Foto: Ato por condições para o retorno presencial e pela construção de moradia indígena do Centro Acadêmico Livre de Psicologia (CALPsi) que ocorreu em dezembro de 2021.

[Opinião] A política imobiliária em Florianópolis: que luta travar?

Morgana Martins – Redação UFSC à Esquerda – 27/05/2022

Os estudantes da Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC) e da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) realizaram, neste semestre, mobilizações pela defesa do Restaurante Universitário (RU), demonstrando que a pauta da alimentação é de grande importância nessa conjuntura avassaladora. Mesmo que cada uma das lutas tenha suas particularidades e razões diferentes, ambas são importantes pois questionam e colocam em pauta as condições de vida de nossa classe. Cabe colocar também no centro dessas lutas o questionamento sobre os preços dos aluguéis em Florianópolis. 

Já escrevemos um texto sobre o preço dos aluguéis em Florianópolis que, dada sua importância, teve bastante repercussão. Naquele texto, a conclusão coloca em questão o seguinte aspecto: como os movimentos em defesa da universidade poderiam se reconstituir em torno de uma questão tão palpável não só para a democratização do acesso à universidade pública, mas também para as condições de vida do conjunto dos trabalhadores da cidade de Florianópolis? Este texto busca trazer elementos à tona sobre essa questão.

Desde fevereiro de 2021 discutimos em nosso jornal que no retorno presencial das aulas da graduação os estudantes e suas famílias sentiriam na pele o aumento do preço dos aluguéis e um baixo número de bolsas fornecidas pela universidade. E é esse o cenário atual, com alguns novos elementos a serem analisados.

Diante dessas condições, parece imprescindível colocar nos centros da luta estudantil a pauta da moradia estudantil e da política imobiliária de Florianópolis. Ainda mais que a cidade voltou a discutir o Plano Diretor da cidade neste mês de abril. 

Segundo a Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC), o mercado imobiliário foi o que se recuperou mais rapidamente dos efeitos da pandemia em Santa Catarina. Aqueles que precisaram correr atrás de aluguel para o retorno das aulas presenciais na UFSC devem ter visto tanto a dificuldade em encontrar lugares, devido ao preço, quanto a existência de alguns proprietários que possuem cerca de 200 edifícios, organizando seus empreendimentos com imobiliárias próprias sobre essas moradias. O nível de desigualdade é chocante.

Na semana passada o Índice FipeZap, que acompanha o mercado de locações em 25 cidades do país, apresentou informações de que em abril o preço dos aluguéis residenciais saltaram 1,84%, a maior alta de um mês para outro em 11 anos. E imaginem qual a cidade que mais impulsionou a alta mensal. Isso mesmo: Florianópolis; seguida por Salvador e Belo Horizonte. 

Mas o que faz Florianópolis ser tão atrativa para os investidores imobiliários? 

Talvez pudéssemos começar pensando sobre a política de impostos. Por acaso esses grandes proprietários de imóveis pagam impostos a mais por possuírem tantas propriedades alugadas? Nos contratos de aluguéis os que pagam os impostos são os inquilinos, através do Imposto Predial e Territorial Urbano (IPTU), tributo municipal cobrado anualmente. Ou seja, são os trabalhadores e suas famílias que pagam o preço da especulação imobiliária.

Vemos que a política tributária e imobiliária é favorável àqueles que têm a força econômica dos capitais, enquanto os trabalhadores despendem maior parte de sua renda pagando aluguel, que em Florianópolis está cada vez mais alto ou batendo o salário mínimo. 

Segundo Mauro Iasi, a cidade é a expressão das relações sociais de produção capitalista, sua materialização política e espacial que está na base da produção e reprodução do capital. Ou seja, a organização da cidade e a política imobiliária são parte da acumulação de capital. Por isso, devem ser questionadas e pensadas de outra forma pelos socialistas.

O que pode estar na pauta das lutas pela moradia, portanto, são algumas discussões sobre a cidade, como: por que não há taxação de aluguéis mais altos do que um salário mínimo? Ou taxação de moradias para quem tem mais de um imóvel? É preciso colocar em questão a dominação imobiliária. 

Compete ao município fazer a taxação do território da cidade, ou seja, é possível travar uma luta em nossa cidade sobre isso. E a universidade é uma instituição com a possibilidade de crítica das políticas do Estado e de reunir sujeitos que construam essa luta. O que estamos esperando para pautar mais ousadamente o problema da especulação imobiliária em nossa cidade? 

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *