[Opinião] Por que se juntar à APG na Mobilização em Defesa da Universidade amanhã? (parte 1)

Imagem: Chamado para a mobilização em defesa da universidade a partir de foto do jornal UFSC à Esquerda que mostra uma das assembleias de greve contra o future-se em 2019, em frente à reitoria da UFSC.

Júlia Vendrami* – Redação UàE – 06/03/2022

A Associação de Pós-Graduandos (APG) da UFSC vem organizando uma campanha pela volta do Restaurante Universitário desde o início de fevereiro. A mobilização tem tomado proporções ampliadas, e hoje conta com o apoio do Diretório Central dos Estudantes (DCE) e do Sindicato dos Trabalhadores em Educação das Instituições Públicas de Ensino Superior do Estado de Santa Catarina (SINTUFSC). No próximo dia 07/03, a partir das 9h, a comunidade universitária se reunirá para o Dia de Mobilização em Defesa da Universidade, espaço que reunirá membros das três categorias para debater a situação da UFSC e pressionar a reitoria por um plano seguro para abertura imediata do Restaurante Universitário e Biblioteca Universitária. Essa série de textos busca trazer elementos sobre a importância de construir essa mobilização.

Parte 1

Muitos de nós estudantes estamos retornando às atividades presenciais na universidade nos meses de março ou abril de 2022. Outros já estão há muito tempo frequentando o campus e agora estão presenciando um aumento da quantidade de pessoas circulando. Independente da situação de cada um, todos estão enfrentando adversidades maiores ou menores para continuar estudando. Cada vez mais, o custo de vida aumenta e somos pressionados pelas condições materiais de sobrevivência.

Cabe às entidades estudantis (DCE, APG, centros acadêmicos e grêmio estudantil) e aos militantes, organizados ou não, contribuir para que essa percepção de dificuldade individual seja também lida como uma questão coletiva e que vamos precisar enfrentar coletivamente. A Associação de Pós-Graduandos está propondo um espaço para que a comunidade universitária reflita e elabore sobre a sua condição material, sobre o próprio significado da universidade pública e que também possa cobrar da reitoria e expor as situações que o ensino remoto de certa forma mascarou e que ficarão totalmente escancaradas com o retorno presencial completo das atividades.

Nesses mais de dois anos de pandemia muitas coisas aconteceram. Em 2020 vimos o ensino remoto ser imposto à universidade, haja vista os duros ataques que a mídia burguesa e setores do empresariado impetraram contra nossa instituição, pois seus interesses não eram de que a universidade pública se empenhasse em buscar soluções para os dilemas que a crise econômica e sanitária impunha naquele momento. 

Esse processo não foi isento de conflitos, a criação da Frente pela Educação de Qualidade (FEQ), por exemplo, mostrava que parte dos estudantes não só não estava satisfeito com o que estava sendo apresentado como única solução (o ensino remoto) como também buscava apresentar um projeto diferente para a universidade, colocando como prioridade a qualidade da educação na universidade pública. 

Implantado o ensino remoto, tudo que já era previsto aconteceu: muitos estudantes trancaram seus cursos, abandonaram ou se matricularam na disciplina fantasma ZZD; outros continuaram acompanhando as aulas online, para as quais cada um teve que se organizar para conseguir um espaço de estudo mais ou menos apropriado, gerando situações muito desiguais.

Em relação à qualidade do processo ensino-aprendizagem, a piora foi significativa, tanto na graduação quanto na pós. Os motivos para isso são diversos e percebidos por todos que vivenciaram esse momento. 

As alegadas vantagens do ensino remoto seriam no sentido de possibilitar que as pessoas participassem das aulas mesmo morando em outras cidades, já que o aluguel em Florianópolis está caríssimo; diminuir custos em geral, como de alimentação e transporte, e poder estudar ao mesmo tempo que trabalha ou que cuida dos filhos. 

Porém, se o objetivo é uma formação de qualidade na universidade pública, as condições concretas para se dedicar esta formação devem ser garantidas, para que todos os estudantes possam se concentrar nos estudos e ter uma formação de qualidade de fato. 

Isso já era verdade antes da pandemia, mas agora enfrentamos uma situação ainda mais séria, temos também que garantir que os estudantes que fizeram parte de sua formação no ensino remoto retornem para o ambiente universitário e não abandonem o curso.

Para isso, uma das condições mais básicas e diretas é o retorno do restaurante universitário com a manutenção do seu preço de R$ 1,50. O RU é a política de assistência estudantil mais universal que existe na universidade e foi conquistada pela luta de diversas gerações de estudantes. É cada vez mais importante que o preço do passe seja mantido, já que o preço dos alimentos tem subido muito, tornando cada vez mais difícil para os estudantes conseguirem se alimentar. Florianópolis é uma das capitais do país com o preço da cesta básica mais alto, somente atrás de São Paulo. 

Os estudantes estão enfrentando insegurança alimentar e fome, por não ter dinheiro para comprar todos os alimentos necessários para uma alimentação balanceada, por não conseguir ter tempo para organizar uma alimentação adequada; ou dependem de familiares ou trabalham o dia todo para seu sustento, o que diminui o tempo de dedicação aos estudos. 

Outra condição básica para uma educação de qualidade é um espaço de estudos adequado, que deve ser garantido com a reabertura da biblioteca universitária. Estudando em casa há um infinidade de situações que atrapalham a concentração nos estudos e que estão fora do controle dos estudantes. É fundamental que exista um bom espaço de estudos na universidade e acessível a todos, não somente dentro dos laboratórios ou salas específicas de um curso ou centro.  

Além disso, é essencial a garantia das condições de segurança sanitária, para minimizar a contaminação por COVID-19 no ambiente universitário. Uma das medidas para isso é a distribuição de máscaras PFF2 para todas as categorias da universidade, inclusive os estudantes e os terceirizados. Mais uma medida é a ampla ventilação dos ambientes e a medição de concentração de CO2. 

Outras questões também são importantes para os estudantes, como os valores de alugueis na cidade, e a irrisória quantidade de vagas na moradia estudantil. Por exemplo, o IGP-M, que é um índice muito usado para embasar os preços de aluguéis, teve um aumento de mais de 40% nos últimos dois anos. É importante que isso esteja em mente também, mesmo sendo um problema de mais complexa resolução. 

Sabemos que a universidade vem passando por sucessivos cortes orçamentários desde pelo menos 2014. O movimento estudantil lutou contra os cortes em inúmeras ocasiões. Este é um desafio que é enfrentado pela universidade e será enfrentado pelo futuro reitor que será eleito no próximo mês.

O perfil do estudante da universidade mudou muito nos últimos anos. Se em algum momento era possível falar que a maioria dos estudantes fazia parte de uma elite econômica que não necessitava de nenhum tipo de assistência estudantil (RU, auxílio permanência, bolsa), isso não é mais a realidade da instituição. Hoje quase a totalidade dos estudantes de graduação e pós enfrentam dificuldades econômicas seríssimas para se manter estudando na universidade pública. 

A mobilização organizada pela Associação dos Pós-graduandos da UFSC é um grito de socorro dos estudantes, porque sabemos que só somos ouvidos quando estamos juntos e organizados reivindicando condições melhores para estudar. A mobilização procura trazer de volta os ânimos de luta da comunidade universitária da UFSC que já tomou nas mãos tantas lutas importantes ao longo dos anos. Por isso é importante a presença de todos nós.  

 

*Os textos de opinião são de responsabilidade dos autores e não representam, necessariamente, as posições do Jornal.

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