[Opinião] O Novo campus da UFSC em Joinville e o Futuro da Universidade: afinal, quem decide quais sementes plantar?

Marcos Meira para UàE – 09/03/2018

No último dia 5 de março, a UFSC inaugurou as instalações do campus de Joinville dentro do complexo industrial da cidade. Os três edifícios que abrigam o novo campus foram construídos em apenas oito meses no parque industrial que abriga 150 empresas de vários setores – eletroeletrônico, plástico, químico, metalúrgico, construção civil, tecnologias da informação e prestadores de serviços. De acordo com o Grupo Perini, O Perini Business Park é o maior condomínio multissetorial do Brasil. Com mais de 2,8 milhões de metros quadrados de terreno, no coração do Distrito Industrial de Joinville, Norte de Santa Catarina, o Perini abriga dezenas de empresas nacionais e multinacionais, de pequeno, médio e grande porte.

O reitor pro tempore, Ubaldo César Balthazar, discursou no evento de inauguração das novas instalações da UFSC e afirmou que “aqui é a semente de um novo modelo institucional que começamos”, além de homenagear o ex-reitor Luiz Carlos Cancellier de Olivo por tomar as decisões políticas e administrativas que levaram a realização do acordo para a construção do campus.

Apesar de estarmos fatigados de noticias como essas, é preciso por vezes superar nosso esgotamento para indagarmos quem e em quais circunstâncias se faz esse “novo modelo institucional”. Afinal, em qual momento nós debatemos os rumos estratégicos da Universidade Federal de Santa Catarina e decidimos que esse modelo de inserção da universidade pública dentro dos empreendimentos de construtoras e indústrias seria o melhor caminho?

Insistir em questões como essas pode nos revelar como a falsa aparência de democracia universitária vem configurando caminhos irremediáveis na identidade da nossa universidade. A maioria de nós passa consideráveis anos estudando nessa instituição, enquanto outros, servidores, trabalham por 25-35 anos na instituição. Não deveriam essas pessoas serem ouvidas sobre os rumos tomados por sua alma mater?

Mas em que momento em meio as dezenas de afazeres diários, compromissos institucionais, procedimentos administrativos, aulas e mais aulas, poderíamos suspender um pouco a pregnância dos afazeres cotidianos para escolher o destino estratégico dessa que é uma das instituições educacionais mais robustas de nosso país?

Minha compreensão é a de que espaços como esses seriam imprescindíveis na própria vida institucional, mas como não estamos já vivendo a utopia no presente, ao menos seria de esperar que o momento das eleições para reitor deveria oferecer o palco para que assuntos como esse fossem tratados com a devida seriedade. Vejam, estamos justamente em período eleitoral e o prof. Ubaldo é candidato ao cargo de dirigente máximo de nossa instituição. Se ele tem certeza de que essa é a semente de um modelo para o futuro de nossa universidade, porque não colocou isso em questão no debate de sua candidatura? Por que os outros candidatos não colocam em questão se esse é mesmo o referente universal através do qual a identidade da UFSC será moldada pelas próximas décadas? Concordariam todos eles, essa “semente” é o nosso único destino?

Tudo até então leva a acreditar que essas eleições estão mornas. Com exceção do mérito de ter trazido à baila duas questões importantes: a redução da jornada de trabalho dos TAEs e a urgente ampliação de vagas nas moradias estudantis; todos os debates colocados pelas candidaturas orbitam em torno dos aspectos mais superficiais da UFSC. Diga-se de passagem, a despeito da importância fundamental desses dois temas, é forçoso reconhecer que a redução da jornada de trabalho e a ampliação de políticas de permanência estudantis podem acontecer tanto em um modelo institucional, como em outros. Não por acaso a maior ampliação de vagas na moradia estudantil ocorreu em uma gestão estreitamente afinada com os interesses empresariais – a gestão do prof. Álvaro Prata, e as 30 horas foi posta embaixo do tapete pela gestão, considerada progressista por muitos setores de nossa universidade, da profa. Roselane Neckel. Nada disso diminui a importância das duas pautas, como procurei destacar, apenas evidenciam que os debates, ao que tudo indica, não suscitam uma discussão aberta sobre aquilo que talvez seja mais importante quando pensamos na UFSC que teremos em 20 ou 30 anos: qual o modelo de universidade que o país necessita?

É nesse sentido que o papel da denúncia se torna razoável: a verdade é que todos os modelos universitários, todas as decisões verdadeiramente estratégicas passam ao largo dos debates abertos e democráticos com sua comunidade universitária e com a sociedade catarinense. Essa atitude fatalmente antidemocrática, e que se instalou como normalidade em nossas consciências, procura camuflar que, se nós não estamos sendo indagados sobre qual universidade queremos é porque outros estão ocupando o nosso lugar.

Nas últimas eleições para a reitoria, não tivemos a oportunidade de escolher se o reitor deveria procurar, ou aceitar ser procurado, pelo Grupo Perini – ou por qualquer outro que tenha tido acesso fácil às políticas decisivas sobre os rumos da UFSC. A questão que se coloca hoje, em meio às novas eleições, é se haverá espaço para sermos indagados – ou se teremos nós a coragem de nos fazer ouvir sobre nossos próprios destinos.

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