Imagem: recorte da arte de divulgação da ADUnB.
Nina Matos – Redação UàE – 30/03/2021
Em fevereiro, a reitoria da Universidade de Brasília (UnB), anunciou uma proposta de cooperação entre a universidade e o Estado de Israel, por meio da inserção de empresas israelenses no pólo tecnológico da UnB.
Na postagem em que anuncia a proposta, a reitora da UnB defende que a internacionalização é “um dos aspectos mais importantes para a melhoria de indicadores acadêmicos”.
Como resposta, docentes da universidade redigiram uma carta-manifesto à reitoria — que apenas confirmou seu recebimento, sem se manifestar sobre o conteúdo.
Em assembleia extraordinária, no dia 22 de março, a Associação dos Docentes da Universidade de Brasília (ADUnB), redigiu uma moção contrária à proposta, denunciando os crimes que Israel vem comentendo contra o povo palestino.
Além da problemática da inserção de empresas privadas dentro da universidade, a proposta torna-se ainda mais absurda por tratar-se de uma cooperação com o país que vem cometendo massacres cotidianamente contra o povo palestino.
Frente à pandemia do Covid-19, não apenas o Estado de Israel não cessou, como também escancarou o genocídio contra os palestinos. Enquanto Israel é o país com maior avanço na vacinação contra o coronavírus, palestinos são privados das vacinas por bloqueios e confiscos, têm armazéns de insumos médicos destruídos e até mesmo a água, sendo considerada como propriedade israelense, é negada.
A proposta de cooperação da reitoria da UnB faz vistas grossas aos crimes de Israel. Cooperar com um Estado de apartheid não deve ser uma tarefa da Universidade — e é isto que significa cooperar com o Estado de Israel, é cooperar para a manutenção da opressão contra o povo palestino.
Abaixo, na íntegra, a moção produzida pela ADUnB:
Moção contrária a qualquer cooperação da Universidade de Brasília com o Estado de apartheid de Israel, aprovada na Assembleia Geral Extraordiária da ADUnB realizada em 22.03.2021
Em fevereiro de 2021 foi divulgado na página do Facebook da reitora da Universidade de Brasília o comunicado de uma proposta de colaboração realizada com o embaixador de Israel e o convite à empresas israelenses para se instalarem no parque científico e tecnológico da universidade. Em resposta, um grupo de docentes e discentes integrantes da UnB enviaram uma carta-manifesto para a reitora cujo conteúdo apelou para a rejeição de tal colaboração com base em dados documentados que evidenciam o caráter racista e expansionista de Israel e do regime de apartheid que o caracteriza.
O posicionamento contrário à proposta de colaboração se dá por se tratar de uma cooperação com Israel, um Estado de apartheid, fato este amplamente conhecido e mais recentemente reiterado no relatório da ONG israelense de Direitos Humanos B´Tselem, intitulado “ This is apartheid: The Israeliregime promotes and perpetuates Jewish supremacy betweenthe Mediterranean Sea and the Jordan River” (https://www.btselem.org/publications/fulltext/202101_this_is_apartheid)
O que tem faltado ainda na ocasião oportuna de uma declaração à comunidade universitária é a identificação de quais e em quê seriam estas colaborações acordadas e em tratativas. Incidiriam sobre que atividades acadêmicas, de pesquisa e extensão, com quais instituições acadêmicas e de pesquisa, com quais empresas, para quais tecnologias, fabricadas onde e se extrai sua matéria-prima em territórios ilegais a luz do direito internacional.
São várias universidades em países diferentes que expressaram esta postura anti- colaboracionista. Pode-se exemplificar com as Universidades de Illinois e Columbia que tiveram referendos ratificando a não participação em programas e fundos compartilhados com entidades participantes da espoliação de palestinos. O departamento de Análises sociais e Culturais da Universidade de Nova York cortou as relações oficiais com o campus de Tel Aviv. O Conselho do Pitzer College votou a favor de suspender ações com a Universidade de Haifa. Resoluções nesta linha foram aprovadas por membros da Associação Nacional de Estudos de Mulheres nos EUA; a Associação Nacional de Estudos Chicanos e Chicanas; a Associação paraEstudos Indígenas e Nativo-Americanos; a American Studies Association; A Associação para a Sociologia Humanista dos EUA; a Associação para Estudos Asia-Americanos; as Universidades sul-africanas de Joanesburgo, Cape Town, Pretória, KwaZulu-Natal e Setellenbosch; a União de Professores e a NUI Galway Students’ Union da Irlanda;a Associação de Estudantes da Universidade de Sidney Ocidental; a Associação de Professores Universitários do Reino Unido também votou a favor de boicote às colonialistas Universidades de Haifa e Bar-Illan.
A Associação dos Docentes da UnB (Adunb) alia-se a essas demandas e se coloca frontalmente contrária a qualquer cooperação com o Estado de apartheid de Israel, o que afrontaria princípios fundamentais, como direitos humanos, e convenções internacionais. Assim, reitera a reivindicação de que a Reitora mantenha a UnB como espaço livre de apartheid.