[Opinião] O desemprego e as filas em aplicativos de entrega

Foto: Roberto Parizotti/FotosPublicas

Jussara Freire* – Publicado originalmente em Universidade à Esquerda – 21/07/2020

A franca ascensão dos índices de desemprego no Brasil têm levado inúmeros trabalhadores a tentar adquirir alguma renda se cadastrando em aplicativos de entrega. Segundo reportagem do Estadão, de março a junho, apenas o aplicativo Ifood recebeu 480 mil novos cadastros e não pode absorver todos. 

Três vezes mais cadastros do que havia em Fevereiro (131 mil), antes da pandemia. Em março, o número de trabalhadores absorvidos pelo aplicativo chegou a 170 mil.

A empresa Rappi, também alegou para a reportagem do Estadão que registrou aumento de 128% de entregadores em Abril com relação ao mesmo período do ano passado, mas afirma que em julho teria voltado ao patamar anterior, sem tempo de espera para ingressar na plataforma.

Segundo os dados do IBGE, com a atualização da PNAD contínua no mês de Junho, o Brasil perdeu cerca de 7,8 milhões de postos de trabalho durante a pandemia, sendo 2 milhões de empregos formais e 5,8 milhões informais.

Ainda segundo o IBGE, o número de desempregados no Brasil chegou a 12,4 milhões em Junho. Entretanto, a metodologia de pesquisa do instituto só considera desempregado aqueles que procuraram efetivamente por emprego no período da pesquisa. Isto pode mascarar a gravidade ainda maior das taxas de desemprego.

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Os dados das empresas de aplicativo só confirmam o que é possível constatar em relatos nos grupos de trabalhadores desses aplicativos e ao passar pelos pontos de concentração de entregadores. São inúmeras as mensagens em grupos falando sobre espera de semanas para serem aceitos nos aplicativos. O aumento dos trabalhadores seja com moto ou bicicleta, aguardando solicitações de pedidos, é visível em pontos como praças e shoppings centers das grandes cidades.

Outro tipo de relato que têm ganhado grande repercussão nas redes sociais, são o de trabalhadores que são repentinamente desligados ou bloqueados dos aplicativos. O que levou a ser um ponto de reivindicação da paralisação nacional de entregadores de APP’s que ocorreu em 1º de Julho e tem uma segunda edição marcada para ocorrer no próximo sábado (25).

Os entregadores também relatam que as taxas de entrega tem reduzido excessivamente, de forma que quase se paga para trabalhar. O desequilíbrio na relação de trabalhadores em busca de emprego no país e o trabalho disponível nestes aplicativos, ajuda a compreender um pouco do que permite que o trabalho seja ofertado com tão baixa remuneração.

A situação dos entregadores de aplicativos, desde a fila de cadastros de desempregados, até as remunerações, vinculação e acesso a equipamentos básicos não é mais uma anormalidade no Brasil. Ela explicita qual é a realidade da nossa classe hoje.

O trabalho informal em Fevereiro, já era a realidade de mais de metade da população considerada empregada em 11 estados brasileiros. A remuneração extremamente baixa, as situações de risco de acidente e deterioração física e mental em função do trabalho, os recursos retirados do próprio bolso para ter equipamentos de trabalho, a fraca ou quase inviável possibilidade de se organizar no que conhecemos como um modelo sindical, é a regra hoje para a classe trabalhadora brasileira.

A greve de entregadores é algo importante para todos nós trabalhadores brasileiros, pois é uma experiência que poderá ajuda a pensar como devemos lidar e enfrentar com as imposições do capital sobre nossa força de trabalho e condições de vida.

*As opiniões aqui expressas são de responsabilidade da autora e podem não representar a opinião do jornal.

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