Foto: mobilização na UFSC – 15/05/2019 – por UFSC à Esquerda
Flora Gomes* – Redação UàE – 04/06/2019
O esplendor nacional das mobilizações do dia 15 de maio, que contou com milhares de pessoas na rua em todas as capitais do Brasil, foi uma lição para aqueles que insistem em afirmar a inexistência da ânsia política por parte daqueles que são diariamente esmagados por essa forma de vida. Se o Capital opera em atomizar as lutas – como expressou o Governo Bolsonaro ao ousar rifar os cortes na educação em nome da Reforma da Previdência – a classe trabalhadora demonstra seu potencial ao ir às ruas no último dia 15. O Brasil foi surpreendido pela quantidade de sujeitos representantes de diversos segmentos da sociedade afrontando a brutalidade desse Governo.
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Entretanto, se por um lado houve algum pequeno esforço de mobilização por parte das direções como a UNE (União Nacional do Estudantes) ou DCE (Diretório Central dos Estudantes) na UFSC no #15m, a preparação para o #30m não apenas contou com a ausência dessas figuras, mas também com a desestimulação dessas entidades.
- Sobre a desmobilização por parte da UNE e DCE
A nível nacional, a UNE pautou o 30 de maio como um momento menos importante para as lutas, afinal, segundo apontaram as direções, o #30m era apenas uma mobilização contra os cortes na educação e o ímpeto de luta deveria ser guardado para o dia 14. Na UFSC, a linha não foi diferente. Na última e esvaziada Assembleia Estudantil, realizada dia 27/05, o hall do CSE, que no dia anterior ao #15m havia estado lotado de estudantes dispostos a radicalizar e unificar pautas, estava praticamente vazio. Esse cenário expressou a ausência de mobilização por parte do DCE, que reivindicou o campo de protagonista da mobilização universitária mas contentou-se com um convite no Facebook para a reunião aberta semanal.
Na última assembleia estudantil, membros do DCE defenderam a necessidade de “guardar energia” para o dia 14 (greve geral), uma vez que a pauta do dia 30 (cortes na educação) seria muito específica. Aponto, então, dois erros fundamentais nessa defesa. Primeiro, o equívoco – por parte dessa mesma esquerda que conclama Unidade – em insistir na segregação das pautas. Ora, os Institutos e Universidades Federais, alvos dos cortes, não são tema candente da sociedade como um todo? Especificar o público de cada facada vinda da agenda Bolsonaro é cair na estratégia do Governo. Os cortes na educação não são uma pauta específica, e mais, não são tampouco propriedade de algum grupo específico, senão de toda a classe trabalhadora. Além das Universidades estarem por princípio à serviço do proveito coletivo, a própria necessidade de reprodução do Capital vincula os cortes na educação à Reforma da Previdência, como fez o ministro de Bolsonaro.
Em segundo, qual a razão de segurar o ânimo das massas? Não são justamente nesses momentos de radicalidade que temos que nos colocar nas ruas, disputar projetos políticos, defender as pautas fundamentais da classe trabalhadora? Não são por esses momentos que ansiamos enquanto estamos nas nossas rotinas sendo devorados pelo Estado ou patrão, que muito nos tira e pouco nos dá? Guardamos nossos ímpetos diariamente em ônibus lotados, afetos esvaziados, lendo Brecht ou Maiakovski, sonhando com a transformação dessa realidade sufocante. A esquerda não pode atuar pela contenção desse fervor por transformação presente na população. A luta do #30m não tinha como função “gastar energias”, e sim compor uma das lutas fundamentais para a construção da greve dia 14.
São nos momentos de radicalidade que percebemos quais as entidades realmente estão dispostas a sustentar na política suas próprias palavras de ordem. Ainda com parte da esquerda desmobilizando sua base, estudantes e trabalhadores mostraram nas ruas de Florianópolis a força do ímpeto: não houve temporal na capital catarinense capaz de impedir 20 mil de estarem nas ruas contra Bolsonaro.
- O papel dos independentes
Enquanto o DCE preocupou-se mais uma vez em “guardar energias”, os independentes da UFSC conseguiram demonstrar como se faz mobilização massiva. Não é de hoje que os independentes vêm demonstrando como ainda pode existir política mobilizadora na Universidade. Um exemplo de 2018 é a pauta das festas na UFSC. Após a violenta entrada da Polícia Militar no Campus durante uma atividade do Geosamba, os membros do DCE defenderam a construção de um Regimento de Festas, enquanto o coletivo Geografia Paralela resistiu e continua construindo a ocupação cultural do espaço da Universidade, recusando-se à acordos com a Direção do CFH ou à qualquer burocratização desses eventos.
Nas mobilizações do #30m não foi diferente. Antes da última Assembleia Estudantil, estudantes do Centro Acadêmico Livre de Filosofia (CAFIL) e do Centro Acadêmico Livre de Arquitetura (CALA) estavam distribuindo panfletos confeccionados com dados sobre os cortes da educação e a reforma da previdência, massificando a construção do dia 30 e a greve geral. A iniciativa dos panfletos foi tomada após uma assembleia esvaziada da Filosofia. Perante esse esvaziamento não houve resignação, mas reconstrução política: reuniram-se com o CALA e juntos confeccionaram e imprimiram 5 mil panfletos.
Outras articulações políticas emergem como resposta à incapacidade de mobilização do DCE. Recentemente foi fundado o Coletivo Artes em Luta que propõe-se a articular estudantes, principalmente do CCE (Centro de Comunicação e Expressão), em torno das pautas emergentes da sociedade. Fizeram chamados para o #30 e continuam articulando as lutas para a Greve Geral. Ademais, o Mobiliza CTC – grupo de estudantes do Centro Tecnológico, que surgiu há três anos como contraposição à política realizada nos Centro Acadêmicos do CTC – voltou a articular-se e tem realizado atividades formativas e culturais, mostrando que as Engenharias também são de luta.
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Os independentes demonstram para toda a Universidade a potencialidade do movimento estudantil para além da tutela e formalidade presentes em larga medida nas direções estudantis. Diferente dos espaços aparelhados pelas organizações políticas, nos quais estas priorizam estratégias mesquinhas de autoconstrução e recrutamento de novos militantes, não colocando força na construção real das lutas, os espaços não aparelhados, aqueles em que, ainda que tenham organizações políticas presentes, são espaços de debates francos e honestos, sobre erros e acertos, possibilitam a construção de linhas políticas próprias, sejam de CAs ou coletivos, construindo a radicalidade política quando necessário.
As direções que se cuidem, nesse momento as bases estão dispostas a passar por cima de qualquer política medíocre, inclusive das direções que as aplicam. Para o dia 14, contamos com a astúcia dos independentes! Rumo à Greve Geral!
*O texto é de inteira responsabilidade da autora e pode não refletir a opinião do Jornal.
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