[Opinião] A efervescente mobilização dos estudantes do CFM

Imagem: UFSC à Esquerda

Rita Pereira e Luísa Estácio* – Redação UFSCàEsquerda – 16/06/2023

Há anos que a UFSC encontra-se em uma situação dramática de sucateamento — aqui neste jornal já noticiamos e veiculamos muitos textos de análise sobre a dura realidade enfrentada pela instituição, com pelo menos uma década de cortes orçamentários.

Frente ao sucateamento, há projetos de universidade distintos e em disputa a partir de lugares opostos: por um lado, existem aqueles que olham para a universidade como um local que pode e deve ser vendido à iniciativa privada; que defendem que a universidade deve ser gerida tal qual uma empresa; por outro, há aqueles que não naturalizam a falta de recurso público e o sucateamento da instituição e continuam a lutar pela universidade autônoma, de qualidade e pública. Tradicionalmente, é o movimento estudantil quem se coloca à frente da luta neste último lado, sobre isso, já estamos carecas de saber.

Durante o último mês o movimento estudantil da UFSC deparou-se com uma novidade em suas fileiras. O que se tornou novidade é que os protagonistas do momento são os estudantes do Centro de Ciências Físicas e Matemáticas (CFM), após anos sem grandes mobilizações no centro. Desde o ano passado, discentes dos cursos de física, matemática, química, meteorologia e oceanografia se reuniram em assembleias de curso e reuniões dos Centros Acadêmicos (CAs) sob a pauta da infraestrutura do centro e a segurança em seus espaços físicos, que culminaram em atos e passeatas por toda a universidade, a partir das bases de cada curso. 

Se tomarmos o processo histórico de como se deu essa movimentação, podemos notar a importância das entidades em sua construção. 

Tudo começou quando membros do Centro Acadêmico Livre de Física (CALF) descobriram um Grupo de Trabalho (GT) da demolição do Labirinto — nome mais conhecido para os Blocos Modulados, prédio provisório que abriga hoje a Biblioteca Setorial (BS), sede dos CAs, dentre outras instâncias do centro. Neste GT já estavam se desenhando os rumos de cada espaço que habita, ou habitava, o Labirinto — incluindo as sedes dos CAs, que seriam movidas para a parte do Labirinto referente ao CCB, onde ficam os cadáveres das aulas de anatomia.

Como se já não fosse absurdo o fato de que um grupo de professores decida arbitrariamente e sem os estudantes onde ficarão as salas do CA, a situação tem o agravante de que o espaço já foi uma vez desocupado por ser considerado insalubre para os estudantes do CCB. Quer dizer então que não são espaços insalubres para os estudantes do CFM?! Que estes estudantes são diferentes dos demais?! Ainda, a competição entre as entidades estudantis e outras formas de organização dos estudantes colocou em questão quais são as prioridades para a realocação e quais são os parâmetros, já que se colocam salas de PET e de Atléticas às voltas das salas do CA, ignorando as possibilidades de conflito de uso dos espaços.

Quais são os espaços físicos que os estudantes precisam, então, para que possam manter sua autonomia, sua capacidade de organização e mobilização? Essa pergunta foi o que norteou diversas assembleias desde então, que decidiram pela redação de uma carta com suas reivindicações e de um ato para entregá-la ao reitor, além de uma passeata simbólica com o reitor para averiguar as condições estruturais e uma mesa de negociação para inferir nas decisões sobre as novas obras, manutenções e reorganização do CFM.

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A partir da atuação dos Centros Acadêmicos Livres de Física, Matemática, Química, Meteorologia e Oceanografia (CALF, CALMA, CALQ, CALMET e CAO, respectivamente) na mobilização dos estudantes de seus cursos, a centralidade da pauta das condições estruturais da universidade foi recolocada como horizonte para as lutas. O saldo positivo de todo esse mês da luta dos estudantes do CFM é de ressaltar a necessidade dos CAs para que seja possível a organização e articulação de debates, reivindicações, projetos e estratégias dos estudantes. E sem espaços adequados, estruturas seguras e dignas, qual é a chance de garantir a permanência e circulação dos estudantes para que possam lutar por transformações e desenvolver sua capacidade criativa enquanto coletivo? Além de reuniões ordinárias, é da alçada dessas entidades promover espaços culturais, cinedebates, rodas de conversa sobre temas diversos, organizar semanas acadêmicas, festas, atividades esportivas, atividades artísticas, grupos de estudos e de leitura, convocar reuniões no Conselho de Entidades de Base (CEB), entre outras atividades que a inventividade e anseio dos estudantes é capaz de construir — como atos pela universidade.

A pauta de condições estruturais da universidade para a permanência na universidade e reivindicação de espaços de organização estudantis é uma luta coletiva do movimento estudantil e que são travadas em diversos centros: como o Centro Acadêmico Livre de Ciências Sociais (CALCS) que denunciou as dificuldades enfrentadas pelas entidades, movimentos e coletivos para realizar a reserva de salas e demais espaços físicos na UFSC para a realização de eventos e reuniões; a atual falta de espaço dos CA’s do Centro de Ciência da Educação que estão sem salas atualmente pela reforma do CED; a luta dos estudantes de licenciatura indígena que decretaram greve no seu curso, em função das condições extremamente precárias do alojamento a eles destinado.

O que o conjunto dos estudantes do CFM, puxados por suas entidades de base, tem exigido não é pouca coisa — e só se tornou factível pelo intenso trabalho coletivo e enérgico em prol daquilo que se acredita ser correto: que os estudantes tenham dignidade para estudar e permanecer na universidade; que suas entidades são mais que fundamentais diante de cursos com taxas elevadíssimas de evasão; e que a organização estudantil não pode ser sacrificada em prol da burocracia — tanto que apenas elas foram capazes de puxar o Reitor para um compromisso com suas pautas e posicionar-se frente ao sucateamento da universidade.

Os CAs do CFM hoje, sem dúvidas, sairão mais fortes dessa experiência. Há ainda o que fazer: hoje mesmo haverá a assembleia geral do CFM para avaliar as ações até agora e pensar os próximos passos, além da reunião de negociação com o reitor — garantida através do forte ato realizado no dia 7 de junho.

Saudamos a todos e todas os estudantes do CFM, assim como seus CAs, que com vigor e energia constroem uma mobilização desde suas bases em defesa da Universidade! Que seu movimento possa servir de inspiração para todos os estudantes da universidade pois esta é uma luta de todos. E que os estudantes do CFM possam se voltar para que suas entidades de base construam lutas ainda mais vitoriosas!

*Os textos de opinião são de responsabilidade dos autores e podem não refletir a opinião do jornal

 

 

 

 

 

 

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