Foto: DAC/UFSC.
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[Opinião] Uma mensagem aos (novos) estudantes da UFSC

Foto: DAC/UFSC.

Nina Matos* – Redação UFSC à Esquerda – 27/04/2021

Estamos na última semana de abril e, neste momento, muitos estudantes estão se preparando para as últimas provas, escrevendo as últimas avaliações, as datas de entrega dos trabalhos finais estão se aproximando. O frenesi do final do semestre que esvaziava até mesmo as filas do Restaurante Universitário pode ser visto agora nas salas de aula virtuais com cada vez menos estudantes.

Para outros estudantes, começaram a chegar as boas notícias de entrada na Universidade, um sonho cultivado, às vezes por gerações que se empenharam no ingresso do primeiro da família a receber o título de “calouro” ou “caloura”. Um sonho que agora se realiza através das telas de LED que iluminam os rostos dos nossos novos colegas.

Este não é o primeiro semestre remoto que a UFSC enfrenta, apesar de ser para muitos não só a primeira experiência com essa forma de ensino, mas também o primeiro contato com a própria Universidade. Uma primeira vez marcada pelo isolamento não apenas físico, mas que se expressa também nas relações virtualizadas estabelecidas na ânsia de forjar uma normalidade alienada do que acontece “lá fora”.

Com o descontrole da pandemia, estagnada em índices elevados de contaminações e mortes, somado a falta de leitos e possibilidade de desabastecimento de oxigênio e demais insumos médicos, o retorno a uma vida universitária plena torna-se cada vez mais distante. Ao todo, a reitoria da UFSC decidiu manter o ensino remoto por, no mínimo, mais dois semestres, o que, para a graduação, compreende metade da duração de muitos cursos, por exemplo.

Um período tão prolongado não tem como não gerar consequências. As relações com a universidade já foram radicalmente alteradas: o período da formação foi comprimido, com os semestres tendo menos de vinte semanas; as aulas também foram reduzidas a cerca de uma hora em aulas ao vivo — as chamadas aulas “síncronas” —, que servem apenas para tirar dúvidas do conteúdo; os debates, que em muitas aulas eram inclusive o foco principal, agora são tratados como questões diretas entre professores e alunos, tendo restado apenas os fóruns para que estudantes possam discutir entre si; até mesmo o próprio significado de estar presente em uma aula foi convertido em participações “assíncronas”.

A Universidade é um dos poucos espaços que resta a muitos estudantes para obter uma formação crítica e de qualidade. `Podemos pensar, a princípio, que flexibilizar a formação ao máximo é o caminho para tornar a Universidade mais acessível. Contudo, tais flexibilizações tendem a limitar a experiência de alguns estudantes, especialmente daqueles que encontraram na Universidade a chance de formar-se da melhor maneira possível.

A formação universitária compreende muito mais do que os espaços das salas de aula — o que não significa dizer que as aulas não são fundamentais, mas que mesmo que sejam aulas ricas em conteúdo e discussão, há uma vida inteira para além das disciplinas.

Muitas são as possibilidades que o espaço da Universidade oferta para que possamos apreender o legado do que foi construído antes de nós e o que auxiliamos a construir atualmente. Espaços formativos variados extra-aula, que podem ser promovidos por professores ou pelos próprios estudantes, como palestras, aulas magnas, grupos de estudos, enfim, espaços que podem estar ligados inclusive à militância dentro da Universidade, são uma das vias para que não nos percamos no caminho sinuoso da individualização imposta pela virtualidade das relações.

Através desses espaços podemos, ainda, compreender o que falta em nossos curso, pois com a experiência de uma alternativa podemos pensar em novas vias para o desenvolvimento dos currículos e Projetos Político Pedagógicos, alinhando o sentido de nossos cursos, nossas áreas, para uma formação que seja emancipadora de fato, deixando marcas para que as próximas gerações possam se formar com ainda mais qualidade do que nos formamos hoje.

Os próximos semestres que virão serão tão intensos quanto foi este — senão mais ainda, dependendo do que a conjuntura demandar de nós. Mas as consequências de não lutarmos pelo sentido da Universidade neste momento não serão excepcionais, como tendem a dissimular aqueles que defendem uma flexibilização desenfreada desta instituição tão importante.

Portanto, neste momento em que recebemos novos colegas, que possamos intensificar as lutas, não deixar que a Universidade em que vivemos momentos tão marcantes de nossas vidas seja esquecida. Se pelas questões sanitárias tivemos que abdicar da normalidade que vivemos, que esteja em nosso horizonte uma vida ainda melhor de ser vivida. Bem-vindos e bem-vindas, novas pessoas calouras da UFSC!

* Os textos de opinião são de responsabilidade dos autores e não representam, necessariamente, as posições do Jornal.

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