Imagem: Pawel Kuczynski
Nina Matos – Redação UàE – 24/07/2020
Com a recente aprovação do ensino remoto na UFSC, os estudantes passam a reorganizar sua vida de modo que ela possa encaixar dentro de uma nova normalidade. Com os números de contaminados e mortos ainda em franca ascensão e com a certeza de que não será este ano que o coronavírus deixará de marcar nossas rotinas, a retomada das aulas recoloca em uma rotina rígida mais de 30 mil estudantes universitários, que agora encontram-se por todos os lados do país.
Dado enquanto fato, o ensino remoto agora puxa a atenção da comunidade universitária em prol de sua viabilização. A política da reitoria aprovada pelo Conselho Universitário abre todas as possibilidades, quase não demarcando limites: tudo cabe nela, ficando a cargo dos departamentos e dos cursos a decisão final. É com essa carta na manga que setores do movimento estudantil pretendem pautar os grandes trunfos da permanência como a política a ser adotada por todos os cursos: o ensino remoto com garantias de trancamento “sem prejuízo” e as aulas assíncronas. Mas essas supostas vitórias do movimento estudantil nada mais são do que um conjunto de instrumentos para maquiar o ensino remoto e suas consequências nefastas para a permanência estudantil, pois são medidas que deslocam o problema do âmbito da política tomada para o campo individual.
Nas defesas desse conjunto de medidas para maior inclusão, alega-se que, por exemplo, que aulas síncronas (vídeo conferências online) seriam excludentes pois aqueles que não tem bom acesso à internet, que trabalham no horário da aula, que estão com seus familiares, etc, não conseguiriam acompanhar as aulas e restaria-lhes apenas o trancamento.
Podemos basear-nos na experiência com o ensino à distância (EAD) para compreender tal situação, visto que a única diferença entre essas modalidades é a excepcionalidade. Nos cursos onde toda a carga de aula é ofertada EAD, a evasão dos estudantes chega a 50%, sofrendo aumento, inclusive, com a pandemia. E em grande medida cursos EAD não costumam contar com aulas síncronas.
Completamente sozinhos em frente aos computadores e celulares, uma série de estudantes sentirão a frustração perante o conteúdo mais cru, na falta da mediação dos colegas e dos professores, com dificuldades de realizarem as atividades assíncronas. Ao não conseguirem aprender, esse fracasso será colocado em suas próprias costas, através do discurso que existe por trás desse tipo de política educacional: o estudante precisa ser autônomo e adaptável, se há falhas, é falta de disciplina e organização, não problema de um ensino excludente.
Outra das defesas do pacote de ensino remoto “inclusivo” é a criação da GRAD001, ou “disciplina fantasma” que permitirá a manutenção de um vínculo com a Universidade, garantindo bolsas, auxílio permanência e demais direitos dos estudantes. Ou seja, a todos que não conseguirem se manter nessa lógica de ensino a solução que daremos enquanto movimento estudantil é que tranquem, com a única diferença de que assim manterão a matrícula ativa, será permitir que alguns fiquem para trás enquanto outros avançam nas disciplinas.
Todo esse conjunto de “vitórias” do movimento estudantil na realidade é um conjunto de vitórias da própria reitoria, que agora é desobrigada a garantir condições iguais para todo o conjunto de estudantes. E isto não se deu no momento em que se rejeitou iniciar o semestre apenas quando ocorresse a entrega de todos os equipamentos e auxílios prometidos, mas sim quando o movimento estudantil pautou a permanência nesses termos.
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Todos aqueles que deixaram de se posicionar contra o ensino remoto precisam estar cientes do peso dessa política. Ela individualiza às últimas consequências o fracasso de um projeto de educação. Retira do coletivo, atomiza em cada estudante a culpa por não conseguir aprender e secundariza o trabalho docente, negando até mesmo a importância dos debates entre pares na sala de aula.
Assim como uma aula é feita na coletividade, a luta também precisa ser. Precisamos estar juntos, rompendo com as barreiras da individualização que coloca em nós uma culpa que não é nossa, mas sim de um projeto de sociedade que é por si só excludente.
Antes que as horas e horas de vídeo aulas e atividades queimem-nos os olhos, que possamos quebrar a cabeça na luta coletiva, ao lado de nossos colegas discentes, docentes e técnicos, rompendo mais uma vez com a individualização que nos impõe todos os dias e travar uma luta forte, para que ninguém fique para trás!
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