Foto: Reitor Ubaldo Balthazar e Ministro Gilberto Kassab em assinatura de termo entre UFSC, MCTIC e ACATE. por Divulgação de Ubaldo Balthazar
José Braga*– Redação UàE – 26/04/2018
De acordo com a Agência de Comunicação da UFSC (AGECOM), na manhã desta terça, 24 de abril, o Ministro da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicação visitou o departamento de engenharia mecânica da UFSC. Além do conjunto de professores do departamento, a visita contou com a presença do reitor Ubaldo Balthazar, do pró-reitor de pesquisa Sebastião Soares, do diretor do Centro Tecnológico Edson de Pieri, do ex-reitor e secretário do MCTIC Alvaro Prata. O objetivo da visita era o de “fortalecer vínculos”, “renovar a disposição a novas parcerias”.
Na visita, conforme relata a AGECOM, os presentes exaltaram o perfil do departamento:
“Já o diretor do CTC, Edson De Pieri, ressaltou a vocação do departamento em incentivar a inovação e empreendedorismo. A atuação da Embrapii [empresa brasileira de pesquisa e inovação industrial] na UFSC foi lembrada pelo professor Carlos Alberto Schneider, que também falou do perfil dos estudantes que se formam no departamento para depois montar start ups e grandes empresas bem-sucedidas.”
“Prata enalteceu o trabalho do EMC com ensino e pesquisa e disse que o departamento “é uma célula ímpar do Brasil que vale a pena”. “A área de Ciência e Tecnologia segue com a sua direção bem definida. O país quer focar nas áreas de excelência, há um esforço muito grande de criar um fundo privado para atender os programas de excelência. É uma pauta muito grande, e o país avançou muito mas agora precisamos nos diferenciar, buscar competência e excelência em nível internacional e a área de engenharia mecânica é particularmente forte”, ressaltou Prata.”
Prata não escamoteia o que vale a pena na concepção do ministério na produção de ciência e tecnologia: a conversão da produção do conhecimento em inovação, empreendedorismo, pesquisa e desenvolvimento de processos e produtos. Kassab, por sua vez destacou o empréstimo que o governo deve fechar com o BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento) que deve injetar cerca de U$ 1,5 bilhão em ciência. O ministro tampouco esconde os interesses que agencia no interior do ministério. Diz ainda, que pouco importa possíveis alterações no governo com a eleição de outubro, pois o ministério é de “Estado” e os projetos devem continuar. O ministro, ciente ou não disso, vocaliza o empresariado brasileiro: ainda que tudo mude, nada muda. Nada mais expressivo de como pensa nossa burguesia em relação a consecução de seus interesses.
A notícia produzida pela AGECOM evidencia como pensa um amplo setor de nossa universidade. Dentre o material chama a atenção a pergunta que abriu o debate proferida por um professor do departamento: “como podemos [o EMC] trabalhar com o MCTIC em prol das ações e políticas planejadas para os próximos anos?”
Pergunto eu: o que esta pergunta fala sobre a Universidade? Estamos subservientes às “ações e políticas planejadas”? Subservientes aos interesses privados (agenciados diretamente nas parcerias com as empresas, ou por entes do Estado, seus ministérios e agências)? Prestamos serviços ou produzimos e socializamos conhecimento? Que conhecimento potente pode efetivamente ser produzido se estamos atrelados às “ações planejadas”? Que liberdade para fazer avançar criticamente o conhecimento podemos ter? O que resta de Universidade nesta posição?
É preciso lembrar que tampouco é a primeira vez que Kassab tem um significativo encontro com nossa instituição. Em 7 de março, na ACATE (Associação Catarinense de Tecnologia), o reitor Ubaldo Balthazar esteve com o ministro para assinar um termo de execução descentralizada que vai colocar R$4,4 milhões de reais no projeto “Promoção e Fortalecimento do Ecossistema de Inovação e Operacionalização do Centro de Inovação Regional de Itajaí” – em que a UFSC terá espaço num HUB “conector para promover a disseminação da cultura de inovação, geração de empregos, capacitação dos atores dos habitats de inovação, empreendedorismo, aceleração de startups, incubadoras, atração de investidores e corporate venturing.”
Kassab escolheu uma UFSC para visitar e estreitar os vínculos do ministério. Uma UFSC em que o conhecimento é muito pouco além de inovação e empreendedorismo, instrumento de melhorias de processos, produtos e serviços. A UFSC que a reitoria tem colocado suas fichas.
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