Foto: Xavier Donat/Flickr
Nina Matos – Redação UàE – 04/08/2020
Publicado originalmente em Universidade à Esquerda.
A Síndrome Multissistêmica Inflamatória Pediátrica (SMIP), que acomete crianças que pegaram o vírus Covid-19, foi descrita pela primeira vez em abril, no Reino Unido.
No último mês o Brasil começou a registrar seus primeiros casos da síndrome recém descrita. Isto ocorre em meio ao terrível contexto em que muitos estados planejam o retorno às aulas presenciais.
Apesar de rara e da baixa mortalidade (cerca de 1% a 2%), a SMIP ainda não conta com números oficiais no país, apesar de estar sendo relatada desde o início do mês passado.
Os sintomas envolvem febre alta e intermitente, erupções na pele, inchaços nos pés e mãos, conjuntivite, dores abdominais, diarreia, vômito e pode causar complicações na artéria coronária, o que pode levar a criança a óbito. Devido a gravidade do quadro, as crianças afetadas pela síndrome necessitam ser internadas em UTIs.
Por ser uma descoberta recente ainda há poucas respostas sobre a síndrome, bem como os cientistas ainda estão tendo diversas descobertas sobre o coronavírus.
Atualmente, casos confirmados de crianças e adolescentes com o Covid-19 se mantém em torno de 3,5%. Contudo, aqui no Brasil, devido a pouca quantidade de testes sendo aplicados não é possível saber com exatidão os índices reais de mortes e contaminações.
Um exemplo é o caso relatado pelo jornal Estadão, em que a criança só foi testada quando apresentou a síndrome. Na família apenas a mãe continuou com o trabalho presencial, enquanto a criança e o pai estavam em isolamento social.
Como a síndrome foi descrita recentemente muitos casos ainda podem passar subnotificados, seja pela falta de testes ou pela própria dificuldade do diagnóstico, do conhecimento dos profissionais de saúde que estiverem envolvidos no caso.
A volta às aulas para a educação básica
Muitos estados, com base no protocolo publicado pelo Ministério da Educação (MEC) e no discurso da nova normalidade, já voltaram as aulas presenciais ou estão em planejamento, mesmo que isto signifique a morte de várias crianças.
Em muitos estados também houve pressão por parte de sindicatos ligados às escolas privadas para o retorno presencial, alegando que já estão preparados para garantir as medidas de segurança previstas nos protocolos.
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Entre os defensores da retomada presencial do ensino, um dos argumentos é a indefinição que a pandemia gera. O que justificaria retornar à normalidade seria a imprevisibilidade de quando existirá uma vacina e de quando estaremos imunes ao Covid-19.
Contudo, a indefinição que deveria motivar as políticas sanitárias é a indefinição do comportamento desse vírus. A ciência não é construída da noite para o dia e demanda investimento.
A descoberta dessa síndrome e os primeiros casos relatados em nosso país salientam que esse discurso de “novo normal” é, na verdade, lançar à própria sorte cada pessoa que retorna para o convívio social em atividades como ensino ou trabalho.
Para garantir a vida e a saúde de todos o isolamento social precisa ser a regra. Ao contrário do retorno, deve-se promovê-lo como a única medida que resguarda a vida no momento. Menos que isso somente nos levará ao prolongamento da pandemia e da continuação desse número absurdo de contaminados e mortos.