Ocupamos e agora? Uma contribuição para uma reflexão estratégica do movimento universitário.

Editorial UàE – 21/11/2016

As ocupações de escolas e universidades tem se constituído como um importante instrumento dos estudantes na luta por direitos. Recentemente no Brasil essa forma de manifestação, já tradicional nas fileiras da esquerda, ganhou força com as ocupações ocorridas nas escolas estaduais de São Paulo em 2015 contra a reestruturação do sistema da rede educacional estadual. Foram quase 2 meses de ocupações e cerca de 196 escolas ocupadas. Com estas ações os estudantes conseguiram o recuo da proposta e o afastamento do então secretário de educação.

Já em outubro deste ano, o movimento secundarista do estado do Paraná demonstrou grande disposição ao chegar a ocupar cerca de 869 escolas no estado. As ocupações no Paraná iniciaram contra a Reforma do Ensino Médio incluindo em suas pautas as questões da PEC 55 (Senado) e do projeto escola sem partido. A luta contra estas medidas fizeram as ocupações e espalharem por todo país e houve momentos com mais de 1200 instituições, entre escolas secundaristas, universidades e institutos federais ocupados.

As universidades, ainda que timidamente, também começaram a se mobilizar. Várias passam por processos de ocupação contra as medidas que precarizam ainda mais a vida do trabalhador. Aqui na UFSC, no início de novembro, estudante do CFH e do CED decidiram pela ocupação em seus centros, logo outros centros passaram a realizar assembleias que deliberaram por ocupações. Na última semana as ocupações se fortaleceram e se espalharam pela universidade. Alguns centros de ensino ocuparam, outros paralisaram suas atividades acadêmicas e alguns outros se engajaram em atividades de mobilização para construção de ocupações. Nesse momento além de CFH e CED, estão ocupados o Colégio de Aplicação, o CCE, CCB, e no CSE e no prédio da Arquitetura no CTC os estudantes ocupam sem paralisar as atividades acadêmicas. No CDS, CCJ, CCS, CCA e demais campi, há atividades de mobilização, com o objetivo de construir coletivamente a discussão sobre a atual conjuntura.

Nesse sentido as ocupações de escolas e universidades tem tido um importante papel, trazendo discussões importantes à tona e tirando a vida acadêmica do marasmo a que tem tendido. Os estudantes trazem um novo vigor para a luta, mostrando aos professores e TAEs que ainda há motivação para lutar por uma vida digna para todos. É possível ainda sonhar e construir juntos um outro projeto coletivo.

Entretanto, ao mesmo tempo que a força das mobilizações cresce, as perseguições e a repressão também têm se mostrado de forma mais evidente e descarada. Da mesma forma que muitos estudantes secundaristas sofreram ameaças e perseguição de grupos conservadores, repressão do aparato policial – inclusive com aval da justiça para utilização de técnicas de tortura; aqui na UFSC vemos a violência se estabelecer como forma de combater a luta dos estudantes.

Vimos na última semana um caso grave e inaceitável de agressão do pró-reitor de Graduação a estudantes da ocupação do CCE. Além de acompanharmos crescentes ameaças de grupos violentos de estudantes, que investem nas provocações para causar confusão e intimidar os ocupantes, e quem quer que ouse se manifestar contrário à ordem burguesa estabelecida. As ameaças culminaram com a triste situação de agressão ocorrida no CSE na última sexta, dia 18 de novembro.

Nesse ínterim, a ocupação que estava ocorrendo na UDESC teve reintegração de posse efetuada com grande aparato policial, também a ocupação do IFSC Bilíngue em Palhoça sofreu com desligamento de energia e posterior reintegração.

A força do aparato repressivo do Estado capitalista tem mostrado sua cara aos movimentos estudantis e na última semana, estudantes que indagaram ao Reitor da UFSC sobre sua postura em relação ao pró-reitor que agrediu estudantes, tiveram a resposta vaga e capciosa de que os fatos serão apurados. Enquanto o reitor demonstra conivência com atitudes violentes, mantendo o pró-reitor de férias para abafar a situação – quando este deveria ser imediatamente exonerado de seu cargo. O Reitor ainda garantiu que se necessário irá usar o artificio da reintegração de posse com a justificativa de garantir que o vestibular ocorra.

Diante desse cenário que, que reacende a esperança de muitos na mobilização da juventude é preponderante realizarmos uma reflexão estratégica – para que o fogo de nossa indignação e nosso entusiasmo com as lutas não se encerre em si mesmo. Precisamos, juntos, pensar os limites e as possibilidades das ocupações estudantis, das mobilizações de nossa comunidade universitária.

Qual o horizonte das ocupações? É claro que elas tem um papel fundamental. Conseguem mobilizar e permitir aos estudantes uma construção coletiva, e também mostrar aos professores que a vida não pode apenas seguir seu ritmo normal diante de tantos ataques. Que precisamos parar e conversar para criar estratégias conjuntas para resistir a estes ataques e traçar novos laços para a luta presente e vindoura.

No entanto, a constante ameaça repressiva as nossas lutas e a fragmentação produzida em nossa classe na última década tendem a se expressar entre nós para impedir que nossas mobilizações avancem quantitativamente e qualitativamente. As medidas, sempre necessárias, de segurança nos movimentos e a luta interna contra os setores conservadores em nossos segmentos e categorias podem muitas vezes nos encerrar num constante movimento centrípeto e nos fazer perder de vistas os caminhos que podemos tomar para ampliar nossas forças e apostar concretamente em nossa vitória. Neste momento, nossa classe sofre um profundo ataque – que corroe objetivamente as condições de vida, estudo e trabalho. O Capital age de forma organizada no governo Temer e empurra esse conjunto de medidas pelas vias dos três poderes do Estado – tendo como eixo central de seu projeto a PEC 55, que congela o orçamento federal por dez anos, renováveis por mais dez.

Precisamos refletir o que podemos fazer para barrar essa PEC e este conjunto de medidas, para enfrentar este governo ilegítimo e o Capital que se arvora contra os trabalhadores, o que podemos fazer para construir outro futuro no qual a vida não seja encapsulada na forma mercadoria. Qual contribuição nossas lutas, de cada categoria, de cada segmento, podem dar para a luta da classe trabalhadora? Qual contribuição a luta da comunidade universitária pode dar a luta da nossa classe?

Na UFSC, vários centros foram ocupados e tem construído um conjunto de atividades que amplia a formação política de todos, mobilizando e capacitando para a luta a seguir.  É necessário, entretanto, que as ocupações em cada centro de ensino possam também se expandir para fora. Que se articulem entre si e com outros setores da universidade para se fortalecerem e alcançarem a comunidade externa. Para assim poder criar um movimento mais coletivo e garantir uma ação ainda mais contundente na universidade e fora dela.

Dia 25 é um dia de paralisação geral no país, muitos até agora esperaram a força dos estudantes para se mobilizarem, chegou a hora de dar a resposta à altura da coragem dos estudantes. Os docentes em luta, a partir de amanhã, realizam um ato de bravura frente ao imobilismo de seus pares – acampam na praça da cidadania. Trabalhadores em geral, TAEs, docentes e estudantes precisamos ainda pensar caminhos conjuntos para radicalizar nossas lutas e canalizarmos nossas forças para a vitória de nossa classe. Nos coloquemos lado a lado!

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