Nina Matos – Redação UàE – 24/06/2020
Na noite de ontem (23), a Pró-Reitoria de Assuntos Estudantis (Prae) publicou o Edital nº 10/2020 que estabelece as normas para o Registro Prévio de Estudantes para Inclusão Digital da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC).
De acordo com a Prae, o objetivo é identificar os estudantes que precisarão de apoio por parte da instituição para realizar as atividades do ensino remoto. O cadastro, que abrirá no dia primeiro de julho, deverá ser feito online, e serão enviadas mensagens de texto informando sobre a abertura aos celulares cadastrados no CAGR, CAPG e Colégio de Aplicação.
Os estudantes que declararem não ter acesso aos materiais necessários para a realização das atividades do ensino remoto poderão se registrar nas modalidades de empréstimo de equipamento de informática e/ou para pacotes de dados mensais de acesso à internet, que serão dispostos em editais específicos e de acordo com a disponibilidade de recursos da universidade.
A divulgação deste edital surge, de certa forma atropelada, pois a universidade, em suas instâncias deliberativas, não aprovou pelo ensino remoto e sequer terminou suas discussões sobre. Apesar disto, a movimentação em prol do ensino remoto já é perceptível há pelo menos um mês, com a aprovação de uma minuta pela Câmara de Pós-graduação da UFSC (CPG) que versava sobre realização de atividades de ensino não presenciais, e mais recentemente, a reunião do Conselho de Entidades de Base (CEB) que aprovou a retomada do semestre através do ensino remoto.
Além da movimentação interna pelo ensino remoto, a UFSC também contava com as pressões externas da mídia local e do empresariado, que cotidianamente veiculavam críticas ao “imobilismo” da instituição, tentando colocar a população contra a universidade. E não apenas essas entidades, como também o Ministério Público Federal se manifestou, “recomendando” que a universidade adote o ensino remoto, dando prazo de 30 dias.
Já na manhã de hoje (24), a UFSC lançou em seu canal no Youtube um vídeo do reitor Ubaldo Cesar Balthazar em que afirma que a universidade se encaminha para um “novo normal” através da volta às aulas por ensino remoto, elogiando o trabalho dos comitês e subcomitês que se articularam para que isso fosse possível — mesmo que, novamente, a retomada não tenha sido deliberada pelo Conselho Universitário (CUn).
Ao que tudo indica, a única solução oferecida aos estudantes hoje é o prosseguimento do semestre. A quem não puder continuar por outras causas que não sejam a falta de acesso aos materiais necessários, a saída será o trancamento — inclusive é dito que os trancamentos serão feitos de modo que não haja prejuízo aos estudantes, como se oferecer isso fosse inclusivo e justo para os vários estudantes que estão trabalhando em meio a pandemia, com salários reduzidos, empregos precarizados, ou aqueles que estão com as crianças em casa devido à paralisação das aulas presenciais, que terão dificuldades de acompanhar as aulas, e que não terão seus problemas resolvidos com uma mera doação de equipamentos ou pacote de internet.
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Não apenas os estudantes têm condições distintas, como os próprios cursos da universidade serão afetados de diferentes modos pela implementação do ensino remoto. Cursos onde os currículos envolvem atividades práticas, que têm base nas relações humanas, terão uma maior dificuldade em garantir um maior número de disciplinas sendo ofertadas. Estes cursos terão de empurrar com a barriga semestres “pela metade”, ou ainda mais grave: terão seus currículos sucateados até as últimas consequências para caber na continuidade do semestre letivo.
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Esse é um momento de construção daquilo que passará ao “novo normal” ao qual o reitor se referiu no vídeo. Essa “excepcionalidade” atribuída ao ensino remoto com tanta convicção não possui garantia alguma, muito pelo contrário. Estaremos não só capacitando os professores da universidade para ofertar um ensino nesses critérios, como também uma geração inteira que passará pela experiência do ensino remoto como se fosse uma via possível. Quais serão as consequências disto? Quem tomará a responsabilidade pelo que virá a seguir?
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