Foto: MAB

[Série: Crime da Vale] Crime em cima de Crime

Beatriz Costa – Brumadinho (MG) – 15/02/2018

No dia 25 de janeiro eu estava em Florianópolis quando recebi uma mensagem com a notícia do rompimento da barragem no Córrego do Feijão. Desde o dia 6 de fevereiro estou em Brumadinho com o Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB), prestando auxílio aos atingidos pelo crime da mineradora VALE. Nesse momento em que os trabalhadores de Minas Gerais vivenciam na pele a força devastadora do capitalismo, da ganância pelo lucro a qualquer custo, todo auxílio é pouco. É assustador perceber, conversando com amigos que ficaram em Florianópolis, como pouco se sabe sobre o que acontece aqui e sobre o que acontece com os trabalhadores daqui. Por isso, durante minha estada, escrevo alguns textos, relatos do que vivencio, relatos de um povo que sofre e que luta.

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Esta semana, a reunião do comando, que reúne alguns órgãos e entidades que estão trabalhando em Brumadinho, foi interrompida pela entrada de três atingidos pelo crime da Vale moradores da comunidade Pires. Os atingidos foram até a faculdade ASA, onde estava funcionando o centro de operações, para denunciar uma movimentação ilegal de lama tóxica que estava sendo realizada naquele momento pela Vale.

Os representantes que estavam reunidos, da Polícia Militar, do Ministério Público federal e estadual, da Defensoria Pública e do MAB decidiram contactar a Polícia Ambiental e ir, imediatamente, para o local averiguar a situação juntamente com os atingidos.

Chegando lá, verificou-se que de fato havia um sujeito realizando o transporte de lama tóxica. Ele alegou que tinha licença para drenagem de areia. Porém, a polícia do ambiental o autuou em flagrante por crime ambiental.

Autuação do crime ambiental. Imagem: MAB

Na comunidade, existe um “centrinho” perto do rio, onde a lama tóxica ficou empoçada criando uma espécie de prainha fedida. Então, sem nenhuma autorização nem comunicação às autoridades, a Vale disponibilizou equipamentos para que a lama fosse removida daquele local e jogada para cima do morro.

As pessoas que moram ali ficaram muito revoltadas. Algumas famílias que estão longe da lama, passariam a ficar muito próximas, caso o procedimento fosse realizado. Outras alertavam que assim que chovesse, os rejeitos de minério se espalhariam por uma área muito maior, já que a lama seria depositada em um ponto mais alto da localidade.

Militantes do MAB comentaram que a Vale também fez isso na bacia do Rio Doce. Lá, foi denunciado o racismo ambiental de se retirar a lama de um local com moradores de maior renda para jogar em um local de moradia de pessoas negras e pobres, aumentando o número de atingidos diretos. 

Está óbvio para qualquer um que acompanha minimamente as notícias sobre a tragédia que a Vale se tornou uma empresa inescrupulosa. A questão que se coloca é que independente de a empresa interpretar o acontecido como um crime ou como um acidente, é inteiramente sua responsabilidade arcar com todos os danos e prejuízos que causou. Ao invés disso, o que vemos são atitudes que só ampliam o dano causado a toda população brasileira.

Autuação do crime ambiental. Imagem: MAB
*O texto é de inteira responsabilidade da autora e pode não refletir a opinião do Jornal.

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