Foto: Cartaz no hall do CFH-UFSC; por UFSC à Esquerda
Beatriz Costa – Redação UàE – 09/04/2019
Após diversas situações nas quais os estudantes do CFH foram impedidos de utilizar os auditórios para realização de eventos, não receberam o auxílio para impressão do jornal do Calpsi após avaliação de conteúdo, entre outras medidas de censura no ambiente acadêmico, estudantes da psicologia expuseram a situação em uma faixa no hall do CFH e por meio de uma carta publicada na sua página do Facebook. Confira a carta na íntegra:
Carta aberta contra a censura no cfh: por que estudantes não podem utilizar o espaço físico?
Em setembro de 2018 os discentes de Psicologia construíram autonomamente a XI Semana Acadêmica de Psicologia. Após extensos debates e análises para avaliar quais os temas pertinentes frente à conjuntura, os estudantes foram impedidos de reservar os auditórios do CFH — tradicionalmente utilizado para esse evento — pois, segundo os professores e a coordenação do curso,ainda que as reuniões para a elaboração do evento tenham sido abertas, só poderiam fazê-lo caso os docentes participassem diretamente da construção da Semana.
No início deste ano, tendo em vista a gravidade do rompimento da barragem em Brumadinho no mês de fevereiro, o Calpsi convidou uma palestrante para debater acerca dos significados e impactos de mais um crime ambiental envolvendo o rompimento de barragem e a irresponsabilidade empresarial frente a vida dos/das trabalhadoras. Quando solicitamos a reserva para esse importante evento, a coordenação de curso recusou alegando não participação.
Na recepção dos calouros, o CALPsi realiza uma mostra de artes já há três semestres com apresentação de muitos estudantes do curso. É um importante momento para os alunos interagirem e se conhecerem, bem como de explorar novas formas de interação universitária. Pela primeira vez desde seu nascimento, a III Edição do Psiartistas ocorreu fora do cfh após a repetida recusa da coordenação de curso.
Perante a tentativa dos estudantes de debaterem coletivamente com o curso acerca de questões relevantes para a Universidade e nacionalmente – inclusive nas importantes paralisações do #Elenão -, solicitamos diversas vezes a utilização de auditórios. Quando não foi impedida, diversas vezes a reserva ficou a critério do conteúdo do debate. Ou seja, dependendo do conteúdo da discussão a reserva poderia sofrer censura.
Além das questões propriamente do curso de psicologia, houveram diversas censuras no próprio CFH: crianças indígenas foram restringidas de utilizar o espaço; o jornal do calpsi foi impedido de ser impresso após a direção avaliar seu conteúdo; a Direção de Centro autocraticamente decidiu que não poderiam ser utilizados eletrodomésticos nos CAs; solicitação para a construção de um regimento restringindo a utilização da copa coletiva. Em suma, por todo o centro, estudantes e comunidade estão sendo colocados sob tutela de decisões arbitrárias e autoritárias em nome da proteção do patrimônio.
Nós do CALPsi questionamos a que serve essa proteção do patrimônio: de que forma a direção e coordenação enxergam os estudantes? Até ano passado os estudantes podiam solicitar reserva, prática que ainda se mantém em alguns outros centros. Sob alegações de possíveis furtos e danos, os estudantes são taxados de irresponsáveis e, consequentemente, impedidos de exercer seu papel ativo na Universidade. Até quando seremos os bodes expiatórios do CFH?
Defendemos que o cuidado com o patrimônio não se constrói a partir de resoluções autoritárias e exclusão da participação estudantil/comunidade, mas sim a partir da articulação coletiva das noções de pertencimento e seu cuidado consequente.
Essas restrições também ferem a lógica da Universidade pública. Não à toa as decisões significativas da universidade são tomadas em colegiados, conselhos, entre outros instrumentos dos quais participam todos as categorias. Ainda que a baixa proporcionalidade/representatividade dos estudantes possa ser questionada, esses espaços funcionam como o controle social da Universidade, nos quais todos podem discutir e propor os rumos da administração e política dessa instituição. Aqueles que ocupam os cargos administrativos nessa postura gerencialista, censurando espaços a partir de seus conteúdos, impedem que os estudantes possam exercer o princípio da autonomia da Universidade, nos excluindo de propor e participar ativamente de debates relevantes enquanto categoria autônoma.
Perante essa dura conjuntura, as censuras da administração aos nossos espaços estão banhadas de medo sobre a radicalidade das nossas lutas e suas possíveis consequências. Afirmamos que não rebaixaremos nossos debates ou deixaremos de pensar a realidade, afinal, essa é a função última da universidade e deve ser a preocupação fundamental para qual nossos esforços são direcionados.
Não nos amedrontaremos frente a um governo ilegítimo ou aos autoritarismos administrativos na Universidade!
Pela autonomia estudantil e liberdade dos debates!