[Opinião] Sem eleições da entidade desde 2018, DCE da UFSC defende eleições virtuais para reitoria

Imagem: Montagem a partir do Folheto de campanha da Chapa Canto Maior.

Beatriz Costa e Gustavo Bastos – Redação UFSC à Esquerda – 17/02/2022

Desde o início da pandemia, as entidades estudantis tiveram que lidar com a decisão de adiar suas gestões ou realizar eleições de maneira online. As entidades encararam a situação de diferentes formas, algumas prorrogaram a gestão no primeiro ano de pandemia e realizaram as eleições no segundo, outras mantiveram o calendário de eleições anuais, realizando-as de maneira online. Já o DCE da UFSC, não só não realizou eleições durante a pandemia como tem sua situação agravada pelo fato de não ter realizado eleições no ano anterior à pandemia, no qual houve greve estudantil na UFSC. O que poderia ser uma decisão legítima da entidade de contrariedade total às eleições de maneira online, perde totalmente o sentido quando a mesma entidade defende que as eleições para reitoria da UFSC possam ser realizadas de maneira online.

A atual gestão do Diretório Central dos Estudantes DCE Luís Travassos da UFSC, foi eleita em 2018 com 5661 votos, correspondendo a 70% dos votantes. A chapa “Canto Maior”, possui uma nominata de mais de 260 membros de 45 cursos diferentes. Amplos setores da esquerda compõem a gestão, com estudantes independentes e juventudes organizadas. Destacamos as organizações estudantis: Juventude Comunista Avançando (JCA), União da Juventude Comunista (UJC), Resistência, Alicerce e as juventudes do Partido Socialismo e Liberdade (PSOL) e do Partido dos Trabalhadores (PT), entre outras.

Parte do jornal da chapa eleita em 2018 mostra os membros que compunham a gestão na época da eleição.

Em 2019, o anúncio do Programa Future-se causou um ascenso de lutas na universidade que foi iniciado pelo Movimento UFSC contra o Future-se e culminou em uma greve estudantil em mais de 70 cursos de graduação e programas de pós-graduação. Devido à greve estudantil, a gestão optou por não realizar eleições neste ano, prorrogando sua gestão até o início de 2020.

A discussão pela prorrogação foi realizada em um Conselho de Entidades de Base (CEB), e os encaminhamentos foram publicados na página do Instagram do DCE, conforme trecho que reproduzimos a seguir:

“Na discussão feita pelos 25 Centros Acadêmicos da UFSC presentes foi destacado que as eleições do DCE UFSC são uma das eleições com maior participação estudantil do Brasil, tendo uma grande tradição democrática de discussão sobre quais rumos a entidade geral de representação deve ter e uma campanha eleitoral com tempo suficiente para informar os estudantes acerca de sua escolha.

Com o período de Greve Estudantil e as reposições de aula posteriores, foi avaliado pelos CAs que para termos uma eleição com capilaridade e qualidade era necessário adiar as eleições do DCE UFSC, foi encaminhado então que as eleições vão acontecer no inicio do próximo semestre, em 2020.1.

A discussão seguinte avaliou que era preciso prolongar a atual gestão Canto Maior até o inicio das eleições, dado que ela foi eleita com um programa e com pessoas integralmente responsáveis pelo andamento da entidade geral, algo que uma Comissão Provisória agora teria dificuldades de dar cabo.”

Logo no início de 2020 fomos surpreendidos pela pandemia de COVID-19 e com as consequentes medidas sanitárias que causaram a paralisação das aulas presenciais na universidade. No mesmo ano, as aulas passaram a ser na modalidade remota, com um grave prejuízo não somente ao processo de ensino-aprendizagem, mas também à mobilização estudantil. A gestão do DCE não realizou eleições novamente, para que o processo não fosse realizado de maneira online. Em 2021, novamente as eleições não foram realizadas, postergando ainda mais a gestão Canto Maior.

O debate a respeito das votações online é complexo, com diferentes pontos de vista. Apontamos que, de uma maneira geral, o processo presencial favorece uma participação mais ativa da comunidade acadêmica e faz com que as discussões realizadas no âmbito das campanhas eleitorais alcancem diferentes círculos. Isso acontece tanto nas eleições de reitoria quanto de DCE. A eleição presencial tende a tornar o processo eleitoral mais rico e elevar a qualidade das decisões tomadas coletivamente.

Leia também: [Opinião] Porque as eleições para a reitoria da UFSC devem ser presenciais

Em 2021, um CEB alterou o regimento eleitoral do DCE, para que fosse possível indicar membros que não estavam na nominata para ocuparem cadeiras no CUn e outros Órgãos Deliberativos Centrais. Na época, foi alegado que essa proposta seria devido ao fato de que uma grande quantidade de pessoas da nominata haviam se formado ou se afastado da gestão por diversos motivos. Isso já mostrava a necessidade de eleições na entidade, mas o DCE preferiu mudar o regimento à realizar as eleições. Hoje, depois de quatro anos sem eleições para o DCE, muitos dos participantes da nominata original, principalmente aqueles que participavam da Comissão Geral, já estão formados, outros mudaram de universidade, ou de curso. Os estudantes sequer conhecem quem dirige a sua entidade representativa.

Desde 2021, o DCE compõe, juntamente com a APG, Apufsc e Sintufsc, a Comissão Eleitoral Representativa das Entidades (COMELEUFSC), que está organizando a consulta informal à comunidade universitária para a escolha de candidatos à reitoria. Essa é a votação, que envolve toda a comunidade universitária e fundamenta a decisão do Conselho Universitário (Cun) para elaboração da lista tríplice para reitoria. 

Dentro da comissão, a entidade que representa a pós-graduação (APG) defende, desde o início dos debates no interior da COMELEUFSC, que as eleições devem ser presenciais, de forma a garantir ampla participação da comunidade universitária no processo. 

O sindicato dos servidores técnicos administrativos já realizou três assembleias para discutir o tema. Os técnicos, ponderando a situação da pandemia, aprovaram em suas duas primeiras assembleias a prioridade da votação presencial, posição que foi revista ontem, numa votação na qual participaram 35 técnicos administrativos em educação. A insistência da diretoria do sindicato em rediscutir mais uma vez o tema favoreceu que a posição fosse revista.

A entidade dos docentes se mostra muito mais disposta a realizar eleições online do que presenciais. A Apufsc inclusive se retirou da comissão em dezembro por não estar de acordo com a demais entidades acerca da votação presencial. Naquela data, DCE, Sintufsc e APG tinham a posição de realizar o primeiro turno presencial em 19/04 e segundo turno também presencial no dia 26 de abril.

Contudo, a posição do DCE se alterou nas últimas semanas. Atualmente a entidade tem priorizado se alinhar com os professores, defendendo a votação online. Cabe-nos perguntar sob quais interesses as direções dessas entidades, sem nenhum debate aprofundado com suas respectivas bases, decidem mudar de posição.

Apesar de ter adiado as eleições por quase quatro anos por enxergar os prejuízos da modalidade online de votação, a postura do DCE tem se mostrado errática na COMELEUFSC. Publicamente defendem votações presenciais e participativas, mas dentro da comissão votam e apoiam as propostas de votação online, mesmo que isso signifique a exclusão de de calouros e formandos do processo.

Para a entidade, parece que o mais importante agora é contar com apoio da Apufsc e, para isso, estão dispostos a desistir de sua defesa anterior pelas eleições presenciais. Outra pergunta deve ser feita: Não está na hora, então, de realizar eleições para a diretoria do DCE?

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