[Opinião] Eleições online na UFSC: um debate necessário

Imagem: Montagem UFSC à Esquerda – Originais: Imagem do Pixabay e Foto da mobilização da Psicologia em 2018

Flora Gomes – Redação UFSC à Esquerda – 20/04/2021

O debate sobre eleições online na UFSC paira como um fantasma nos processos eleitorais nas entidades de base. Isso porque, tradicionalmente, grupos ligados à direita, como Movimento Brasil Livre (MBL) e Estudantes Pela Liberdade (EPL), assombravam as decisões democráticas tentando substituí-las por consultas de opinião. Contudo, no momento atual, com a ausência de perspectivas para o retorno presencial e seguro às atividades de ensino, tem reacendido este debate, ainda que sob outras circunstâncias. Agora, trata-se da tentativa de adaptar essa frutífera experiência das eleições nas bases às possibilidades de hoje. 

No ano passado, seja pela expectativa do retorno presencial, pelas dificuldades da realização de um processo eleitoral online ou pela sede de autoperpetuação, diversas entidades estudantis de base decidiram pelo prolongamento de suas gestões. Muitos Centros Acadêmicos (CAs), o Diretórios Central dos Estudantes (DCE) e a Associação de Pós-Graduandos (APG) optaram pela extensão de suas gestões. Entretanto, sem vislumbrar um retorno presencial das atividades de ensino, diversos Centros Acadêmicos na UFSC estão ou passarão por um processo eleitoral em breve. 

Este cenário tem reacendido uma pauta que já foi muito utilizada por setores reacionários da Universidade quando as atividades eram presenciais: as eleições online. Na época, alguns movimentos à direita argumentavam em favor das enquetes onlines, afirmando que estas tornariam mais democráticos os processos eleitorais. Na verdade, o que a direita buscava repreender com esta defesa eram as mobilizações políticas que tais processos geram no ambiente universitário. 

Conforme apontou Nina Matos, o momento das eleições são bastante fecundos pois permitem que muitos estudantes façam sua primeira experiência de militância. Além disso, as divergências estão propícias à emergir das conversas pessoais ao debate público, ou ainda, que as gestões sejam abertamente criticadas pela sua base. Em síntese, os processos eleitorais costumam gerar uma mobilização política na universidade, mobilizando as consciências de muitos estudantes que passam a se engajar politicamente a partir dos mesmos. 

Naquele momento, portanto, o que a direita buscava era transformar o rico momento político das eleições em uma mera consulta de opinião com as bases. Sem os debates amplos e as disputas de entendimentos, os processos de decisão envolvendo as bases não passam disso: uma consulta de opinião. Buscava-se minar o debate público, o confronto das teses e, em consequência, a possibilidade de mudança de consciência dos estudantes. Esta é a típica posição daqueles que visam assegurar que a história siga seu curso normal, sem transformação substantiva dos sujeitos políticos envolvidos em uma instituição. 

Por esse motivo, a defesa das eleições online era uma pauta conservadora. A vida universitária girava em torno de uma dinâmica presencial que era fundamental para garantir a democracia do processo eleitoral. As passagens em sala, os debates, as conversas nos corredores e nas salas de aula eram espaços extremamente importantes para compor a formação o pensamento político dos estudantes. Ou seja, o conservadorismo ligado às eleições online nunca foi uma determinação própria destas, mas sim, uma característica contingente baseada tanto nos interesses da direita naquele momento, quanto do papel cumprido pelo espaço presencial na vida universitária.

O desafio hoje enfrentado pelas entidades de base é, portanto, não o de encontrar maneiras para adiar os processos eleitorais online, e sim, o de como transformá-los em um instrumento que permita um processo democrático e político. Estes últimos são marcados não apenas pela participação massiva de estudantes, mas sobretudo pela implicação subjetiva de cada um no momento do voto. Aqueles que optaram pela continuidade das gestões poderiam, inclusive, estar refletindo sobre essa decisão. Ela foi feita baseada em comodidade, porque pensou-se que um processo online não era possível ou porque as bases de fato confiam nas direções das entidades?

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A tarefa dessas entidades é, portanto, a de criar os instrumentos que se adequem às circunstâncias sociais e políticas nas quais as universidades se encontram. Infelizmente, o marasmo em que se encontra o movimento estudantil da UFSC, seja porque em sua grande maioria está preso na disputa meramente institucional ou porque, enrijecidos pelo processualismo corporativo, não souberam reinventar as tradições de luta para o atual momento, faz parecer que um processo eleitoral online é inviável. Contudo, é necessário ter em vista que, para que esses processos eleitorais sejam democráticos, é preciso reinventar os meios objetivos que possibilitem o comprometimento subjetivo das bases. Isso implica, por um lado, pesar as perdas que as atividades remotas geram, e, por outro, elaborar com o conjunto dos estudantes de que maneira permitir a participação massiva e qualificada nestes processos. Por isso, se algumas entidades têm trabalhado para manter as coisas como estão, cabe às bases apontar as saídas políticas possíveis. 

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