Foto: Cobertura Greve Geral – 14/06/2019 – UFSC à Esquerda
Lara Albuquerque* – Redação UàE – 26/06/2019
Enormes cortes na educação, reitorias sob intervenção do MEC, ameaças aos servidores, escândalos de uma justiça que não serve aos interesses da nossa classe, uma catastrófica reforma da previdência se aproximando, índices enormes de desemprego, precarização das condições de trabalho. Nesse cenário maio e junho trouxeram um balanço positivo às lutas, houve um acirramento nesses dois últimos meses, a ferida foi aberta, não foi possível ignorar a massa e o sentimento de insatisfação. Mas após o 14 de junho, o que nos restou?
Com o perdão da expressão, parece que a água bateu na bunda, mas que a tal da bunda foi anestesiada por alguma coisa. Há um cotidiano que segue quase que tranquilo pelos corredores, não fosse a angústia engasgada. Essa incerteza se semestre ou ano que vem ainda terá luz, água, teto sobre o chão das universidades. O que mais falta acontecer para as lutas acirrarem? Para que sejam articuladas greves? Mais atos? O tão anunciado trabalho de base para conscientizar e massificar a luta contra a reforma da previdência?
Serão necessários mais ataques para que vençamos a burocracia dos espaços e das direções? Se as centrais, as federações, os sindicatos, os DCEs não chamarem mais nenhum espaço que seja, ficará o restante dos sujeitos assistindo a tramitação da reforma da previdência e lendo manchetes catastróficas nos jornais?
A aposta da burguesia é que sim, o governo de Bolsonaro não está perdendo um dia que seja na tramitação da aprovação da reforma previdenciária. A aposta do campo petista, que dirige a CUT e a UNE, também é deixar passar e mirar nas próximas eleições, seja nas eleições de 2020 ou 2022 sem ter mais que debater ou fazer qualquer linha contra a proposta de reforma da previdência.
De fato, não se pode esperar de entidades que estão até a medula engajadas com o projeto de poder petista uma saída anticapitalista, o histórico recente não pode ser apagado das memórias, o governo de Dilma que iniciou os ciclo de cortes nas universidades em 2015. Foi nos governos petistas que houve o boom da financeirização da educação superior. Quem implementou, esteve e continua no partido após essas políticas não serve para defender a universidade pública e sua ampliação, pois não merece a confiança dos sujeitos que estão construindo o movimento universitário e suas formas de resistência.
Há a necessidade de surgir quem faça essa tarefa desde as bases, se as direções não o fazem, que sejam carregadas a fazer. O tendão de aquiles dessa reforma, mesmo após reformulações que os governadores nordestinos do campo petista chamam de vitoriosa e passaram a declaradamente apoiar, continua o mesmo: ela ataca em cheio a classe trabalhadora e afetará o futuro de todos nós.
A força de mobilização que maio e junho nos mostrou é evidente, há campo para a oposição disputar e avançar, mas para que isso se realize é necessário se afastar da burocratização e parar de cumprir só o que a agenda da CUT e da UNE colocam força. As últimas massivas manifestações são apenas o início e não o fim de um processo que se desencadeou na resistência contra esse governo. Há uma tarefa, há de se cumprir um destino mais autêntico para as lutas da nossa classe nesse momento no Brasil.
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