[Opinião] “Fomos com ele o tempo todo, sempre!” – Emílio Odebrecht sobre Lula

 

José Braga* – Redação UàE – 14/04/2017

 

– Já em 89? – Já… Fomos com ele o tempo todo, sempre! Nunca neguei isso…

[Excerto do minuto 7,35 do vídeo de delação de Emílio Odebrecht à Procuradoria Geral da República. Depoimento 4 – “Lula, Geral” – sobre a relação construída entre o ex-presidente e o alto escalão da Odebrecht].

 

Com a recente liberação do sigilo dos depoimentos que compõe o acordo de delação premiada dos executivos da Organização Odebrecht nesta semana, a todo o momento, em todos os meios de comunicação, têm surgido novos escândalos e denúncias originadas na íntima relação entre o conglomerado empresarial e um amplo conjunto de políticos. Diferentes partidos foram atingidos pela delação: a alta cúpula do PSDB, Aécio, Serra, Alckmin, Fernando Henrique; do PMDB, inclusive o presidente ilegítimo Michel Temer, o presidente do Senado Eunício Oliveira, Romero Jucá, dentre outros. Mas, é de se destacar o Partido dos Trabalhadores. Não apenas pelo número de denúncias, ou pelos denunciados, mas pelo que perpassa esses fatores: a união deste partido com certos setores da burguesia.

Sem minorar a relevância da corrupção, ou das arbitrariedades da operação lava-jato, nem mesmo do papel nefasto do judiciário e menos ainda a relação de outros partidos e políticos com o Capital, é ultrajante e revelador assistir a intimidade com que Emílio Odebrecht se refere a Lula – figura de maior expressão do Partido dos Trabalhadores. Emílio, com o cinismo de seu primeiro nome, relata a extensão de seu contato com Lula, quase “institucional”, e que desde que ele esteve com este “programa”, de postular-se a Presidência da República, estiveram ao seu lado. Diz Emílio, que além da ajuda financeira as campanhas, em suas conversas com Lula ajudava também no “conteúdo”, “naquilo que ele devia priorizar, olhar pro país e nisso, nisso”.

Ironia é que a relação entre Emílio e Lula teria se firmado através de Mário Covas, falecido cacique do PSDB e Governador do estado de São Paulo entre 1995 e 2001, ainda nos idos anos de 1980. De acordo com Odebrecht, sua primeira conversa teria durado cerca de 9 horas. Ora, o relato do poderoso executivo, muito além das denúncias das vantagens do conglomerado obtidas através de relações escusas, evidencia o que os socialistas há anos denunciam: o programa deste Partido, as bocas de seus principais quadros, falam menos de um projeto dos trabalhadores para superar esta sociedade e mais, muito mais, do que desejam os empresários para este país e sua classe trabalhadora com intuito de valorizar seus capitais, de gerar mais e mais lucros. E ainda, para os saudosistas, os que rememoram sempre um partido combativo, forjado nas lutas dos trabalhadores por uma vida melhor, contra a ditadura empresarial-militar uma lembrança que desde lá há setores no PT comprometidos com o patronato.

E com tudo isso há ainda aqueles que querem reciclar o partido, reinventar Lula para 2018. Mais oportunismo, e mais traição! Querem aproveitar dos esforços de resistência contra os ataques dos empresários, organizados no governo Temer, cuja sanha avança sobre as condições de vida dos trabalhadores, para reconquistá-los a seu projeto. Como se este não estivesse também em compromisso com os interesses burgueses, como se por 14 anos não tivéssemos experienciado seu compromisso. Querem reconformar seu pacto de classes, à custa da luta de nossa classe. Esquecem apenas dos bilhões e bilhões que as construtoras, os bancos, os empresários, a Odebrecht lucrou nesses treze anos. E não apenas por conta da corrupção, de suas relações espúrias, mas de sua política de compromisso!

Dirão, apenas: “Não há alternativa, nestes catorze anos milhões saíram da pobreza extrema, o desemprego estancou…” e pintarão seu quadro de alívio. E o farão em justaposição à brutalidade do momento em que vivemos, 13 milhões de desempregados, precarização e privatização por todas as partes. E gritarão, ou melhor, gritam: “não há saída”. E o fazem nas ruas em lindos discursos embargados, vibrantes. E o fazem na universidade, na UFSC. Nos movimentos dos trabalhadores, no movimento estudantil.

Frente a isso precisamos dizer: Há! Mais do que dizer demonstrar que há uma saída a ser reconstruída, uma alternativa de esquerda e socialista. Um caminho com qual nós trabalhadores possamos sonhar novamente, e não perecer no marasmo dos projetos postos à mesa, e melhor ainda um caminho em que este sonho possa se efetivar.

Que o conteúdo das delações, seus vídeos e “anexos” possam nos servir de lição. De uma lembrança do que vivemos, e de alerta do que está por vir.

 

*O texto é de inteira responsabilidade do autor e pode não refletir a opinião do Jornal.

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