Imagem: Imagem: UFSC vista aérea, Agecon: Pipo Quint. Montagem: UFSC à esquerda
Lara Albuquerque* – redação UFSC à esquerda – 04/03/2022
No último dia 24 de fevereiro a Comissão Eleitoral Representativa das Entidades da Universidade Federal de Santa Catarina (COMELEUFSC) publicou a data das votações para primeiro e segundo turno para eleição de reitoria. Ficou definido que o primeiro turno acontecerá no dia 22 de março, terça-feira, e o segundo turno no dia 26 de abril, terça-feira. Além de mais de um mês entre os turnos, chama a atenção a escolha das datas em semestres diferentes e a modalidade de votação online que são fatos inéditos nas eleições para reitoria da UFSC.
O primeiro turno acontecerá na última semana letiva da graduação, apenas três dias antes do fim do semestre letivo de 2021.2 e durante a matrícula dos veteranos para o semestre de 2022.1. Ou seja, na semana em que as aulas já não estão mais acontecendo, no máximo as últimas provas e trabalhos de recuperação, uma minoria da graduação estará em atividades acadêmicas neste período. Já o segundo turno acontece na segunda semana de aulas do semestre de 2022.1.
Não bastasse a assincronia com o calendário acadêmico da graduação e pós-graduação, período também que coincide com as férias de muitos professores e técnicos administrativos ligados diretamente aos cursos, o absurdo maior é que o primeiro turno será online e pode ser que exclua os calouros de 2022.1 da possibilidade de votar e escolher a futura reitoria!
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Os estudantes de graduação são a esmagadora maioria da comunidade universitária e a participação deles no pleito está prejudicada pela escolha que a COMELEUFSC fez em relação às datas. O regimento eleitoral, em seu artigo 6º define que a lista de votantes deve ser composta pelos membros da comunidade universitária com matrícula ou cadastro ativo 30 dias antes do primeiro turno, sendo 30 dias antes de 22 de março o dia 21 de fevereiro, a matrícula dos calouros iniciou a primeira etapa em 22 de fevereiro, um dia antes de se formar a lista do colégio eleitoral. Possivelmente, se o regimento eleitoral for seguido à risca e não retificado nessa definição, os calouros de 2022.1 estão impedidos de votar no segundo turno!
Mesmo com as recentes alterações que o Conselho Universitário fez no início do mês de fevereiro acerca da formação da lista tríplice possibilitar que todo o pleito se realizasse em 2022.1 e 100% presencial, a escolha da maioria das entidades foi por dividir a eleição em dois turnos e fazer um turno online.
A adesão ao ensino remoto que foi forçada no período da pandemia naturalizou de forma brutal que as atividades passassem a acontecer via internet. Porém os processos, como é uma eleição de reitoria, são pedagógicos para a participação política principalmente dos estudantes que pisam pela primeira vez no campus universitário. E esses são, no mínimo, metade dos cursos de graduação, já que os ingressantes dos anos de 2020.1, 2020.2, 2021.1, 2021.2 e 2022.1 (cinco fases nos cursos semestrais) nunca tiveram aulas presenciais, não conhecem seus centros de ensino, seus professores, o restaurante universitário, a biblioteca universitária e setoriais. Enfim, esses não conhecem a vida universitária pulsante do dia a dia, não conhecem a potência dos movimentos estudantis, dos trabalhadores da universidade, dos secundaristas do Colégio de Aplicação, enfim, sujeitos políticos da universidade que muito se movimentam e se envolvem nesses períodos.
Porém, infelizmente, a naturalização da vida universitária assistida nas telas pelos stories de intagram e no computador parece ter atingido as entidades representativas que estão construindo a COMELEUFSC.
Na decisão tomada no dia 24 de fevereiro, a votação das entidades se deu do seguinte modo: Sintufsc usou seus dois votos pela eleição on-line em 22 de março, DCE com um voto acompanhou esta posição. A APG manteve sua posição desde o início da discussão pela votação presencial no dia 19/04 e 26/04. A Apufsc, que tem dois votos na comissão e vinha defendendo o online, em uma reviravolta de suas posições, votou com a APG. Com isso, a presidência da comissão que é do Sintufsc usou seu voto de minerva para desempatar a decisão – e definiu a votação on-line.A decisão ficou na mão do Diretório Central dos Estudantes (DCE) e o Sindicato do Trabalhadores Técnicos Administrativos (SINTUFSC) qu epoderiam, um deles, mudar a votação para não empatar, mas cederam às pressões para a eleição ser online e dividida nos diferentes semestres. A APUFSC Sindical, sindicato docente, era a entidade que vinha defendendo essa modalidade, uma vez que já toma suas decisões e realiza suas eleições de diretoria de forma online, prática a qual sempre foi alvo de críticas na UFSC, principalmente dos setores ligados aos movimentos de esquerda. A Associação de Pós-Graduandos foi a única entidade que manteve a posição dos dois turnos serem presenciais e acontecerem no mesmo semestre.
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Há poucos dias de acontecer o tão esperado retorno presencial, com possibilidade legal no calendário tanto para a consulta que a COMELEUFSC dirige quanto no Conselho Universitário de formar e enviar a lista tríplice ao MEC, a escolha pela categoria online que as entidades fizeram e a forma como isso se deu é indefensável e imoral. O que embasou o alinhamento dos setores que defenderam essa posição na comissão deve ser alvo de repúdio, uma vez que a posição majoritária em dezembro era pela eleição presencial, como pode-se conferir no relato da assembleia do SINTUFSC em 16/12/2021, e no relato da assemblei do dia 19/01/2022 e também na nota publicada pelo DCE em dezembro intitulada “A quem interessa eleições virtuais para a reitoria da UFSC?” .
É um banho de água fria, principalmente nos estudantes de graduação que podem passar por todo seu curso e não ver acontecer a eleição de reitoria de forma presencial que muito faz movimentar a vida política na universidade e constitui um importante marco na vida acadêmica. As consequências políticas que essa escolha pode gerar para as futuras eleições, seja de reitoria ou outras, devem ser severamente combatidas por aqueles que se preocupam com os significados políticos desta naturalização dos processos políticos acontecendo de forma totalmente virtual, sem vida e sem graça.
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