Maria Alice de Carvalho – Redação Universidade à Esquerda – 18 de julho de 2022
A Polícia Militar (PM) de Minas Gerais (MG) assassinou, na madrugada do último domingo (17), Marcos Vinícius Vieira Couto. O assassinato ocorreu na Vila Barraginha, em Contagem, durante abordagem policial.
Marcos Vinícius, mais conhecido como Marquinhos, era um homem preto de 29 anos, pai de três filhos. Ele está sendo velado desde às 11h em Contagem e o enterro está previsto para às 16h.
Em registro do Boletim de Ocorrência (BO), a PM justifica que a truculência ocorreu devido a Marcos Vinícius estar portando arma de fogo e ter reagido à abordagem policial. No BO está escrito que Marcos Vinícius tinha cometido “agressão que põe em perigo de morte o policial militar ou as pessoas envolvidas na intervenção”.
Mas a verdade é que nenhuma arma foi encontrada com Marcos Vinícius e os registros em vídeo mostram ele com as mãos para cima, sem tentar reagir à abordagem policial que ocorre, desde o início, de forma violenta.
Os policiais chegaram ao local portando um fuzil e uma pistola. A PM relatou que Marcos Vinícius teria tentado retirar o fuzil de um dos policiais e, sem conseguir, tentado retirar a pistola do outro que efetuou os três disparos. Novamente, os vídeos realizados por familiares e outras pessoas da comunidade, que estavam no local no momento, mostram que não foi isso que ocorreu.
Nos vídeos, Marcos Vinícius é mostrado conversando com os policiais, rendido com as mãos para cima. Em seguida, ele é levado por um dos policiais para trás de um veículo, onde é rapidamente alvejado. No momento do assassinato, escuta-se três tiros e as testemunhas gritam que ele não reagiu e, desesperadas, questionam o ocorrido. Após os disparos, Marcos é arrastado para dentro da viatura.
É possível escutar ao fundo de um dos vídeos, gravado pela irmã de Marcos Vinícius e circulado pelo site do G1, gritos que dizem “ele não fez nada! Eu estou filmando tudo […] mais uma vez vocês fizeram isso, mais uma vez”.
O BO da PM diz que a vítima chegou ao hospital com vida, porém a prefeitura de Contagem informou que Marcos Vinícius chegou já morto ao Hospital Municipal.
O assassinato de Marcos Vinícius será investigado pelo Ministério Público de Minas Gerais (MPMG). A 11ª Promotoria de Justiça de Contagem, com atribuição na Defesa dos Direitos Humanos e Controle Externo da Atividade Policial, está instaurando no dia de hoje (18) um procedimento investigatório criminal para apurar o caso.
A Comissão de Direitos Humanos da Ordem dos Advogados do Brasil em Minas Gerais também acionou as autoridades, como o MP e a Ouvidoria de Polícia do Estado. Segundo a Comissão, Marcos Vinícius foi o terceiro assassinado pela PM neste local, em menos de duas semanas. A entidade também afirmou que as mortes ocorreram por “o suposto traficante e outros não pagaram os valores de suposta corrupção cobradas e devidas aos policiais”.
A família de Marcos Vinícius, ao ser contatada pela imprensa, informou que ele estava em um bar quando foi abordado pela PM. A PM chegou no local alegando ter recebido uma denúncia de que Marcos Vinícius estava realizando disparos, mas mesmo após ele mostrar não estar armado um policial o matou.
Daniele Aparecida Vieira, irmã de Marcos Vinícius, afirmou ao Jornal O Tempo que “ele [o policial] já veio pra executar o meu irmão; e nós queremos justiça!”. Daniele relatou que a polícia foi acionada após uma briga com outra pessoa na comunidade, e que o militar que assassinou seu irmão já é conhecido na região. Daniele confirmou que Marcos Vinícius recebeu dois tiros na cabeça e já chegou ao Hospital sem vida, desmentindo a versão contada pelos policiais.
A mãe de Marcos Vinícius, Eliane Vieira Couto Lima de 60 anos, ao ser contatada pela imprensa questionou: “Por que não levaram ele preso? Por que mataram meu filho? Meu coração está sangrando, minha vida acabou. […] Meu filho já errou no passado, mas há um tempo estava reerguendo a vida dele. Estava trabalhando, sustentando a família dele”, afirmou a mãe.
“No mundo a gente nasce, sabendo que vai morrer. Se eu estivesse aqui na hora em que mataram meu filho, eu também estaria morta, porque eu abraçaria meu filho e tentaria impedir que matassem”, contou Eliane.
Os familiares, amigos e vizinhos negam a versão contada pela polícia. Um dos moradores, em entrevista ao Jornal O Tempo, relatou: “O cara não fez nada. Ele estava cooperando. O PM executou a queima roupa e depois arrastou o corpo como se fosse um lixo. […] A gente fica com medo. A polícia tem que proteger a gente, não matar, né?”.
O militar que assassinou Marcos Vinícius foi conduzido para o 39º Batalhão, onde foi feito o flagrante de prisão. A porta-voz da PM, major Layla Brunnela, disse em coletiva de imprensa no dia de ontem (17) que “não há qualquer tipo de excesso, de exagero na abordagem” e que os vídeos que circulam nas redes sociais foram editados; a major ainda alega que Marcos Vinícius estava sim com uma arma, e que as pessoas da comunidade retiraram a arma do corpo dele após ele ter sido alvejado.
A família de Marcos Vinícius está programando uma manifestação que deve ocorrer nos próximos dias. Após o assassinato dos outros dois homens que ocorreu recentemente no mesmo local, a população fchou uma das vias da Avenida Eugênio Paccelli, no sentido Belo Horizonte, e atearam fogo em restos de madeira e pneus em protesto.
Marcos Vinícius é mais uma das vítimas da PM assassina, responsável por operar a “segurança” no território brasileiro. A justiça deve ser feita, por Marcos Vinícius e por todos os outros que morrem todos os dias no Brasil.