Imagem: Roda de Bicicleta, 1913; Duchamp;

[Opinião] Congresso da UFSC: eles não sabem o que fazem e ainda o fazem

Imagem: Roda de Bicicleta, 1913; Duchamp

Caio Sanches* – Redação UàE – 10/04/2019

As duas últimas reuniões do Conselho de Entidades de Base (CEB), que reúne os Centros Acadêmicos (CAs) e o Grêmio do Colégio de Aplicação da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) dedicaram-se exclusivamente a debater o Regimento do Congresso Estudantil da UFSC.

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A demanda legalista e burocrática, de atualização do estatuto para acesso à conta bancária do DCE,  tem sido utilizada pela atual direção do Diretório Central para justificar a necessidade de realização do congresso. Mesmo assim, há algum esforço da gestão do DCE para buscar trazer alguma proposta política que justifique a mobilização de todo o corpo estudantil para participação do Congresso, instância máxima de deliberação estudantil.

Nos últimos CEBs, a adaptação estatutária sequer foi colocada propriamente  em evidência. Desviaram-se assim os olhos da causa primeira do surgimento do Congresso, por meio de esforços dos membros ativos do DCE em nome de fornecer algum sentido político para a comunidade acadêmica.

Em um primeiro olhar, a causa parece justa: transformar um processo burocrático em político. Entretanto, o DCE sequer tem conseguido fundamentar suas justificativas políticas para a realização do Congresso. Se a causa desse grande evento é burocrática, talvez fosse mais honesto com a comunidade estudantil que ela fosse colocada em evidência para, a partir daí, serem dados os seus sentidos políticos e consequentes resoluções. Na busca de mascarar politicamente o legalismo do Congresso, o DCE tem perdido suas fundamentações.

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Na última reunião do Conselho (CEB), ocorrida na segunda-feira 8 de abril, discutiu-se sobre o funcionamento do congresso e as atividades que serão realizadas no seu transcorrer. A direção do DCE propôs a realização das mesas 1) “Política de ações afirmativas, cotas raciais e permanência estudantil”; 2)” Arte, cultura e esporte”; 3) “Combate às opressões no ambiente universitário”; 4) “Democracia e autonomia universitárias e o tripé ‘ensino, pesquisa e extensão”. Os CAs questionaram esta proposta – o que teria levado o DCE a escolher estes temas frente a atual conjuntura.

A primeira resposta dada pelos membros do DCE foi afirmar que seus membros acreditam que são temas importantes. Oras, é o mínimo e o pressuposto de uma proposta: que aqueles que a façam, considerem-a relevante. Pressionados mais uma vez pelos estudantes, sustentaram que, explicar o porquê desses temas, seria fornecer uma tese, logo, não caberia naquele espaço. Mais uma vez fizeram afirmações que parecem menosprezar as capacidades cognitivas dos membros presentes.Ter em conta a análise conjuntural que sustenta uma proposta na maior instância de deliberação estudantil, é o mínimo que exige-se como garantia para que o movimento político do Congresso não torne-se mera expressão de desejos individuais ou grupos, mas que seja um dado de realidade compartilhado que permita construir saídas políticas coletivas. Por último, mas não menos absurdo, após mais uma expressão de descontentamento com a resposta, o DCE afirmou que a justificativa para essas mesas está na sua carta programa. Ou seja, seus membros desejam que a comunidade estudantil mobilize-se afirmando que sua carta programa justifica o próprio conteúdo do Congresso. Sequer são capazes de considerar as transformações políticas ocorridas após sua eleição, ou levar em conta os aspectos conjunturais contemporâneos. É uma vergonha que as discussões políticas não possam  avançar para além das abrangentes e vagas colocações da carta programa da Gestão Canto Maior.

O reflexo dessa inconsistência política é notada pelos ares universitários. A grande maioria dos estudantes da UFSC não sabem o que é um Congresso Estudantil e que ele está em vias de ocorrer. Não há lastro político que o justifique e o DCE não tem se mostrado capaz de construí-lo. Parece-me que os membros do DCE não sabem o que fazem com esse Congresso, mas ainda assim o fazem e, pior, convidam a comunidade estudantil para fazê-lo coletivamente.

*O texto é de inteira responsabilidade do autor e pode não refletir a opinião do Jornal.

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