Novo ponto de ônibus dentro da UFSC
Novo ponto de ônibus dentro da UFSC

[Opinião] Novo ‘mini’ corredor exclusivo da linha UFSC Semi-deireto mais atrapalha do que ajuda

Imagem: UFSC à Esquerda

Lara Albuquerque – Redação UFSC à Esquerda

A UFSC voltou ao presencial, e com ela voltou a principal linha de ônibus que faz o percurso do centro pelas vias rápidas da Beira-mar Norte, Beira-mar Sul e túnel Antonieta de Barros. Porém esse retorno não foi como o esperado pela comunidade.

A prefeitura e a reitoria fizeram uma parceria e lançaram, após a primeira semana de aulas, um corredor exclusivo para a linha passar na frente do Centro de Evento. Anteriormente o ônibus fazia o retorno na rótula da Biblioteca Universitária, passando pelo ponto da BU e depois na rua do Banco do Brasil, a Rua Delfino Conti.

O anúncio da prefeitura e da reitoria foi em tom de comemoração, além do novo corredor, há também a novas ciclo faixas, novas faixas de pedestres. O argumento é que cortar o caminho por dentro da UFSC diminui o tempo nas filas. Porém, além de ser um percurso curto, o problema da mobilidade em torno do campus é complexo e não se resolve com atalhos. Florianópolis historicamente carece de mais linhas, mais trajetos, maiores opções para acessar o campus e os bairros do entorno e os mais afastados, exemplo disso é a linha Abraão-UFSC que foi cortada durante a pandemia e até agora não retornou.

Sobrou propaganda e marketing da prefeitura de Gean Loureiro e da reitoria de Ubaldo Balthazar, porém faltou planejamento! O novo trajeto do ônibus não passa mais no principal e maior ponto dentro da UFSC, o da Biblioteca Universitária, e um dos únicos que são elevados, o que facilita o acesso de pessoas com deficiências. Para substituí-lo foi colocado um novo ponto na praça da cidadania, porém ele se limita a uma placa! 

 

Ou seja, agora, quem depende da linha, espera o ônibus em pé, no meio da praça, ao lado da placa que determina a nova localização do ponto de ônibus. Faça chuva, sol, frio, calor, vento, etc – o que é esperado para o tempo instável de Florianópolis. Nos últimos dias, com aproximação de ciclone extratropical no litoral, a cena chega a ser patética: Dezenas de pessoas no meio da praça sofrendo com as intempéries e o ponto da BU praticamente vazio. 

Porém não são só os usuários da linha que sofrem com  a nova condição. Os terceirizados da segurança da UFSC ficam o dia inteiro nos horários de funcionamento da linha liberando o acesso ao corredor que não percorre meio quilômetro dentro da UFSC. Segundo o site do Consórcio Fênix, que opera a linha, existem 90 horários de saída deste ônibus do terminal do centro, entre às 6h00 da manhã, o primeiro a sair do terminal, e às 23h20, o último a sair do terminal. A função de quem fica na rótula é impedir que outros veículos acessem para além das rótulas, onde o ônibus passa, e mover de um lado para o outro os cones para que o ônibus passe dentro do campus. 

São 17h20 por dia que a linha circula, são dois trabalhadores terceirizados por turno, controlando os acessos, um na rótula da BU e outro na rótula ao lado do Centro de Eventos, de um mini corredor de ônibus que passa em um único ponto de ônibus descampado. Evitando um trajeto que circundava o campus e fazia muito mais sentido para os usuários que desenvolvem suas atividades no HU, CCS, CTC, CCB, Prefeitura do Campus, entre outras, localizadas nos bairros Córrego Grande e Pantanal.

Ou seja, nem mesmo a construção de um ponto novo irá solucionar a falta de planejamento e a gambiarra que foi feita dentro do campus. Pois mesmo que tenha um ponto, os terceirizados permanecerão nessa função de controle de acesso? Ou será que a saída será colocar mais cancelas, mais guaritas e mais funções desnecessárias? 

Para além das questões relativas ao funcionamento do corredor, sempre houve um conflito entre pedestres e automóveis na região da praça da cidadania, ora fechada para circulação de carros, ora limitada apenas ao estacionamento, ora completamente interrompido o acesso. O novo corredor descaracteriza as vias centrais da praça da cidadania A qual os mais antigos no campus conhecem como a ‘Rua Pintada’, quando no chão de asfalto sempre era possível encontrar pinturas de desenho, frases, textos inteiros, onde exposições e eventos artísticos e científicos aconteciam livremente, como a SEPEX, como o UFSCtock, que já foi o maior evento de música independente do estado.

Essas atividades eram elaboradas, idealizadas sem o problema de se pensar o itinerário dos ônibus e o fluxo de automóveis. A nova circulação do ônibus interrompe essas tradições que parecem ter sido apagadas de algumas memórias durante os dois anos de atividades não presenciais. Descaracterizar o uso do campus é também descaracterizar a Universidade desse espaço que pode ser usufruído pela comunidade universitária e demais cidadãos da cidade.

Fica evidente o quanto é necessário recuperar, cada vez mais, a vida pulsante da universidade para além das salas de aula. Reconstruir a concha acústica, que os novos estudantes nem fazem ideia do que era, do que já foi, do significado que tinha para o movimento estudantil, para as bandas locais. Recuperar as pinturas, a feirinha que encontra-se ameaçada, a liberdade de usar a praça para o que couber na imaginação e no espírito universitário.

Sobre o uso do campus, leia também:

[Opinião] A importância do espaço público na universidade

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