Imagem: Montagem atos UFSC em maio 2021
Imagem: Montagem atos UFSC em maio 2021

[Opinião] Em meio aos cortes, qual prioridade para os atos do ME na UFSC?

Imagem: Montagem atos UFSC em maio 2021

Lara Albuquerque – redação UFSC à Esquerda – 21/05/2021

Recuperando o chamado “Tsunami da Educação”, usado no ciclo de manifestações em 2019, a União Nacional dos Estudantes (UNE) realizou um novo chamado de atos nacionais contra os cortes na educação para o próximo dia 29 de maio de 2021.

Antes mesmo do chamado, estudantes de pós-graduação da UFSC já se encontram em movimento desde abril pela ampliação de bolsas na pós-graduação para todos estudantes e realizaram uma primeira intervenção na UFSC no último dia 15 de maio. Visando chamar atenção ao desmonte de financiamento em pesquisa que vem atingindo diretamente as bolsas de pesquisa há anos e que, no último período, vem alcançando índices dramáticos onde turmas inteiras ingressam nos programas e nenhum estudante é contemplado com bolsa, e a maioria fica sem nenhuma perspectiva de receber até o prazo de conclusão da pesquisa.

Ainda que o chamado da UNE não trate especificamente sobre o corte das bolsas de pós-graduação, não há como defender a recomposição do orçamento em pesquisa, sem a recomposição para as verbas de capital e custeio que sustentam estrutura das universidades e as verbas de folha de pagamento que sustentam o salário dos professores e técnicos. A infeliz conjuntura de que tudo está em risco na Universidade brinda mais uma vez o cotidiano de todos, a verdade é que nunca deixou de estar tudo em risco, mas as notícias das reitorias vindo a público manifestar o estrangulamento e a impossibilidade de continuar até o final do ano, uma após a outra na semana passada, faz chamar atenção e na UFSC não foi diferente.

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Com o chamado nacional, irrompeu-se na UFSC uma possibilidade das mobilizações ganharem mais corpo, principalmente entre os estudantes que são o motor que impulsiona muitas lutas em defesa da Universidade. Nesse contexto de início de uma possível efervescência, o Diretório Central dos Estudantes (DCE), o Sindicato dos Técnicos Administrativos em Educação da UFSC (SINTUFSC) e a Associação de Professores da UFSC (APUFSC) aderiram a um outro chamado de ato, no Dia Nacional de Luta e Resistência em Defesa da Educação em 19 de maio, chamado por diversas entidades nacionais

Seria uma oportunidade de engrossar as discussões e o tom contra as ofensivas à Universidade e preparar as bases para o dia 29, porém, na UFSC, o ato contou com cerca de 100 pessoas em frente a reitoria da UFSC. E pouco envolveu a base dos cursos, dos Centros Acadêmicos, dos professores e dos técnicos, fazendo-se presentes, entre a maioria dos participantes, as diretorias das entidades e de alguns partidos. O ato teve uma duração de pouco mais de uma hora e meia, deu uma volta na Praça Santos Dumont (praça do antigo bar do Pida que se encontra em obras cercada por tapumes) e parou para uma “sessão de fotos” em frente a UFSC – uma saída estética estranha a outros momentos, quase uma estratégia instagramável para o ato. 

Na data de ontem, dia 20 de maio, os estudantes dos Centros Acadêmicos e do DCE, reunidos em CEB não discutiram a pauta de organização de sua base para o ato no próximo dia 29 de maio chamado nacionalmente, nem os cortes que ocorrem desde 2015 e que a cada dia são piores, ou nem mesmo foi feita uma avaliação sobre o ato do dia 19 de maio – nada para além de um informe e agradecimento aos presentes. As discussões ficaram circunscritas à avaliação do ensino remoto, questões regimentais sobre as representações estudantis e, um ponto incerto, pautado pela APUFSC sobre a reforma do Centro de Convivência. 

Ou seja, não há, na maior instância de deliberação dos estudantes da UFSC, uma discussão aberta e franca sobre o absurdo que atravessa a pauta orçamentária da Universidade, mesmo faltando 10 dias para um ato nacional chamado pela UNE, não há um chamado de construção para esse ato. 

Causa enorme estranhamento a entidade representativa aderir um chamado, realizar um ato, não o avaliar em algum espaço com as demais entidades, chamar o próximo ato e partir para  o dia 29 de maio sem um espaço para debater e deliberar sobre isso com as entidades de base dos cursos e nem com o conjunto dos estudantes. Resta questionar: qual a prioridade da instância máxima dos estudantes hoje? Não há nada para encaminhar com o conjunto dos estudantes em relação a um chamado nacional de ato durante a pandemia? Não há em que envolver os estudantes nessa conjuntura? Ou as polêmicas do movimento estudantil foram todas resolvidas fora do alcance dos olhos públicos e longe das bases? A própria UNE tem trabalhado para esfriar o ato já que no site não há maiores informações?

Realizar atos não é tarefa fácil, porém seus chamados feitos de forma ampla apontam para a necessidade de mobilização e organização desde as bases, se há alguma discordância com a realização e a massificação deles é preciso vir a público defender, essa é uma decisão que deve ser ampla. E é importante também que esses atos não sejam tratados como algo menor em uma conjuntura a qual esse pode ser o único ponto de encontro entre estudantes que estão fazendo seus cursos em ensino remoto durante um ano e dois meses, há estudantes na terceira fase de seus cursos que não fazem a menor ideia de como é a UFSC e seu cotidiano. 

Faz-se necessário muito trabalho das entidades para absorver os tantos significados de ter um corpo estudantil que não lida com a universidade para além do seu quarto em casa e não sabe como é ser universitário. Nunca foram organizados atos como esses em meio a pandemia, daí a necessidade de esgotar algumas discussões com o conjunto do movimento estudantil. Se não, nossos próximos atos não passarão de voltas nas praças com sessão de fotos ao final.

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