Foto: UFSC à Esquerda
Por Maria Alice de Carvalho da redação do UàE – 10/04/2018
Na tarde desta segunda-feira, 09/04, os estudantes da UFSC se reuniram em ato, ecoando pelos centros de ensino da universidade que a moradia estudantil, diferente de ser um favor concedido pela reitoria, se caracteriza na verdade como uma política de permanência de direito de todos os estudantes e que, nas condições de nos estar sendo negado este direito, os estudantes lutarão por ele.
O ato que promoveu na tarde de ontem conversas na fila do RU e que tirou estudantes de sala de aula para presenciar manifestações no hall de alguns centros, teve como objetivo levar até aqueles que até então se encontravam ausentes do debate, as condições insalubres nas quais se encontra a Moradia Estudantil da UFSC: infestações de ratos pelos prédios, vazamentos, goteiras, chuveiros queimados e instalações de gás com risco de explosão.
Ainda, para além das questões emergenciais e que colocam em risco a vida dos estudantes que habitam a Moradia Estudantil, é trazido pelo movimento que esta política de permanência, tão importante, abrange apenas pouco mais de 0,5% da categoria dos estudantes: há, num escopo de mais de 30 mil estudantes, apenas 167 vagas na Moradia Estudantil da UFSC, se caracterizando assim como a menor oferta de moradia estudantil das Universidades Federais do país.
O ato de ontem que reverberou as questões aqui trazidas faz parte de um conjunto de ações organizadas pelo movimento de luta pela moradia estudantil que vêm se intensificando desde o início desse ano. Dentre as ações dos estudantes, houveram duas audiências públicas com a reitoria e a PRAE reivindicando que tanto as demandas emergenciais quanto o preenchimento das vagas ociosas sejam atendidos e tratados como prioridade pela atual gestão da reitoria. Para além das audiências, o movimento vem aos poucos se mostrando mais presente na vida dos estudantes e da comunidade, seja através de manifestações ou de materiais informativos distribuídos.
O Movimento de luta pela moradia estudantil que vem se consolidando abrange integrantes do DCE, moradores da Moradia Estudantil, integrantes do Movimento Negro e ainda outros estudantes que se sentem implicados pela pauta, mas, o mais importante, é que esse movimento que encontra sua maior força no interior da própria moradia trata de uma pauta que apesar de há tanto tempo deixada de lado pela reitoria, é de extrema importância para todos os estudantes da nossa universidade, e que diante disso, se continuar mobilizando e trazendo o debate para aqueles que se encontram alheios a essa questão, é capaz de um alto potencial. É um movimento que surge para mostrar que apesar da atual situação política na qual se encontra a nossa universidade, é possível se atentar para as questões mais importantes e unir forças para a construção de uma luta legítima.
É importante atentar-nos ao fato de que a moradia estudantil afeta diretamente a vida de todos nós estudantes, e que assim como trouxe o próprio ato de ontem em suas palavras de ordem, não se caracteriza como uma concessão da reitoria, nem tão pouco é uma política para poucos, ela diz sobre todos nós; a garantia de moradia, principalmente se esta se encontrasse dentro do campus universitário e em condições dignas de vida, é essencial para a produção e investigação científica universitária e para uma formação de qualidade.
Uma política de moradia estudantil é, também, uma política para o preço do aluguel dos imóveis no entorno da UFSC. Quando a reitoria não tem uma política de moradia que cumpra com a sua função efetivamente, acaba por empurrar os estudantes para as imobiliárias que, diante da alta procura de imóveis, acabam por elevar os preços.
Os estudantes da UFSC se encontram hoje ou pagando por um aluguel absurdo para se manter próximo a universidade ou sem ter onde morar; já no caso dos estudantes que conseguem garantir sua vaga na moradia, esses experienciam da maior prova de descaso da reitoria com a permanência: as condições desumanas nas quais precisam sobreviver.
Durante o ato de ontem, quando passavam pelo Centro de Ciências Tecnológicas – CTC, os estudantes foram totalmente ignorados pelo atual Pró-Reitor e candidato à reitoria, Ubaldo Cesar Balthazar; como se sua atual gestão e candidatura já não tivessem escancarado o suficiente o descaso com o qual trata as questões estudantis, Ubaldo conseguiu nesse episódio de ontem demonstrar que, de fato, a reitoria negligencia totalmente a moradia estudantil e as questões de permanência.
Esse movimento que vem ganhando corpo dentro do movimento estudantil e as pautas como moradia e restaurante universitário – pautas essenciais para os estudantes e que dizem sobre todos eles – precisam se tornar cada vez mais presentes na vida de toda a comunidade universitária e cobrar da reitoria mais do que a mera presença de um representante em audiências públicas incapaz de formular questões sobre a problemática e de dar respostas efetivas à categoria dos estudantes. É preciso que nos voltemos para as principais questões da universidade e que, a partir daquilo que nos afeta coletivamente, possamos nos unir em uma luta comum e que busque a real transformação da nossa realidade.