Imagem: Debate entre as chapas que concorrem à APUFSC realizado no dia 27/09/22, no anfiteatro do EFI/UFSC. Foto: UFSC à Esquerda.

[Opinião] O que está em disputa nas eleições para a diretoria da APUFSC? 

Daniella Pichetti – Redação UFSC à Esquerda – 03/10/2022

Duas chapas disputam a direção do Sindicato dos Professores das Universidades Federais de Santa Catarina (Apufsc) para o período 2022-2024. A votação será online entre os dias 05 e 06 de outubro. O Jornal UFSC à Esquerda entrou em contato com representantes das chapas que concorrem ao pleito para colher declarações sobre o processo eleitoral e suas respectivas propostas. Apenas a chapa 2, “Composição: Autonomia e Democracia”, se dispôs a ceder uma conversa. A chapa 1, “Mais forte nas lutas”, recusou o convite em virtude de críticas à atual gestão da APUFSC que foram publicadas recentemente no Jornal UFSC à Esquerda, já que se trata de uma chapa de continuidade.

Confira aqui a composição das chapas e as datas importantes do processo eleitoral.

Durante o último debate que ocorreu na terça-feira (27/09), a atual diretoria da Apufsc e a imprensa do sindicato impediram que jornalistas do UFSC à Esquerda realizassem a transmissão ao vivo do evento, fato que denunciamos pela censura de um debate que é público em uma universidade federal. O vídeo do debate na íntegra está disponível no canal da Apufsc no youtube.

Oposição pela esquerda: chapa 2 “Composição: Democracia e Autonomia

Paulo Horta, professor do Centro de Ciências Biológicas (CCB) e do Departamento de Botânica, candidato à presidência da Apufsc pela Chapa 2 – Composição: Democracia e Autonomia, cedeu uma entrevista ao Jornal UFSC à Esquerda. Ao falar das pautas centrais da chapa e em torno de quais lutas ela se organiza, retomou o histórico do movimento sindical e enfatizou a necessidade de processos democráticos no sindicato. Paulo Horta ressalta que a chapa é marcada pela diferença, por professores de diferentes partidos e que observam que nos últimos anos houve carência de relações com o universo sociopolítico entre o próprio sindicato e os docentes:

A chapa dá ênfase aos processos democráticos como pilar da candidatura. Para isso, os docentes que a integram se propõem a estar em cada local de trabalho da UFSC com a finalidade de identificar o que prejudica a plena atuação docente. Além disso, se propõem a discutir com as bases as remunerações, as condições de trabalho, de vida, e as carreiras, de forma a fortalecer e retomar o movimento sindical em articulação com lutas nacionais.

Paulo relembra também como a atual gestão lidou com a prisão da estudante de filosofia no ato pela democracia em Florianópolis, no dia 11/08, com pouca mobilização docente; o que, de acordo com ele, representa como a atual gestão não tem aproximação com a base.

“Levaram a estudante com brutalidade. A gente precisava estar ali, ter evitado, estar mais presente, mas a gente não estava mobilizado. E por que a gente não estava mobilizado? Pelo distanciamento da diretoria da base. E como que a gente se aproxima? Visitando todos os departamentos. Hoje o Conselho de Representantes conta com 30 departamentos, e somos 70. Os companheiros dizem que chegam lá e há truculência, não há espaço… É isso que a gente escuta dos departamentos que não têm representantes e dos colegas que continuaram lá. A gente escuta dos colegas que estão na campanha que transformaram o sindicato em um grêmio recreativo. Houveram avanços, mas não avanços suficientes. (…) A gente quer mais ação para ter mais democracia, para que de fato a gente tenha a força necessária para romper a inércia e produzir mobilização”.

A Chapa 2, porém, tem se posicionado como favorável à adesão da APUFSC à Federação de Sindicatos de Professores e Professoras de Instituições Federais de Ensino Superior e Ensino Básico, Técnico e Tecnológico (PROIFES-Federação). Cabe relembrar que recentemente a base da Apufsc votou pela federação nacional do Sindicato ao PROIFES ou ao Sindicato Nacional dos Docentes das Instituições de Ensino Superior (ANDES-SN), tendo ganhado a federação ao primeiro, a partir de um processo de votação cheio de manobras pela atual gestão. Um coletivo de professores de esquerda, chamado Docentes em Movimento, foi quem apresentou contraponto e tentou politizar a discussão e decisão dos docentes da UFSC, porém sem sucesso.

De acordo com as declarações de Paulo Horta, a Chapa 2 também se posiciona pelo enfrentamento dos problemas advindos do Reuni Digital, da Reforma Administrativa e de demais medidas de desmonte da esfera pública. As pautas e princípios da chapa na íntegra podem ser acessados aqui.

Em relação à atual gestão da APUFSC, a chapa tece críticas no que tange à escassa mobilização da base promovida pelo sindicato e a carência de politização das discussões. A chapa dá o exemplo de que, diante do congelamento de salários e dos cortes no âmbito da educação, ciência e tecnologia, o Sindicato não fez o enfrentamento necessário. Destacam, conforme declaração da chapa enviada ao Jornal por escrito, as seguintes questões:

“Apesar da gravidade do momento, o fazer sindical praticado até então, não foi suficiente para reverter o crescente isolamento e desarticulação da categoria, impedindo que pudéssemos contribuir mais no processo de alavancar movimentos sociais, para construir com toda a sociedade os levantes necessários para interromper esse criminoso momento de retrocesso. Além disso, observaram-se ações e inações que fragilizaram o espaço de construção democrática do sindicato que precisamos. Percebemos que a última gestão não se constituiu como um coletivo, sendo predominantemente representada apenas por uma ou duas pessoas. As ações de comunicação não foram efetivas no diálogo com a base, sendo parte da conjuntura relacionada com a falta de engajamento da categoria.

Portanto, fazemos ainda crítica contundente ao atual funcionamento do Conselho de Representantes da APUFSC que tem falhado ao fragilizar a discussão participativa, princípio basilar da democracia. Foi testemunhado pelos conselheiros momentos onde o atual presidente do CR apresentou as propostas na reunião e não valorizou a discussão. Muitas vezes, os conselheiros queriam discutir as propostas e foram desencorajados,sob o argumento de que a proposta era da diretoria. Essa forma de condução dos caminhos do nosso sindicato está equivocada. Nós valorizamos a atuação de grupos de trabalho e vamos restaurar as discussões coletivas, colaborativas, horizontais, fundamentais para um sindicato Com+Posicao. Autonomia e Democracia.

Por essas e por outras estamos colocando nossos nomes à disposição para fortalecer, mobilizar e integrar a categoria com os demais movimentos sociais, sindicais e da universidade.”

A chapa, no entanto, não especifica e não aprofunda o que entende por “mais democracia”. Ao apoiar a adesão ao Proifes, ao invés de questioná-la e posicionar-se criticamente, não abre também mais espaço para um debate sobre os rumos do movimento docente na filiação nacional. 

 A chapa 1 “Mais forte nas lutas” recusou ceder uma declaração sobre as eleições ao UFSC à Esquerda

A Chapa 1 se caracteriza como uma chapa de continuidade a atual gestão da APUFSC e se propõe a seguir dando cabo ao projeto político que vem sendo encampado no Sindicato nos últimos anos.

Dentre suas propostas, a Chapa 1 se coloca em favor de concluir o processo de aquisição de uma sede social, fortalecer a campanha de recomposição das perdas salariais, e atuar “ativa e colaborativamente na Proifes-Federação”. É oportuno lembrar que foram denunciadas críticas de que a assessoria jurídica da atual gestão, durante o processo de decisão sobre a federação nacional da APUFSC, aparelhou a assessoria jurídica em favor de interesses privados, assumindo a posição da diretoria em detrimento de posições tiradas a partir de amplas discussões com os docentes filiados. 

 

Leia também: Golpe em curso na APUFSC.

Um pouco mais sobre o processo de filiação da Apufsc a Proifes

Em 2019 a categoria votou pela filiação a uma das entidades nacionais, Andes-SN ou Proifes-Federação; a discussão foi suspensa durante a pandemia e docentes apontaram que foi retomada apressadamente pela diretoria, por meio de um edital que continha uma contradição com o estatuto. O edital foi aprovado em reunião do Conselho de Representantes que, de acordo com professores do coletivo “Docentes em Movimento”, impediu que a categoria fosse escutada e impossibilitou a ampla discussão sobre o que estava em disputa.

A política da gestão encaminhou o processo tendencioso de adesão da Apufsc ao Proifes ao atrelar a cédula de votação que tratava da adesão ou não ao Andes à dissolução da Apufsc. A declaração da professora do Centro de Ciências da Educação (CED), Célia Vendramini, evidencia o caráter vicioso da última votação sobre a filiação nacional. Os docentes redigiram uma carta, “Não ao Proifes”, que recupera os antecedentes da votação pela filiação e destaca as distorções e o desrespeito do estatuto da entidade pela diretoria.

 

 

Precisamos de um sindicato que tenha coragem de travar e construir lutas políticas ao lado dos estudantes, TAEs e movimentos sociais

A oposição da atual direção da APUFSC denunciou que tais gestões acumularam um caixa considerável que a comunidade universitária não viu ser aplicado onde deveria ser mais urgente: em lutas, em articulação com os movimentos sociais, em movimentos massivos e que tenham como meta a luta pela universidade; uma luta de classe, não apenas restrita à categoria docente. 

É urgente que o sindicato volte a ser um espaço que trave as lutas docentes, que lute pela valorização do trabalho dos professores e que dispute a universidade pública. A classe trabalhadora não precisa de um sindicato que sirva como um clube social. Uma diretoria, quando eleita, que repita um sindicalismo corporativista não serve à educação, não serve à organização dos docentes e à organização da classe. 

A chapa de continuidade apresenta mais do mesmo imobilismo e da mesma política corporativista, que contenta-se com o atual estado de inércia do movimento docente e do isolamento do sindicato das lutas no âmbito nacional. Não apenas contenta-se, como pelo histórico das gestões anteriores, mas move contínuos esforços para que os docentes permaneçam dispersos em seus departamentos de ensino, pouco queiram se aproximar do debate político e da ocupação das ruas na disputa pela universidade.

 

 

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