Foto: Orgulho de Ser da Vila Aliança/Wikicommons.
Nina Matos – Redação UàE – 19/04/2021
Kaio Guilherme da Silva Baraúna estava na festa da escola que estuda — na Vila Aliança, zona oeste da capital do Rio de Janeiro (RJ) — quando caiu de repente no chão. Levado ao hospital, a família pode então descobrir o que ocorreu ao menino: foi uma bala perdida que atingiu sua cabeça.
O menino, de apenas oito anos, estava acompanhado da família na festa. De acordo com os familiares que estavam presentes, não foi ouvido qualquer barulho de tiro e nenhuma operação policial ou confronto acontecia no local. Apenas o avô, responsável por registrar a ocorrência, relata ter ouvido disparos de outra comunidade em direção à Vila onde moram.
Kaio deu entrada no Hospital Municipal Albert Schweitzer com parada cardiorrespiratória. Ele foi reanimado e transferido ao Hospital Municipal Pedro II, que é referência em neurocirurgias.
Segundo a Secretaria Municipal de Saúde, o estado de Kaio é gravíssimo. Devido a falta de leitos, a criança não pode ser imediatamente internada e o agravo do seu quadro de saúde impediu que a operação pudesse ser procedida.
Na virada do ano, Alice Pamplona da Silva, de cinco anos, foi alvejada no pescoço em meio à queima de fogos no morro do Turano, região central do Rio. Ela não resistiu ao ferimento. Desde a morte de Alice, 15 crianças foram baleadas no RJ.
Em meio aos conflitos de facções, milícias e operações policiais, crianças são alvo mesmo com o uniforme escolar. Em 2018 o país chocou-se com o caso de Marcos Vinícius, menino de 14 anos morto com um tiro nas costas enquanto voltava da escola. Ele vestia seu uniforme quando foi alvejado por um “blindado”.
Apesar da comoção, as operações policiais próximas às escolas continuaram ocorrendo. No dia 18 de março deste ano, uma professora registrou o momento em que precisava orientar seus alunos a sentarem no chão e manterem o distanciamento social durante um tiroteio.
Em cerca de 90% dos crimes cometidos por agentes policiais em operações — os chamados “autos de resistência” — não há sequer investigação ou os casos acabam sendo arquivados. Em 2020, 12 crianças foram mortas por tiro de arma de fogo no RJ, mas apenas um dos casos foi concluído, pois o autor foi preso em flagrante.
Em janeiro deste ano foi sancionada a Lei Ágatha Félix, assim nomeada em homenagem à menina assassinada pela polícia em setembro de 2019. A Lei prevê prioridade nas investigações de crimes contra crianças e adolescentes no RJ.