Montagem UFSC à Esquerda sobre foto do CALPsi
Montagem UFSC à Esquerda sobre foto do CALPsi

[Opinião] Uma nova gestão do CALPsi toma posse e as expectativas são altas

Montagem UFSC à Esquerda sobre foto do CALPsi.

Bela Mielczarski e Rita Pereira* – Redação UFSC à Esquerda – 24/05/2021

Na última quarta-feira (19), o curso de psicologia da UFSC esteve envolvido com a votação das eleições do Centro Acadêmico (CA). Após o encerramento da antiga gestão, que durou por dois anos, o curso pôde experienciar novamente um processo eleitoral em que duas chapas colocaram-se à disposição dos estudantes e discutiram abertamente suas divergências.

O desdobramento desse distinto processo eleitoral online mostrou que o curso de psicologia exige uma gestão capaz de renovar a política do curso. Com dois terços dos votos, foi eleita uma gestão que se propõe ser oposição a forma de fazer política da antiga gestão do CA.

É preciso ponderar, sobretudo, o que esse apelo ao novo significa. Um CA como é o Centro Acadêmico Livre de Psicologia (CALPsi), com o histórico de lutas que possui, precisa de uma gestão que saiba consultar a história, valorizar os movimentos que sua base fez e realizar os movimentos necessários para mantê-la mobilizada sempre que necessário.

Em muitos momentos o CALPsi desempenhou um papel histórico na UFSC. Tomando como fonte os eventos mais recentes, foi a psicologia o primeiro curso a deflagrar greve contra o Future-se, em 2019, mantendo-a por um longo período; em 2018, ela tomou a frente nas paralisações pelo #EleNão. A psicologia da UFSC teve também um papel fundamental nas ocupações de 2016 e lutou contra as Empresas Juniores em 2013. Se fizermos um levantamento mais aprofundado, sabemos que é possível resgatar lutas ainda mais antigas que a psicologia mostrou a potência da força de seus estudantes, como nas Diretas Já ou no próprio período da ditadura empresarial militar.

Manter viva a memória é fundamental, pois assim podemos encontrar nas experiências daqueles que estiveram antes de nós aquilo que já foi tentado e que deu certo ou que falhou, ajustar às necessidades dos tempos atuais, compreender o que aconteceu no passado e porque o presente apresenta-se de uma determinada maneira.

Agora, com a necessidade de isolamento que nos impõe o ensino remoto, muitas vezes o imperativo da novidade surge como se precisássemos abandonar tudo aquilo que já fomos. Todas as reivindicações parecem não ter nenhuma coerência com o que defendemos antes, pois tudo carrega a marca da “excepcionalidade”. Assim foi quando o ensino remoto começou a ser implementado, no argumento de que não teríamos alternativas a não ser abraçá-lo, e assim é hoje, quando vivemos a precarização da educação e as aulas da psicologia são insatisfatórias — para se dizer o mínimo.

Mas resgatar a memória também não pode ser apenas um apego ao passado, que nos faz insistir em saídas anacrônicas para os problemas que estamos vivendo hoje. As formas como nos mobilizamos no passado não podem simplesmente ser transpostas para ambientes virtuais, como se fossem os mesmos espaços, tampouco não podemos esquecer do passado, correndo o risco de cometer os mesmos erros que já foram cometidos antes.

Talvez seja essa a fórmula “mágica” da criatividade que um período como o que vivemos exige: a medida entre olhar o passado e extrair dele os elementos que possam ser trabalhados para fazer algo diferente, que sirva para nossos propósitos de mobilização e luta.

É este o cuidado e o zelo que devem ter aqueles que se dispõem a tocar um CA. É, por exemplo, instigar que não nos contentemos com os limites que nos são impostos. Não podemos nos deixar levar por discursos de que ser “realista” na luta pela educação é negociar a qualidade das aulas com professores, lutar dentro do orçamento (reduzido) das universidades e preparar os estudantes para o mercado de trabalho. Não existe nada de utópico em desejar e lutar por uma educação de qualidade, consistente, que faça sentido, e que nossa instituição sirva a nossa classe.

Pensemos em nosso currículo atualmente, nos textos de nossas disciplinas, nas aulas e avaliações que temos feito. É isso mesmo que queremos? De onde vem esse sentimento de que as fases passam e pouco aprendemos? Sejamos sinceros, colegas, por quanto tempo ouvimos verdadeiras baboseiras em nossas aulas e não dissemos nada por achar que não era nosso lugar?

Não podemos esquecer que a crítica não é apenas um direito nosso, mas também um dever. O movimento estudantil tem a vantagem de ter menos a perder nas lutas do que as outras categorias que sofrem com uma série de entraves burocráticos, dificultando e por vezes impedindo que se radicalizem. Se entendemos que é a qualidade da nossa educação que está em jogo, nós devemos tomar a frente e exigir que não se abra mão disso que consideramos inegociável.

Se prezamos pelo nome completo do CALPsi, um CA livre, aberto, o que deve ser claro é que cabe a quem decide travar as lutas por este meio mostrar a seus colegas que a luta política na universidade não é impossível, não é inútil e não é distante de nós. É querer que cada vez mais estudantes estejam verdadeiramente interessados pela entidade e que estar nela produza uma verdadeira mudança em cada um.

Isso só é possível se o CA é de fato interessante, se a política tocada nas reuniões é consequente e tem efeito no cotidiano do curso. Tanto por meio de atividades formativas, discussões sobre a conjuntura, Semanas Acadêmicas, quanto por meio de atividades mais descontraídas. Pensando na integração dos estudantes, na recepção dos nossos novos colegas, um CA deve estar presente na vida dos estudantes — e aquilo que acontece dentro da entidade pode ser levado para além de si mesma, para as salas de aula ou demais espaços da universidade.

Muitas vezes o movimento estudantil acaba perdendo de vista esse papel que é tão fundamental em meio às demandas que nos são direcionadas por outras vias que não os estudantes. Na UFSC podemos ver claramente isso com relação ao DCE que se perde querendo dar respostas à reitoria — que, por sua vez, se ausenta politicamente.

Estar a par da gestão da universidade é diferente de tomar para nós o que não nos compete — e não nos compete gerir a universidade, esse papel é dos administradores, que devem prestar contas a nós e não se ausentar do seu papel político. Nossa luta deve ser com os estudantes, lutando pela ampliação da permanência estudantil, por uma educação cada vez melhor e que cada vez mais pessoas possam desfrutar dela diretamente. Não precisamos gastar fôlego para justificar uma gestão de universidade que deixa a desejar. Nosso interesse é a comunicação e a expressão das vontades dos estudantes, não o serviço a reitores e coordenadores que não sabem cumprir seu papel.

Há realmente muito o que se fazer em um CA, e  é principalmente pela coragem de fazer os enfrentamentos necessários que um CA pode delimitar suas ações. Estar a frente de uma entidade como esta é uma enorme responsabilidade — que por sua vez é compartilhada entre todos os que se dispuserem a construí-la, pois não estamos sozinhos e não passamos sozinhos por essa universidade. Hoje, uma nova gestão do CALPsi toma posse, e ela terá de lutar todos os dias para que isso tudo fique o mais claro possível.

Cabe à nova gestão aquilo que, no fundo, sempre foi seu dever: lembrar os estudantes que tudo o que acontece na universidade os diz respeito. Não mais os estudantes poderão ser excluídos das discussões, e nada que seja de importância poderá passar sem que possamos ao menos discutir sobre. O curso de psicologia não é estranho à política, e cabe ao CALPsi se certificar de que ele nunca seja.

* Os textos de opinião são de responsabilidade dos autores e não representam, necessariamente, as posições do Jornal.

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