Marcos Corrêa/ Imagem Licenciável

[Notícia] Sob pressão, Bolsonaro realiza seis trocas ministeriais em apenas um dia 

Com o aprofundamento da crise sanitária e econômica,  o Presidente realiza mudanças nas pastas

Flora GomesRedação UàE – 30/03/2021

Poucos dias após o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP), aliado de Jair Bolsonaro (Sem Partido), haver pressionado o presidente, o chefe do Executivo realizou a troca de titularidade de seis cargos em ministérios no dia de ontem (29). Além disso, houve mudanças no comando da Advocacia-Geral da União (AGU) e na Secretaria de Governo da Presidência da República. 

As mudanças ocorreram após líderes do centrão expressarem o descontentamento de alguns setores da burguesia com a gestão das mortes no Brasil, posto que  têm defendido a importância da vacinação em massa para o enfrentamento da crise econômica. Mais de 500 economistas, banqueiros e empresários do país – como Roberto Setubal, Pedro Moreira Salles e Pedro Parente – haviam assinado uma carta aberta no último dia 21. Nesta, o empresariado defende o uso de máscaras, a aceleração da vacinação e o isolamento social com auxílio emergencial. Isso porque, para eles, “não é razoável esperar a recuperação da atividade econômica em uma epidemia descontrolada”. Essa postura mais rígida de setores da burguesia expressa que o cálculo macabro feito por esses durante toda a pandemia, no qual diversos trabalhadores foram deixados para morrer em nome da manutenção da atividade de diversos setores não essenciais, acabou pendendo demais para um dos lados. A aposta na insensibilidade perante as mortes encontra um certo limite tanto no sistema funerário quanto na própria economia, uma vez que não há dicotomia entre esta e a vida. Essas políticas defendidas hoje ferrenhamente por parte influente do empresariado brasileira foram, durante diversos momentos da pandemia, desenhadas  abertamente pelo Presidente.

Com receio de perder apoio do Congresso para as eleições de 2022, Bolsonaro primeiramente realizou a troca do Ministro da Saúde, Eduardo Pazuello. Este último ainda pode receber sanções por conta de sua conduta perante a crise sanitária enfrentada por Manaus. Com a perda do foro privilegiado, o caso será julgado pela Justiça comum do Distrito Federal. O atual ocupante do cargo é o cardiologista Marcela Queiroga – o quarto ministro da saúde desde o início da pandemia. 

No Ministério da Defesa, o general Fernando Azevedo e Silva, até então ocupante do cargo, foi demitido após alguns atritos com o presidente. Em uma carta, agradeceu Bolsonaro e afirmou que, durante seu mandato, buscou preservar as Forças Armadas como instituições de Estado. Essa declaração foi feita pois, segundo auxiliares de Azevedo, o presidente tentaria tratar o Exército como uma instituição à serviço de seu governo. Segundo alguns membros da corte, quando Bolsonaro buscava incitar membros do Exército para solucionar crises políticas, era Azevedo quem mediava a relação com os ministros, assegurando que a Constituição seria respeitada. Para substituir o ex-Ministro, Walter Souza Braga Netto, que estava ocupando a Casa Civil, foi nomeado Com ele, o chefe do executivo possui laços mais estreitos. 

Hoje, o Ministério da Defesa também anunciou a saída dos três comandantes das Forças Armadas (Exército, Marinha e Aeronáutica): Edson Pujol, Ilques Barbosa e Antônio Carlos Moretti Bermudez. O motivo da saída não foi informado. Esta foi a primeira vez desde 1985, momento posterior à ditadura empresarial-militar, que os comandantes das três forças deixam o cargo ao mesmo tempo sem que a mudança esteja diretamente relacionada com a troca de Presidente. Na grande mídia, circula a notícia de que um general da reserva enxergou este movimento como uma tentativa do presidente de exercer mais influência nos quartéis.

Essa mudança realizada ontem afetou diretamente a Casa Civil da Presidência da República. Com Walter Braga Netto ocupando o Ministério da Defesa, entra Luiz Eduardo Ramos, que ocupava a Secretaria de Governo e possui titulação de General no Exército brasileiro. Já o cargo da Secretaria foi dado à deputada federal Flávia Arruda (PL), nome que pode mediar a relação do executivo com o centrão na Câmara.

O Ministério da Justiça e Segurança Pública também sofreu alterações. Até então, a vaga era ocupada por André Mendonça, que assumiu o lugar do ex-juiz Sergio Moro em 2020. Mendonça passa a assumir a Advocacia-Geral da União. Anderson Torres, delegado com relações estreitas com a direção da Polícia Federal, passa a dirigir a pasta. Ele é uma figura bastante próxima da família do presidente, inclusive de Flávio Bolsonaro (Republicanos), que é investigado no caso das rachadinhas no gabinete da Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (Alerj). Este caso retornou à grande mídia recentemente, após uma compra suspeita pelo filho 01 de uma mansão no valor de R$ 6 milhões. A compra teria sido feita para lavar o dinheiro do esquema, que também envolvia uma loja de chocolates, no Rio de Janeiro.

Por fim, uma mudança bastante esperada pelo centrão foi a saída de Ernesto Araújo do Ministério das Relações Exteriores. O ex-ministro vinha sofrendo sanções do Congresso devido às suas características pouco diplomáticas, sobretudo durante a pandemia. A vaga foi ocupada por Carlos Alberto Franco França, que já trabalhou nos governos Fernando Henrique Cardoso, Dilma Rousseff e Michel Temer. 

Não foram as primeiras mudanças realizadas pelo executivo desde o início de seu mandato. Aliás, diversas  foram feitas diversas. Por um lado, poucas figuras políticas estão dispostas a administrar tamanha crise – sanitária e econômica -, que se aprofunda no país. Por outro, as características pouco republicanas de Bolsonaro que podem ser convenientes à burguesia em determinados momento, tensionam o caráter instável da conjuntura brasileira desde o início de seu mandato. Bolsonaro, em meados do ano passado, optou por realizar um pacto com o centrão e manter os acordos mais próximos ao que tipicamente ocorre no regime brasileiro, com a troca de favores obscena entre os poderes. Entretanto, com a gestão mortífera proporcionada até então, o acordo precisou ser refeito e Bolsonaro acena novamente à burguesia e ao Congresso. 

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