[Debate] Ensino Remoto na UFSC: implantada a política do Reitor para a instituição

Ilustração: Imagem do filme “The Wall”, produzido para o àlbum de mesmo título da banda inglesa”Pink Foyd”

Morgana Martins e Nina Matos – Redação UàE – 17/07/2020

Na tarde de hoje, a política da reitoria da a Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) de implantação do ensino remoto emergencial para substituição das atividades de ensino obrigatórias do semestre foi aprovada pelo Conselho Universitário (CUn). Para a comunidade universitária, esse dia deixa uma marca, pois ele representa não só o dia em que a Reitoria de Ubaldo Balthazar demonstra sua política, mas também o dia em que a UFSC escolhe a dedos quem fica na instituição.

Após mais de quatro meses de suspensão de atividades, de incertezas, preocupações, crescimento massivo da disseminação de COVID-19, aumento de mortes no Brasil e o aprofundamento da crise econômica, o CUn convoca a comunidade universitária a se debruçar no estudo de como retornar as atividades de ensino.

Até agora a suspensão das aulas pode resguardar a comunidade universitária mantendo as bolsas estudantis e permitindo que professores pudessem tanto seguir as pesquisas em curso quanto se dedicarem a estudar pandemia e a crise, abrindo uma nova relação com a comunidade externa através da participação em cursos abertos, debates, lives, etc. No entanto, ao invés de continuar preservando a comunidade e impulsionando essas ações de um profundo espírito universitário, a reitoria e o conselho preferem que professores e estudantes sejam incorporados à lógica do ensino à distância.

A decisão por esse “novo normal” da reitoria, uma decisão tão impactante, foi tomada como se não roubasse o futuro de uma geração inteira de estudantes que terão como única opção a evasão. O abandono de muitos estudantes talvez possa ser maquiado, uma vez que fala-se sobre a criação de uma disciplina fantasma que só serve para que estes estudantes mantenham a matrícula, um vínculo meramente formal com a universidade, como se fosse esse o vínculo que precisamos ter entre nós. Teremos uma geração inteira de estudantes que entra na universidade através de uma plataforma digital, sem mesmo conhecer seu espaço físico.

É importante lembrar que essa decisão, assim como em outras universidades, responde às pressões do empresariado, expressas também no Ministério da Educação, que ameaçaram e difamaram essa instituição tão cara para a classe trabalhadora. Com a votação de hoje, a UFSC, através do CUn, decidiu ceder aos ataques feitos pelas mídias catarinenses e setores do empresariado retomando as atividades de ensino.

O ensino à distância foi, em grande medida, o máximo que a reitoria da UFSC teve a dispor frente à crise sanitária e econômica que marcará o século que vivemos. Um abandono aos estudantes, à comunidade universitária e ao papel da própria reitoria. A escolha de Ubaldo foi gerir a catástrofe ao invés de direcionar os esforços intelectuais e culturais da universidade no caminho de sua superação. O reitor apequenou o Conselho Universitário (no qual a maior parte dos membros optou por participar ativamente desta política) e apequenou a Universidade. 

Mais do que nunca, hoje ficou claro que as políticas da classe dominante não são passíveis de “redução de danos” que possam ser propostas nos espaços de institucionalidade, como muitos setores do movimento estudantil e da esquerda se propuseram tão veementemente, pois as concepções dos administradores e do movimento estudantil são inconciliáveis, tanto que o semestre à distância vai iniciar sem que nem mesmo seja garantido equipamentos e acesso de internet aos estudantes.

Ubaldo decidiu deixar muitos estudantes para trás. E não o fez porque as aulas não serão gravadas, ou a frequência será cobrada. Essa decisão se deu no momento em que o ensino remoto foi aprovado para substituir as atividades letivas obrigatórias. Aqueles que compactuaram com isso estavam do lado da reitoria e não dos estudantes.

Foi preciso escolher um lado durante todo esse tempo: o lado dos que defendem a universidade e a educação nacional; e o dos que defendem apenas interesses próprios, sejam eles quais forem. E hoje podemos ver muito bem quem esteve ao nosso lado. 

*O texto é de inteira responsabilidade da autora e pode não refletir a opinião do Jornal.

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