Foto: Janaína Soares, mãe de Christian, jovem de 13 anos assassinado pela Polícia Militar em Manguinhos em 2015. Hoje, 3 anos após a morte do filho, Janaína faleceu de infarto. Reprodução das redes sociais.
Clara Fernandez – Redação UàE – 07/11/2018
a palavra paira por aqui, mas não sai.
Ela é urgente tudo é urgente
mas qualquer esforço elaborativo parece ser em vão
é como se a palavra chegasse na beirada do lábio,
mas sem impulso caísse como uma suicida pelo abismo
entre a minha cara e o chão gelado que é preciso pisar
toda manhã. ah, as manhãs!
ontem disseram que o rio não amanheceu
isso ficou ecoando aqui na cabeça
a quanto tempo o rio não amanhece
quantas manhãs têm lhe sido roubadas
quantas manhãs, vidas, vidraças estouradas pela invasão
por aqueles que não estão nas ruas pois estão protegidos dentro de uma mansão
invasores, saqueadores, malditos ladrões de manhãs e amanhãs
e algo mais que a gente sequer consegue ver depois.
quando não estouram nossos miolos, fazem nossos corações explodir em angústia!
é preciso deixar rolar todas as lágrimas pelos nossos mortos.
por todas as balas perdidas que sempre encontram os mesmos alvos
e até mesmo as crianças e hoje também levaram um professor
e o coração da Janaína que não aguentou mais a dor desse mundo.
Os mortos da nossa classe hão de seguir existindo
na dor que bate junto com nossos corações
e que semeia o terreno onde a força da palavra e
a força de tantos outros instrumentos ainda haverão de ser forjadas.
