Marcelo Ferro* – Redação UàE – 25/10/2018
Nos dias 30 e 31, os estudantes da UFSC irão eleger uma gestão do DCE – Luís Travassos para o próximo ano. São eleições que não trouxeram pra massa de estudantes nenhum debate fundamental sobre a Universidade, ou sobre os projetos de desenvolvimento nacional, à semelhança das eleições gerais. Se há uma marca das eleições presidenciais nestas eleições do DCE, essa é o vôo baixo que deu a esquerda, sob as asas do petismo, que tentou contestar o avanço do conservadorismo/da reação/do fascismo, qualquer que seja o nome que se dê, sem aproveitar esse momento para passar a limpo o último ciclo político dirigido pelo Partido dos Trabalhadores, encontrando nele as causas do momento atual e as potencialidades de superação, de emancipação.
Apesar disso, há uma chapa que quer se apresentar como uma chapa de “estudante para estudante”, fazendo de conta que entre seus membros — entre eles dirigentes do EPL (sucursal da gringa Students for Liberty) — não tem militante, tentando fazer a gente crer que se for de direita não tem ideologia, não tem política, não tem militância. Se tem uma coisa que ficou clara pra todo mundo depois do Primeiro Turno, é que esse tipo de gente do “sem partido” não demorou tanto assim pra entrar numa sigla e se lançar pra política, farejando as regalias de deputado. Agora temos no Congresso Nacional ator pornô, influencer digital, herdeiro da monarquia…
Uma chapa que não traz nada de novo desde a última vez que se lançou, mas que traz, contudo, um elemento a mais: foi pra cima do muro sobre a escolha política para o Segundo Turno. Em suas intervenções na assembléia geral estudantil e nas assembléias dos cursos, se esforçou para passar uma postura republicana, de que “não queremos eleger presidente x ou y”, buscando uma zona confortável de neutralidade. Acha que engana, mas toma uma posição política muito clara. O que comunica para o estudante é que não se importa tanto assim que o candidato Bolsonaro fale que irá cobrar mensalidade nas Universidades Públicas. Não se importa que o candidato que lidera as pesquisas elogie torturador, diga que filho gay tem que apanhar, que não estupraria “porque ela não merece”, que tem que colocar ensino à distância desde o fundamental, que vai exilar ou botar na cadeia a oposição a seu governo.
No momento mais complexo e frágil que essa geração já viveu, em que a perspectiva de futuro da juventude é desesperadora, em que há o risco de termos nossas liberdades individuais mais elementares tolhidas por um boçal presidente — que levaria consigo para a direção do Estado brasileiro os tipos mais sinistros, militares, fundamentalistas religiosos, filhotes da ditadura —, a posição que toma a chapa Zero é acovardar-se no canto. Faz corpo mole, finge que a eleição do DCE não tem ligação com cenário mais geral, pra não ter que arcar com o custo eleitoral da explicação dessas merdas. É muito custoso pros votos da capivara ter que defender a posição política de seus membros e apoiadores.
Nos momentos em que o dilema mostra-se crítico, como esse que vivemos, vale o ditado de que quem silencia está apoiando o lado mais forte, o lado que oprime. A chapa Zero fez essa escolha implícita, e sentou confortavelmente no colo do capitão reformado, alguém que não tem escrúpulo em falar que é contra a Universidade Pública e que vai arruinar os planos de vida de todo estudante que não tiver condição de bancar seus estudos do próprio bolso. Uma chapa contra estudante, e que não tem coragem para dizê-lo.
*O texto é de inteira responsabilidade do autor e pode não refletir a opinião do Jornal.
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Só um ponto sobre o texto:
“Agora temos no Congresso Nacional ator pornô, influencer digital, herdeiro da monarquia…”
Vejo como legítimo ressaltar o retrocesso que é a candidatura do Alexandre Frota para deputado federal. Principalmente, por ele ser um moralista hipócrita, péssimo ser humano e muito despreparado para uma função tão importante. Mas não concordo em usar o fato de ele ser ex-ator pornô para mostrar o quão grande é esse retrocesso. Parece que estão querendo combater moralismo com moralismo! Não acham?
Valeu!
Parem de chamar a chapa zero de o que reflete suas próprias ideias, suas bases estão ligadas à intolerância e ao ódio de ideias diferentes. Pela liberdade e democracia, chapa zero 3.
Exatamente Lu. O problema não é ser ator pornô, o problema é ser de direita.