Foto: Alan Santos/PR
Gustavo Bastos e Beatriz Costa – Redação UàE – 25/03/2020
Hoje, na manhã após o pronunciamento de Bolsonaro em cadeia nacional, o gabinete do ódio estava a todo vapor, espalhando informações falsas, incentivando as pessoas a romperem a quarentena, e espalhando informações de que a cloroquina, medicamento com inúmeros efeitos colaterais graves e que já causou a morte de um homem nos EUA e a hospitalização de sua esposa, seria eficaz para a cura do corona vírus, sendo que sequer há estudos que demonstrem a sua eficácia e segurança.
Não dá sequer para confiar nos números e estatísticas que temos disponíveis, além da subnotificação já prevista, pelos testes realizados só em pacientes que dão entrada no hospital com quadro de saúde já complicado, aparentemente alguns casos suspeitos também estão sendo registrados nos sistemas como mera “síndrome gripal”, como mostra a notícia publicada pelo UOL[1]. E como se não bastante, a suspensão da lei de acesso a informação, contida na medida provisória de Bolsonaro, acaba por impedir que jornalistas, pesquisadores e a sociedade tenham acesso a informações importantes sobre o que acontece com o país.
O governo federal tem se isentado de qualquer responsabilidade sobre o destino da vida de milhares de brasileiros. Paulo Guedes, o ministro da economia foi um dos primeiros que debochou dos riscos que correm os brasileiros, para ele as contrarreformas que quer aprovar dariam jeito em qualquer vírus, o essencial mesmo é que o governo pare de “gastar”. As contrarreformas de Paulo Guedes ampliam as péssimas condições da economia para os trabalhadores, ampliam o subemprego, o trabalho intermitente, a desigualdade social. Para Paulo Guedes e todo o governo de Bolsonaro a economia vai bem quando os empresários estão enchendo seus bolsos de dinheiro.
Nenhuma medida de maior impacto foi adotada pelo governo federal para a proteção dos trabalhadores e da população em geral, o voucher para informais de 200 reais mensais (que agora são 300), não passa de uma piada e não cobre o básico. As companhias aéreas já receberam mais ajuda que os trabalhadores brasileiros. Sem proteção alguma, a política de segurança sanitária, para evitar a contaminação pelo vírus, não funcionará.
A saúde de milhares de brasileiros depende de ações do governo federal. É certo que neste momento, com o isolamento da maioria das pessoas, a atividade econômica vai diminuir e com isso a renda de muitos trabalhadores, micro e pequenos empresários vai desaparecer. Sem uma ação contundente do governo federal, como pagar parte dos salários dos que hoje não conseguem trabalhar, de suspender a cobrança das contas de energia, água, gás, aluguel, e alimentação, a quarentena e o confinamento para a proteção contra o vírus não poderão continuar por muito tempo. Os brasileiros estarão em risco e muitos estarão de luto pela perda de familiares, amigos e conhecidos.
Os pesquisadores alertam que o número de mortes no Brasil pode chegar na casa do milhão caso não se tome medida alguma, e o que funciona é o isolamento total, como mostram as experiências internacionais. Talvez ainda possamos achar que aqui é diferente, que nossos números estão melhores, que nosso clima (sic) é outro, mas não se enganem, muitos brasileiros vivem em condições precárias, em favelas, muitos sem saneamento básico, problemas já superado pelos países europeus, e essas diferenças nos tornam muito mais vulneráveis, não ao contrário.
Não se trata apenas de Bolsonaro, mas do conjunto do governo. Mesmo durante a crise os ataques a educação e a pesquisa continuam, o ministério da economia espera que o mercado se resolva sozinho – não importa se isso custará a vida de 5 ou 7 mil brasileiros, como diz o dono da lanchonete Madero, o velho da havan e tantos outros que apareceram no dia de hoje espalhando vídeos criminosos pelo whatsapp. É por isso que Bolsonaro e toda a sua corja precisa cair. O velho da havan precisa cair. Os empresários que acham “OK” 5 ou 7 mil brasileiros morrerem precisam cair. Toda a burguesia, que suga toda e qualquer riqueza que aqui os trabalhadores produzem (e ainda vão para os jornais e televisão se auto intitularem “de classe produtiva”) precisam cair. Esses, que querem lucrar com a morte de milhares de brasileiros precisam pagar, precisam pagar imposto sobre suas fortunas, imposto sobre resgate e transferência de lucro, sobre as grandes heranças.
Não se pode, entretanto, abrir espaços para oportunistas de momento, como João Dória, Romeu Zema, Carlos Moisés e tantos outros que ainda vão aparecer como salvadores, como responsáveis, como os equilibrados que tem a competência e a coragem de nos liderar nesses momentos de crise. É preciso ter muito claro, não podemos e não devemos confiar nesses que jogam com as nossas vidas para atingir suas ambições pessoais, nos que são ligados a mesma burguesia, que não se importa com 5 ou 7 mil mortos. Nosso objetivo deve ser o de construir uma verdadeira democracia, o socialismo.
[1] https://noticias.uol.com.br/saude/ultimas-noticias/redacao/2020/03/23/casos-suspeitos-registrados-como-gripe-em-favela-do-rio-denunciam-medicos.htm
