Daniella Pichetti – Redação UFSC à Esquerda – 17/10/2022
A gestão do Hospital Universitário (HU) da UFSC, da Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (EBSERH), divulgou recentemente que a unidade de emergência pediátrica está suspensa desde o último fim de semana (15/10), em decorrência da falta de profissionais. A medida corresponde ao plano de contingenciamento apresentado pela equipe técnica da empresa para contornar a demanda por atendimentos. Em nota, foi comunicado que a emergência deixa de prestar atendimentos à população até o dia 24 de outubro, às 7h. No começo de setembro a emergência já havia sido fechada, como a técnica de enfermagem Carolina relatou ao Jornal.
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Os casos de emergência pediátrica deverão ser encaminhados para as Unidades de Pronto-Atendimento (UPA) ou outras unidades pediátricas na região. Os pacientes que estão internados e aqueles encaminhados pela rede de saúde serão atendidos.
O HU atualmente conta com apenas dois médicos pediatras para atender na internação e na emergência. A falta de profissionais, bem como a ausência de reajuste salarial e sobrecarga de trabalho, foi denunciada durante a última greve realizada pelos trabalhadores da EBSERH entre os dias 21 e 30 de setembro. A greve foi encerrada após a categoria conquistar um acordo parcial com a empresa, no entanto, a precarização do serviço em virtude da gestão privatista do hospital se mantém.
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Em nota, a gestão afirma que a instituição precisou contar com o trabalho de servidores por meio de horas extras e remanejou atividades de ambulatório para o setor de emergência. No entanto, ainda com o plano de contingenciamento e reorganização dos processos de trabalho, o déficit de oito médicos na escala não é suficiente para atender à população que procura por atendimentos. A justificativa é de que, apesar de novos profissionais já terem sido convocados, não há previsão de novo processo seletivo.
A partir do dia 1º de novembro, a emergência de pediatria atenderá das 7h às 21h, sem previsão do fim do contingenciamento.
Um estudante de Medicina da UFSC relatou ao Jornal que há turmas bastante prejudicadas por conta do funcionamento da maternidade no HU, que está com poucos funcionários e há indicações de que em breve também fechará:
“Tá bem complicado mesmo, a população que sofre sem atendimento é o mais preocupante na minha opinião, mas a função do hospital escola fica bem prejudicada. (…) Inclusive o departamento de pediatria formou uma comissão para lidar com isso tudo. A maternidade toda vai fechar. O problema da maternidade fechar é semelhante ao que tá acontecendo na pediatria. Falta de funcionários porque ninguém quer trabalhar nessas condições. Até final do mês vão parar [obstetrícia] e provavelmente só voltam em fevereiro. Bem grave, muito tempo fechado. Me preocupa muito a quantidade de médicos que vão se formar sem ter uma experiência mais aprofundada na pediatria, é muito fundamental pra um clínico geral ter esse conhecimento.”
A grave solução apresentada pela gestão da EBSERH, de fechar as portas para a população frente à falta de profissionais, é alarmante e se articula a todo um contexto de bloqueio orçamentário destinado à saúde e à educação. Aqueles que mais sofrem as consequências são os que dependem do serviço prestado pelo HU; os trabalhadores, que para atender à alta demanda se desdobram em extenuantes jornadas de trabalho; e os estudantes que realizam estágio no hospital. Por isso, é fundamental que a luta contra a precarização do HU se una à luta contra os cortes nas universidades brasileiras.
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O Jornal UFSC à Esquerda está em contato com trabalhadores do HU e seguirá acompanhando a situação do hospital. Havendo atualizações, estas serão adicionadas à matéria.