Foto do protesto em 21/11/2020 em frente ao Congresso da Guatemala/ Fonte: Red de Periodistas/Patricia Villegas Marin @pvillegas_tlSUR
Leila Regina – Redação Universidade à Esquerda – 25/11/2020
Depois de aprovação do orçamento para 2021 no Congresso, a Guatemala vive dias de intensos protestos. O orçamento foi aprovado na madrugada de quarta-feira (18/11), sem que todos os deputados tivessem acesso ao conteúdo, nesse orçamento havia um aumento significativo da dívida nacional. O orçamento também não contemplava o combate à pobreza e destinava poucos recursos para educação e saúde, apesar de ser o maior da história do país, chegando a cerca de 12,8 bilhões de dólares. A Guatemala vive uma situação de 59,3% da população na pobreza.
Já no dia no dia 19/11 protestos iniciaram nas redes sociais e se expandiram para as praças. No sábado, protestos foram chamados e reuniram milhares de pessoas em frente da sede do governo, no Palácio Nacional da Cultura. Os protestos chegaram ao Congresso que teve vários gabinetes incendiados. Os manifestantes foram expulsos pelas forças de segurança e bombeiros que aparam o incêndio. Houve dura repressão pela polícia que usou gás lacrimogêneo, mesmo tendo menores nos atos. 37 manifestantes foram detidos durante os protestos do sábado, vídeos que circularam nas redes sociais mostraram a excesso de força dos policiais e repressão mesmo a jornalistas. Pessoas envenenadas pelo gás lacrimogêneo e feridas foram atendidas pela Cruz vermelha e hospitais.
Diante da grande manifestação de descontentamento da população que pedia pela renuncia do presidente, Alejandro Giammattei, o governo suspendeu a tramitação do orçamento aprovado, sem, contudo, explicar quais mudanças seriam feitas. Essa decisão tomada no domingo a noite foi anunciada já na segunda-feira (23/11), mas mesmo após a suspensão a população segue na rua. Na terça lideres indígenas protestaram em frente a casa presidencial exigindo renuncia do presidente e de deputados, também pediram pelo fim do Centro de governo, um superministério criado pelo atual presidente.
Na quarta-feira (25/11) o governo marcou encontro com diferentes setores (entre associações civis, centros de pesquisa, lideranças empresariais, igrejas evangélicas e representantes da Universidade) para repensar orçamento, o novo plano deve ser apresentado nos próximos dias. O presidente indicou que no novo projeto deve priorizar gastos com saúde, desnutrição infantil, segurança, justiça, educação e reativação da economia. Há organizações que se recusaram a participar por não concordarem com a forma do encontro. O governo tem até 30 de novembro para aprovar novo orçamento, ou ficará vigente o orçamento do ano anterior.
As críticas ao presidente já estavam presentes pelas denúncias de corrupção, má gestão da saúde no contexto da pandemia e nos danos dos ciclones Eta e Lota, que atingiram o país neste mês. Os danos das tempestades deixaram mortos, desaparecidos e desabrigados. Depois da aprovação do orçamento a indignação da população que vive em condições difíceis explodiu. Mesmo o vice-presidente tem feito críticas ao governo e propôs a renúncia.
A aprovação do orçamento que aumenta a dívida sem atender as necessidades da população foi o estopim de uma indignação que segue firme pela renuncia do presidente e por uma reforma institucional em todos os poderes.