Irineu e Joana na apuração dos votos. Foto UFSC à Esquerda

[Opinião] Análise dos votos para reitoria: quem elegeu Irineu e Joana?

Beatriz Costa – Redação UFSC à Esquerda – 18/05/2021

O segundo turno da consulta informal para a reitoria da UFSC aconteceu no dia 26 de abril com voto presencial, diferente do primeiro turno que foi online. O voto presencial, da forma como é realizado na UFSC, possibilita que sejam feitas análises e reflexões sobre quem são e onde estão os membros da comunidade universitária que votaram em uma chapa e em outra. As informações dos votos por segmento (docente, estudante e TAE) e por unidade (Centros de Ensino, campi do interior, HU, reitoria) são importantes para a compreensão da dinâmica dos processos políticos na universidade.

Durante todo o processo de consulta informal e eleição no Conselho Universitário para a escolha da nova reitoria, o jornal UFSC à Esquerda fez a cobertura dos acontecimentos. Entrevistamos os candidatos Irineu Manoel de Sousa e Edson De Pieri (que não foi para o segundo turno) e também convidamos a vice-reitora e candidata Cátia Carvalho Pinto para a entrevista, mas ela  escolheu não ser entrevistada.

Também elaboramos textos de opinião sobre as três candidaturas que concorreram ao primeiro turno. Confira a seguir:

[Opinião] Edson De Pieri: candidato a gestor?

[Opinião] Irineu e a Universidade Presente – opinião sobre a candidatura

[Opinião] Eleições para a reitoria 2022: Balanço das propostas de Cátia e Moretti – UFSC VIVA ou VIVA o empreendedorismo da educação?

[Opinião] A alternativa é reconstruir as lutas!

Publicamos o resultado da votação do primeiro turno com a descrição dos votos obtidos por cada candidatura por categoria, declarações dos candidatos após o primeiro turno, denunciamos que a forma como a votação estava sendo organizada excluiria os calouros e apontamos alguns dos problemas que a votação online trouxe para esse processo tão importante para a democracia universitária que é a escolha de quem irá liderar a universidade pelos próximos quatro anos. 

Agora, nós, jornalistas do UFSC à Esquerda, nos dedicamos a organizar os dados da votação do segundo turno por segmento e unidade e apresentá-los para que toda a comunidade universitária possa ter acesso à informação e agir a partir disso, também como registro histórico de como foi essa votação da consulta informal para reitoria. 

A tabela a seguir mostra o número total de votos que cada chapa recebeu de cada segmento da universidade e em seguida o índice de votação da chapa, conforme a RESOLUÇÃO Nº 001/COMELEUFSC/2022. A soma dos índices para cada categoria resulta no resultado da consulta, com 57,69% dos votos para a chapa Universidade Presente, de Irineu e Joana, e 42,31% dos votos para a chapa UFSC Viva, de Cátia e Moretti.

De início é interessante observar que como o voto é paritário por segmento, e não universal, o voto de um professor vale muito mais que o voto de um estudante na consulta. De fato, o voto de um professor vale o mesmo que o voto de 5,22 estudantes ou 1,18 TAEs. O peso de cada voto no cômputo total é apresentado na tabela a seguir.

TAEs

Usando essa métrica, conseguimos construir gráficos que mostram não somente qual chapa foi vitoriosa em cada unidade de ensino, mas também o quanto isso contribuiu para a porcentagem total obtida por ela. Analisando rapidamente os gráficos de votos dos estudantes, professores e TAEs que são apresentados a seguir, percebemos como os votos dos TAEs lotados na reitoria e no Hospital Universitário podem ser determinantes. Mais de 8,5% dos 57,69% dos votos da chapa Universidade Presente vieram dos servidores que trabalham na reitoria, que atualmente conta com a professora Cátia, da chapa adversária, como vice-reitora.

Além da predominância de TAEs lotados na reitoria, no gráfico também observamos que a chapa de Irineu e Joana foi a mais votada entre os TAEs de todos os centros e também nos campi, exceto no CCA, onde houve um empate. Ao longo das consultas para reitoria que o professor Irineu participou, os servidores técnicos administrativos sempre foram o segmento que mais o apoiou. 

Estudantes

Entre os estudantes, a chapa de Irineu e Joana obteve 5384 votos (61,13%) e sendo a chapa escolhida pelos estudantes em 9 dos 15 centros de ensino. Dos mais de 5 mil votos, mais de 60% foram provenientes de quatro centros: CCE, CFH, CSE e CTC. A chapa de Cátia e Moretti ganhou entre os estudantes somente no CCS e nos campi do interior.

No CTC a chapa UFSC Viva obteve a maioria dos votos por uma margem muito pequena, praticamente um empate. Foram 808 votos (52%) para a candidata Cátia e 745 votos (48%) para Irineu. Podemos dizer que também nesse centro Irineu obteve uma importante vitória. Para mostrar isso, cabe comparar o resultado desta consulta com os resultados do segundo turno da consulta para reitoria de 2018, na qual o então candidato Ubaldo obteve 1665 votos dos estudantes do CTC (74%) e Irineu obteve somente 535 votos (24%).

Todos os campi fora da Florianópolis tiveram votações muito polarizadas entre os estudantes. Nos campi de Blumenau, Curitibanos e Joinville, a chapa UFSC Viva que ganhou com grande vantagem, respectivamente 83%, 92% e 93% dos votos em cada um dos campus. Somente em Araranguá a chapa Universidade Presente ganhou, também em uma votação polarizada, com 84% dos votos dos estudantes.

Professores

Os professores foram o único segmento no qual Irineu e Joana não ganharam. Enquanto a chapa UFSC Viva recebeu a maioria dos votos dos docentes em nove dos 15 centros; a chapa Universidade Presente recebeu a maioria dos votos somente no CCE, CED, CFH, CSE, Araranguá e Blumenau.

Interessante perceber que no campus de Blumenau, a chapa UFSC Viva foi a mais votada pelos estudantes e a Universidade Presente foi a mais votada pelos professores, indo no sentido inverso da tendência dos outros centros e campi.

Três segmentos juntos

Pela análise das informações da votação é possível perceber que Irineu e Joana conquistaram uma vitória sólida na maioria das unidades da universidade. Analisando conjuntamente os votos em cada unidade (ponderado pelo peso do voto de cada segmento) é bem explícito que o principal local na universidade que não é base de apoio para a reitoria eleita é o Centro de Ciências de Saúde. Além de o candidato a vice-reitor Rodrigo Moretti ser de lá, também é o principal espaço de atuação da UJS no movimento estudantil, que fez forte campanha para Cátia e Moretti.

O campus de Joinville também votou massivamente na chapa de Cátia, o que pode ser devido ao fato da candidata a reitora ser professora nesse campus. Ela teve um papel importante na implantação do campus dentro de um parque empresarial privado, no qual a universidade paga cerca de 7 milhões de reais por ano de aluguel, além de outros custos para mantê-lo. O próprio fato de o campus de Joinville ter essa localização, pode favorecer uma forma de pensamento mais ligada aos interesses privados nos professores, TAEs e estudantes desse campus. 

Os principais centros que se constituem como base de apoio à reitoria eleita são o CCE, CED, CFH e CSE. Esses quatro são centros grandes, nos quais docentes, TAEs e estudantes deram mais de 70% dos votos para Irineu e Joana.

Esperamos que essa breve análise possa ajudar as pessoas que acompanham a política universitária a localizar onde está e onde não está a base de apoio da reitoria eleita. Também esperamos que toda a comunidade universitária, independente de em quem tenha votado, se engaje na luta para que Irineu e Joana sejam empossados como reitor e vice-reitora.

Também estamos disponibilizando, a quem interessar, os dados das urnas de forma detalhada no arquivo PDF que foram obtidos a partir da apuração dos votos pela COMELEUFSC. Acesse aqui.

*Os textos de opinião são de responsabilidade dos autores e podem não refletir a opinião do jornal.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *