Nina Rodrigues – Redação UàE – 01/06/2020
Desde o início da pandemia, com a consequente paralisação das aulas presenciais na Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) e na Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC), a mídia local tem se debruçado sobre críticas acerca do “imobilismo” das universidades públicas. Não obstante, entidades empresariais como FloripAmanhã e Floripa Sustentável chegaram a buscar ambas as reitorias oferecendo notebooks para os alunos que não têm condições, “em troca” das universidades aderirem ao ensino remoto, e lançaram notas rechaçando as universidades após a negativa.
A partir de então, poucos foram os debates públicos sobre as questões referentes ao ensino remoto ou qualquer nome que se queira dar a essas atividades à distância. Ainda mais raros foram aqueles que saíram da superfície da dificuldade de acesso dos estudantes ou das questões individuais de saúde mental. É perigoso como essas críticas são tão facilmente respondidas por movimentos como o Todos Pela Educação e organizações multilaterais como a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), que tem defendido o ensino remoto sob o argumento de que ele é necessário. Pois só a escolarização pode reduzir as desigualdades, e por isso o Estado deve garantir o acesso, através das parcerias público-privada, óbvio.
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Não é como se a dificuldade de acesso não fosse importante, ou esse sofrimento devido ao isolamento e falta de perspectiva que a política do “e daí” nos deixa. Mas precisamos ir além, pensar em como as políticas adotadas hoje crescerão enquanto uma possibilidade de mercado e de alteração de nossas relações pedagógicas ou, até mesmo, do papel de nossas instituições de ensino, enquanto políticas que construirão a nossa sociedade pós-pandemia.
Mais recentemente, no dia 27 de maio, em reunião da Câmara de Pós-Graduação (CPG) da UFSC, aprovou-se uma minuta autorizando os programas da pós a utilizarem o ensino não presencial conforme cada programa decidir. Segundo a nota da Associação da Pós-Graduação (APG), a reunião foi atropelada e a posição dos estudantes ali presentes, menosprezada. Curiosamente, logo em seguida ao término da reunião, o colunista do NSC, Cacau Menezes, divulgou como se toda a universidade tivesse aderido ao ensino remoto.
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Por fim, na última sexta-feira, 29 de maio, a reunião extraordinária do Conselho Universitário (CUn) se ausentou de uma discussão séria sobre o assunto, se resumindo a uma apresentação de comitês, mesmo com as denúncias da APG e dos técnicos administrativos sobre as péssimas condições de trabalho remoto.
É importante destacar que no dia 26 de maio a UDESC decidiu pelo ensino remoto, alegando que os estudantes que não tiverem acesso poderão ser enquadrados em uma bolsa de inclusão.
A falta de um debate sério e denso dentro da universidade, que abarque o que significa a decisão do ensino remoto, à distância, não presencial, ou qualquer maquiagem que queiram colocar em cima do que realmente é; que coloque-nos a pensar como será o trabalho dos técnicos, o que isso significa para a construção do conhecimento, quais as implicações disso para o futuro das universidades, quem lucra com isso; encerra toda a possibilidade de luta que poderia existir.
É justamente uma postura crítica, que impulsione o movimento estudantil em direção à luta, que organize e que se proponha a buscar elementos mais fundamentais, a fim de basear as ações, que necessitamos para o enfrentamento deste momento inédito para todos nós. Em contrapartida, vemos as entidades sendo meramente um instrumento para consulta pública de quem tem ou não acesso e de quem está ou não fragilizado psicologicamente, papel que deveria na verdade ser cobrado das instâncias administrativas, inclusive buscando alguma maneira de ir além de questionários online que já são por si só excludentes. Não se vê uma única entidade empenhada em elaborar um projeto ou saída para a universidade neste momento ou em organizar e direcionar a luta do movimento estudantil, para que possamos, assim, construir uma política conjunta e de acordo com os nossos próprios interesses.
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A princípio, apenas 6 das 69 universidades federais adotaram o ensino remoto. Ao que tudo indica, a UFSC será a sétima. Nossa única luta será pedir para os sindicatos patronais e entidades empresariais que deem notebooks aos estudantes que não tem?