Montagem UFSC à Esquerda com fotos por UFSC À Esquerda, CALPsi e Cláudia Reis/Notícias UFSC.
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[Opinião] Os Centros Acadêmicos e as férias: a importância de se preparar para 2023

Rita Pereira – Redação UFSC à Esquerda – 17/01/2023

Durante este último ano presenciamos um movimento estudantil que foi capaz de pulsar mais uma vez na universidade. Foi um ano atípico, no qual passamos por três finais de semestre com suas avaliações maçantes. Ainda assim, no último mês vimos movimentações intensas que tomaram a universidade e as ruas para expor nossa indignação com os cortes das bolsas e o parco orçamento destinado à educação.

Para 2023, desejo os votos mais sinceros e positivos — mas que não nos exime de estar dispostos a dar conta de conjunturas que possam se tornar muito difíceis.

Já na primeira semana do ano os estudantes deram de cara com a possibilidade de perder a universalidade do Restaurante Universitário (RU) nas férias — decisão que foi apresentada nos veículos de comunicação oficial da UFSC poucas horas antes do horário de almoço naquela segunda-feira. A decisão foi revertida já no dia seguinte, mas caso não fosse, o movimento estudantil teria uma luta para travar em um momento delicado onde os estudantes estão mais esparsos, recuperando o fôlego para as aulas e também para as movimentações futuras.

Dezembro foi um mês muito vigoroso, no sentido da nossa capacidade de mobilização, e isso dá mais certeza de que há fôlego na juventude, que o cansaço não é suficiente para deter os estudantes em seu avanço, mesmo que estejamos diante de um descenso geral da capacidade de mobilização. Agora, muitos de nós podem se perguntar como manter um acúmulo dessa experiência e das demais que compuseram o ano anterior dentro das entidades de base que atuamos, de modo que nossos esforços de hoje fortifiquem as mobilizações futuras.

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Como foi apresentado em outro texto aqui no jornal, os Centros Acadêmicos (CA) são entidades de base, isto é, referentes a um pequeno grupo (como um curso ou um pequeno grupo de cursos). A partir da organização dos estudantes em prol de avançar com as discussões nos cursos, as entidades de base são capazes de manter os acúmulos das lutas, pois, em suma, ela se mantém organizando os estudantes daquele grupo mesmo que a conjuntura mude.

A passagem dos estudantes pela universidade é breve se compararmos com outras categorias da universidade, como os professores. As ações individuais dentro de um curso se encerram em cerca de quatro, cinco anos. Mas quando adentramos no campo de uma ação coletiva e sistematizada, ela pode perdurar através da história, dentro do CA, tanto na produção de uma política efetiva para o curso, quanto no registro daquilo que já foi feito e idealizado — nas atas de reuniões, divulgações realizadas em distintos meios e até mesmo na oralidade e trocas de experiências entre gerações de estudantes.

Isso dá às entidades estudantis uma característica de conservação da história, mas que nem por isso precisa torná-las conservadoras. A cada nova geração que entra na universidade há uma mudança no perfil dos cursos as quais as entidades devem estar discutindo a fim de integrar esses novos estudantes. Há também novas condições nesse ingresso, como a situação de 36 cursos com menos inscritos que vagas abertas no vestibular, por exemplo.

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São muitas as formas que um CA pode promover essa integração. A primeira semana de recepção dos calouros já é uma resposta rápida. Organizá-la dentro do CA tende a produzir, como efeito, que os calouros encontrem na entidade aqueles que os ajudaram a dar os primeiros passos nessa nova etapa. Além disso, também é possível integrar outros colegas veteranos na organização da recepção, colocando-os a discutir o que é necessário para que os calouros possam se juntar ao conjunto do corpo discente.

E não é preciso parar por aí: há muitas atividades que podem ser pensadas de forma longitudinal. Semanas Acadêmicas podem ser retomadas, atividades de integração, de formação e de discussão. Tudo isso exige que os CAs se organizem e reflitam sobre aquilo que é necessário e possível, tracem seus objetivos e as lutas que consideram importantes, desde já, fortalecer e construir.

Há muitas lutas nas quais o movimento estudantil tem historicamente um protagonismo decisivo e que demonstram no presente como é necessário que os estudantes estejam mobilizados com firmeza — como por exemplo as lutas pelo transporte coletivo, que sofreu um aumento abusivo nos preços das passagens em dezembro.

Ainda, muitas dessas lutas passam por discussões que são fundamentais para que se construa um conhecimento crítico e comprometido com a classe trabalhadora. O aumento das passagens dos ônibus, do preço da moradia e dos alimentos, as mudanças no plano diretor da cidade e até mesmo a higienização do centro histórico de Florianópolis dizem respeito a deterioração das nossas condições de vida, lançando muitos de nós para os bairros mais afastados dos pontos mais centrais da cidade, perdendo horas do dia com deslocamento e gastando demais para minimamente viver.

Esses são alguns elementos que estão no imediato, expressos nas condições mais sensíveis para a classe trabalhadora. Sem dúvidas, há ainda muito o que esmiuçar em uma análise de conjuntura mais aprofundada, que também desdobra-se diante das especificidades da experiência de cada curso.

Estamos em janeiro, início do ano, plenas férias e um sentimento de necessidade de ir um pouco mais devagar nessa vida corrida pode nos fazer refrear a ideia de seguir uma rotina cotidiana nos CAs nesse momento. Uma entidade não precisa ignorar isso. Não precisamos seguir estereótipos do movimento estudantil. Construir uma entidade envolve afetos na medida em que nos dispomos a produzir uma vida universitária mais coletiva. Planejar aquilo que a entidade quer se propor no próximo semestre perpassa por isso, por encontrar aquilo que é capaz de tocar os nossos corações e os dos demais colegas e produzir um encontro que seja bom — sério no tom necessário, capaz também de nos divertir de maneira genuína, de nos fazer querer continuar nos encontrando todas as semanas e, quem sabe, até um pouco mais.

Por que então não aproveitar que estamos nesse período de descanso das aulas para fortalecer nossos laços na entidade? Em março as aulas já retornam e voltamos a ser dragados pela dinâmica de trabalhos e provas e engolidos por uma conjuntura que nos exige cada vez mais. É melhor que tenhamos preparado o nosso terreno para que os esforços sejam cada vez mais eficientes. Só assim podemos avançar com mais precisão em direção de vitórias mais consistentes!

Um bom início de ano!

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