundo o reitor, na sessão de amanhã ainda não serão votadas as resoluções. Essas devem ser tratadas em uma próxima reunião do CUn, que deverá ser convocada para a próxima semana.
A “volta ao novo normal” e a urgência do retorno
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Ainda que a perspectiva de calendário letivo represente um conforto a muitos estudantes que, frente à indeterminação dos últimos meses, não puderam se organizar a médio prazo, certas medidas anunciadas pela reitoria são alvo de preocupação.
No vídeo, Ubaldo destacou a necessidade de retornar às atividades da forma mais breve possível em um “novo normal”. Chama a atenção a urgência pelo retorno, posição semelhante à adotada por entidades ligadas aos interesses privados, como o FloripAmanhã e o jornal ND Mais, que não mediram esforços para interferir nas determinações das atividades na UFSC nos meses de pandemia. Além disso, nessa semana o Ministério Público Federal se manifestou, tensionando o retorno em modelo remoto na UFSC, fornecendo prazo de 30 dias.
Alguns pesquisadores importantes do campo educacional têm apresentado uma problemática nas formulações sobre a urgência de retorno e esse “novo normal”. A primeira diz respeito ao caráter específico da universidade e do porquê seria necessário retornar a todo custo à atividades regulares de ensino, tendo em vista ser quase um consenso os prejuízos pedagógicos do EaD (Ensino à Distância). Ao longo do vídeo o Reitor recorre ao uso do termo “ensino remoto”, o que tem sido utilizado em uma tentativa de expressar certa transitoriedade do fenômeno. Entretanto, o “novo normal” poderia permitir que processos já em curso e perigosos ao desenvolvimento acadêmico fossem incorporados nas universidades com mais força. Um deles, por exemplo, poderia ser a formação dos professores em plataformas de ensino remoto, defendida por Ubaldo no vídeo, e que representa um fator bastante relevante na precarização da atividade laboral nos últimos anos dessa categoria, tanto na educação básica quanto no ensino superior.