Foto: UàE. 4 set. 2020.

[Opinião] Por que havia 10 pessoas na UFSC às 7h30 da manhã?

Foto: UFSC à Esquerda

F. B. Velho* – Redação UàE – 14/08/2019

Estavam lá na Reitoria os primeiros da APG, os professores do Andes desde às seis e meia, e mais quatro ou cinco estudantes. Mas não estava lá o DCE Luís Travassos. Havia só 10 pessoas.

Isso é grave. Nem tanto pelo fato da gestão do Diretório ter dado pra trás no compromisso de trazer o lote de panfletos da Comissão Unificada para distribuir nas rótulas às sete horas, tendo chegado com eles às oito e meia apenas. Nem mesmo porque é um DCE que vem falando de si mesmo como de esquerda e se conduza por práticas como essa, não conseguindo mandar um só membro, dentre os mais de cem dessa gestão, para abrir a sede e trazer panfletos. Mas, realmente, porque o corpo dos estudantes de graduação não estava lá. O grosso dos estudantes, em Florianópolis, não foi movimentado para a Greve Nacional da Educação. E isso é muito mais grave que indisciplina. 

Essa ausência é o custo de não informar a massa de estudantes, movimentar os Cursos, conversar com os CAs, tudo isso em favor de tocar a política por cima, fazer política de cúpula. Não houve sequer um chamado de assembleia geral estudantil pelo DCE. Poucos cursos fizeram assembleias. Poucos estudantes sabem o que significa o Future-se.

A ausência dos estudantes deve ser explicada também por outro elemento, que é mais relevante que a miséria do DCE e de suas organizações políticas. Está no próprio Future-se. O projeto é lançado num momento em que a privatização da Universidade é em boa medida consentida. Ele alicia professores e estudantes com expectativas de melhores oportunidades, de sucesso profissional, de inúmeras formas. Ele mobiliza as noções já naturalizadas aqui dentro do que seriam empreendedorismo e gestão. Essa política, que vem sendo construída há tempo, é desmobilizante.

A situação é muito mais complexa que uma disputa por direção do movimento estudantil universitário. A Universidade, que resistiu como um elo forte tentativa atrás de tentativa de privatização, graças a intensa luta dos trabalhadores, parece, agora, prestes a se desmanchar em uma só marretada. Ela de súbito se apresenta como um dos elos mais fracos, ao lado dos direitos sociais. Perder essa instituição seria perder um dos últimos espaços onde a crítica profunda à sociedade ainda pode ser feita com relativa autonomia. Essa é a política dos capitais para a Universidade, sua desfiguração para um mero ginásio da força de trabalho. 

Mas não é muito cômodo para eles aplicar uma política como essa num momento em que todas as questões políticas são tratadas no gabinete? São amortecidas, pacificadas pelas direções do movimento? Que a massa dos estudantes não é chamada a lutar e a se informar? Que, ao contrário de haver denúncia das práticas, há sim a incorporação ativa à política da Reitoria de discutir o Future-se em um Grupo de Trabalho reduzido, uma política de cúpula?

Pois essa é política dos capitais para o movimento dos trabalhadores. Deixar que as próprias direções, por seu compromisso com as formas burguesas de fazer política, façam seu trabalho para limitar o alcance das reivindicações, para cortar no talo a radicalidade da massa. Nos causa indignação ver a mesma prática política nas Centrais Sindicais, nas negociatas desses burocratas sindicais acabados, nos políticos profissionais cretinos. O DCE tem feito a política da Reitoria, por isso não se trata de indisciplina. Saibam ou não, a fazem.

Partilho da opinião de que esta é a hora da desunião. De nos desunir, de nos desatar das ideias e das práticas burguesas em nosso próprio movimento, e constituir uma prática política fundada na verdadeira autonomia de classe.

Há um grupo de independentes, reunidos a partir de um chamado do Caligeo, se organizando para levar a discussão para a comunidade, não abaixando a cabeça para a Reitoria. Já realizaram uma aula pública com quase 300 pessoas, e talvez possam transformar essa energia numa grande mobilização da universidade.

Já passou da hora de parar de fingir normalidade. Ainda assim, parece que, para alguns, publicizar aquilo que rompe o véu de normalidade causa ânimos. 

Shhhh! Deve-se fazer silêncio sobre tudo, não importa que seja verdade. Para o acúmulo de forças!… 

…. ora, em nome de quê?

Afinal, camaradas, já não há experiências o bastante para mostrar que ficar escondendo as debilidades não é o caminho para avançar? Temos, muito pelo contrário, acumulado fracasso sobre fracasso. De que nos serve esconder da luz as práticas que conduzem à derrota?

 

*O texto é de inteira responsabilidade do autor, e não reflete necessariamente a posição do jornal.

 

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