Nina Matos – Redação UàE – 14/08/2020
Após a série de derrotas que a atual direção do Diretório Central dos Estudantes (DCE) Luís Travassos sofreu em sua tentativa de redução de danos, pela via da institucionalidade, nas sessões do Conselho Universitário (CUn) que aprovaram o ensino remoto em nossa universidade, lança-se mais uma vez no mesmo erro.
Agora, propõem aos estudantes disputar nos colegiados de curso e conselhos de unidades dos centros as mesmas políticas que apresentaram no CUn, o que consideram como garantias de um ensino remoto “menos excludente”.
Através de uma cartilha, publicada no início de agosto, a atual direção do DCE busca trazer argumentos para que estudantes e centros acadêmicos possam disputar na institucionalidade suas propostas que foram rejeitadas no texto final da resolução.
Cabe, neste momento, destacar que aquilo que a direção do DCE considera como derrota é, na verdade, o único resultado possível de uma luta que se dá por negociações com a reitoria e a administração da universidade.
Enquanto o Ministério da Educação, ainda sob o nome de Abraham Weintraub, pautava o ensino remoto indiscriminadamente para todas as instituições de ensino; enquanto, através da mídia, entidades empresariais assediavam e difamavam a UFSC diariamente, a posição do DCE foi de completa ausência. Não promoveu debates sobre coisa alguma, tampouco qualquer espaço de discussão ampla até o momento chave onde, através de um Conselho de Entidades de Base (CEB), conselho composto pelos centros acadêmicos, DCE e grêmio do Colégio de Aplicação, tirou-se a posição de apoiar o ensino remoto e construir a política do ensino remoto para apresentar ao CUn.
Entretanto, no documento produzido, as derrotas apontadas foram a não aprovação do limite de tempo de aulas síncronas, da não realização de avaliações síncronas, da obrigatoriedade da disponibilização de gravação das aulas ao vivo, da não aferição de frequência e do retorno condicionado a garantia de condições tecnológicas a discentes e docentes.
A solução que a atual direção encontra é justamente permanecer na disputa institucional, agora nos centros de ensino e nos cursos, para que o ensino remoto se torne, supostamente, menos excludente — algo extremamente contraditório inclusive para sua campanha “nenhum estudante fica para trás”.
Não apenas o ensino remoto excluí estudantes, mas exclui justamente aqueles que historicamente tiveram acesso negado ao ensino superior — estudantes negros, indígenas, mulheres e LGBTs, especialmente aqueles que também são da classe trabalhadora — e não apenas por questões de falta de acesso a computadores e internet, mas também pela lógica individualista que joga o fracasso de um sistema com índices imensos de evasão sobre os ombros de cada um. Emprestar computadores e pagar pacotes de internet não reduzirá a evasão justamente destes estudantes.
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Além disso, o ensino remoto traz drásticas consequências futuras para toda a universidade. Um bom exemplo disso é justamente a possibilidade de que, após a pandemia, professores reponham suas aulas através de vídeos, o que fará com que não se busque pela contratação de professores substitutos. Dessa maneira, um professor que sai do país para pós-doutorado poderá manter todo o restante do semestre via remota. Que tipo de formação é essa que pode ser realizada em partes à distância?
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Em momentos de indignação em que precisemos paralisar as aulas, intervir no espaço físico não trará qualquer prejuízo, pois os professores poderão continuar cobrando conteúdo através de plataformas como o Moodle. Quais as consequências nefastas que enfrentaremos dentro do movimento estudantil se barreiras nas portas das salas de aula não impedirem mais uma aula de acontecer?
Outra solução que a direção do DCE sugere em seu documento é que professores e estudantes assinem termos de autorização de uso de imagem e áudio para que as aulas síncronas possam ser gravadas, sugerindo aos estudantes que por qualquer motivo não quiserem ter suas intervenções gravadas e disponibilizadas online a limitarem sua participação por texto. Em tempos de Escola Sem Partido “esquecer” desses detalhes é uma irresponsabilidade tamanha, principalmente ao se utilizar de formas de constrangimento a professores e estudantes em prol de defender o indefensável.
A cartilha segue presa a argumentar com pequenos dados, gráficos e legislações. A seu modo eles organizam os estudantes em torno da política de disputa de redução de danos do ER, ao invés de buscar maneiras de organizar os estudantes na luta, persistindo nos erros tantas vezes criticados pelos demais estudantes. Isso pois, para a direção do DCE e para as organizações que o compõe, não estar ao lado da base não é um erro, mas sim seu modus operandi.
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O papel que representantes nos órgãos colegiados e conselhos de unidade devem ter é o de denunciar o sentido da retomada do semestre. É criticar qual o objetivo por trás dessa decisão. É lembrar que contabilizamos mais de cem mil mortos nesta pandemia e que mesmo assim há pressão para que o “novo normal” seja adotado logo. Escolas estão reabrindo, levando crianças e profissionais da educação à morte como num abatedouro. Nesse momento, nossa preocupação deve ser com a sociedade, não com um diploma a qualquer custo.
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