Assembleia discente em Agosto de 2019, onde os estudantes do PPGE deliberaram por greve contra o Future-se
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[Opinião] Quem apoia o espontaneísmo na UFSC?

Foto: Movimento UFSC contra o Future-se

Gustavo Bastos *- Redação UàE – 26/08/2019

Não é difícil de perceber quando uma campanha de difamação começa a ocorrer. Nos corredores as pessoas comentam: – Mas e aquele movimento, não é espontaneísta? Não fazem ataques às entidades?

É difícil rastrear de onde surgem e por onde caminham essas ideias. Tais comentários seriam inofensivos se não prejudicassem as lutas na universidade. Neste tempo onde as coisas acontecem tão rapidamente não há tempo necessário para que se perceba o que realmente está em jogo na política.

Gramsci, marxista e revolucionário, foi um perspicaz pensador da política italiana, e foi com suas ideias que um outro pensador brasileiro, Carlos Nelson Coutinho, caracterizou um período recente da vida política brasileira. Carlos Nelson, num seminário organizado pelo CENEDIC (Centro de Estudos dos Direitos da Cidadania), do qual participava Chico de Oliveira, outro grande pensador brasileiro, apresentou a ideia de que vivíamos, nos governos petistas, uma “hegemonia da pequena política”.[1]

Segundo Bianchi,

“O que a fórmula da “hegemonia da pequena política” captava era o predomínio crescente de uma prática que limitava o horizonte estratégico da política, convertendo-a em mera técnica para a obtenção de eventuais maiorias parlamentares. Nos termos de Antonio Gramsci, enquanto a grande política assume como horizonte “a fundação de um novo Estado” e a “luta pela defesa e conservação de uma determinada estrutura social e política”, expressando ao nível da política uma nova visão de mundo, a pequena política reduz os conflitos às escaramuças parlamentares e às lutas pelo predomínio “no interior de uma estrutura já estabelecida”.Assim, embora conceitualmente frágil, a fórmula da “hegemonia da pequena política” captava a questão principal: ao aceitar as regras do jogo parlamentar o Partido dos Trabalhadores havia renunciado a toda estratégia de transformação.”

Não é possível transferir uma análise de realidade de uma esfera para outra de forma imediata, mas acredito que talvez o conceito gramsciano de pequena política possa nos ser útil na formulação de uma hipótese sobre o que ocorre por aqui.

É verdade que o Diretório Central dos Estudantes – Luís Travassos foi ocupado por 4 anos por uma direção de direita, governista, amortecedora das contradições e das lutas na universidade. Hoje estamos no segundo ano de gestão de um outro grupo, autoproclamado de esquerda, que defende a universidade pública em seus discursos. Mas cabe-nos perguntar: – Tal direção tem sido efetiva nas lutas? Está conseguindo organizar os estudantes, neste período terrível onde está se rifando todos os direitos sociais e a universidade pública?

Um grupo de estudantes acha que não, e se auto-organizou para combater um dos mais cruéis e perversos ataques às universidades, o Future-se. Este grupo, que se reuniu diversas vezes nas férias, e que hoje enche a universidade de atividades, preparando o conjunto de estudantes para o enfrentamento que ocorrerá, se chama “Movimento UFSC contra o future-se”.

É sintomático que as direções das entidades estudantis, principalmente as que compõem o DCE, não consigam até a presente data organizar atividades contra o future-se, enquanto um conjunto, que no início era pequeno, de estudantes tenha feito uma calourada temática, lotando um auditório com uma Aula Magna sobre o Future-se e dado o pontapé inicial na discussão.

Tudo isso não renderia motivos suficientes para um texto, se não fossem as boatarias que agora ocorrem, e que nos fazem perguntar: – Seria essa uma forma de deslegitimar esse movimento? E, ao deslegitimar esse movimento não seria também uma tentativa medíocre de esconder o próprio fracasso que produzem? Não seria essa uma forma de pequena política?

Vejam, na política não existe vácuo. Se hoje um grupo de estudantes se reuniu para combater o Future-se e tem deixado furiosos alguns diretores do DCE, é porque talvez a direção dessa entidade tenha falhado com os estudantes. O que há de espontaneísmo nisso?

[1] – Um relato sobre esses seminários e a discussão sobre essa caracterização podem ser encontrados no texto de Alvaro Bianchi para o blog Junho: http://blogjunho.com.br/hegemonia-da-pequena-politica-uma-formula-errada-que-deu-certo/

 

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