HH da Geografia em Abril de 2016 - Foto: Página Festas UFSC.

[Opinião] Mais um HH desgastado, tapumes do CTC e um CEB para discutir o regimento de festas: que universidade queremos construir?

João Lemos* – Redação UFSC à Esquerda – 19/09/2022

Na noite da última sexta-feira (16/09), novamente os estudantes da UFSC e a comunidade encontraram dificuldades em confraternizar dentro do campus: mais um HH (Happy Hour) foi interditado, dessa vez pela segurança interna, a DESEG. Sábado (17) ocorreu, entre tapumes, o trote integrado do CTC (Centro de Tecnologia) e, para a próxima terça-feira, dia 20/09, está marcado às 12h um Conselho de Entidades de Base (CEB) para discutir a proposta de um regimento que visa regularizar as festas dentro do campus. No meio disso tudo, temos que discutir que universidade queremos e como o seu espaço deve ser ocupado pela comunidade.

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A Notícia: Happy Hour interditado e os tapumes do CTC.

Estava marcado para acontecer às 22h00 do último dia 16, ao lado do bloco D do CCE, a festa a fantasia “Animamada”, HH do curso de Animação da UFSC. Entretanto, mal as pessoas se reuniram e a segurança interna do campus abordou os organizadores do evento, alegando que eles estavam impedidos de estarem ali por falta de autorização. Aproximadamente 22h15, as pessoas se deslocaram a fim de mudar a festa de local, entretanto, pareceu haver confusão quanto se ela seria ou no Pida ou no laguinho.

Nós do jornal perguntamos a um dos funcionários da segurança interna do campus se havia tido alguma denúncia à festa. O funcionário, encarregado de enxotar dali o pessoal, nos respondeu que não havia denúncia direta, mas sim a ordem de não permitir festas ou aglomerações dentro do campus que não tivessem sido previamente autorizadas pela Reitoria ou pelo “diretório”, em suas palavras. 

O trabalhador, justificando-nos a ordem pela qual era submetido, disse que o problema não era que os estudantes fizessem festa, e sim que “outro pessoal vêm depois, deixa tudo sujo, e mancha o nome dos estudantes”. Em seguida, reiterou que as festas e reuniões seriam permitidas se tivessem autorização, e usou o trote integrado do CTC como exemplo, que ia acontecer no dia seguinte.

Assim, alguns grupos de pessoas perambularam pela UFSC, entre o Pida e o laguinho, até a festa se assentar no laguinho, onde os carros da segurança interna ficaram estacionados com os giroleds ligados. A Polícia Militar marcou presença no evento, também com sua viatura.

Foi nítida a confusão das pessoas tendo que contornar os tapumes do trote integrado, que barravam quase inteiramente a Praça da Cidadania. No dia de sábado, antes do trote integrado começar, as passagens estavam totalmente abertas e liberadas.

A opinião: que convivência queremos?

Por qual motivo, então, os tapumes foram fechados durante a noite? A “Animamada” continuou no laguinho e viu-se movimentação também em outros lugares da UFSC. Mas será que os estudantes deveriam simplesmente aceitar a interdição de suas confraternizações noturnas, baseada em uma burocracia que, na verdade, só impede festas em alguns lugares pontuais? 

Porque as festas foram impedidas apenas nos Centros de Ensino, próximos à sede dos Centros Acadêmicos e foram “permitidas” no laguinho? Será que se a segurança interna não tivesse conseguido impedir o HH da animação no CCE a Polícia Militar teria feito o serviço?

Para alguns, a justificativa dessas interdições é que as festas dentro do campus atraem pessoas de fora da universidade, sendo essas as culpadas por sujar o espaço. Entretanto, além de ser um argumento que carece de provas, a universidade não é apenas dos estudantes, TAEs e professores. O espaço é público. Será que a solução para o lixo que fica depois dos HH’s é impedir o acesso da comunidade externa à universidade? Impedir, na verdade, mais uma vez: se não entram como estudantes, também não poderão sequer entrar no campus para utilizar o espaço público com fins de lazer.

Será que a forma como confraternizamos dentro do campus deve ser apenas como o trote integrado? Ou seja, exclusiva para quem paga e colocando tapumes que cerceiam e limitam o espaço público da universidade? É muito contraditório que isso aconteça ao mesmo tempo que passa por quase todos os cursos da graduação a ‘curricularização da extensão’, medida que segundo seus defensores incentiva levar e abrir a universidade para a sociedade.

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Será que devemos deixar todos esses impedimentos passarem? Será que isso não pode ser visto também como mais uma forma da privatização da universidade, projeto que, como sabemos, vem tentando se inserir melindrosamente, passo a passo? 

Como podemos construir e ocupar o espaço universitário, que é nosso, da forma que acharmos melhor, para os estudantes e para toda a comunidade? Como vamos construir a convivência dentro do campus? Devemos permitir que ela continue sendo atacada e regida por interesses que não são nossos? Já não basta a triste, enorme e simbólica ruína que temos no meio do nosso campus: o Centro de Convivência?

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A outra notícia

Está em curso a construção de um regimento que visa regulamentar as festas dentro da UFSC. A Reitoria abriu espaço para o Diretório Central dos Estudantes (DCE) participar dessa construção.

Ao meio dia desta terça-feira, dia 20/09, ocorrerá um Conselho de Entidades de Base com pauta única, que visa iniciar as discussões sobre as festas dentro da universidade para a construção deste regimento.

É importante que não só os Centros Acadêmicos compareçam ao CEB, mas também todos os estudantes da UFSC que se preocupam com o convívio dentro da universidade.

Da mesma forma, é crucial estarmos atentos para o que está acontecendo. De fato, não é uma discussão simples, mas devemos nos posicionar nos lembrando quais são os interesses que podem estar em jogo nestas negociações – será mesmo que quem ganha com esse cerceamento é o patrimônio público? será que essas medidas não contribuem para a desmobilização? Temos de ter em vista porque nós desfrutamos apenas desses espaços da universidade para nos reunir de forma livre, porque devemos preservar essa cultura e, principalmente, que universidade queremos construir.

Como esse regimento pode (ou não) nos aproximar de uma UFSC mais justa e à serviço da sociedade? 

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*O texto é de inteira responsabilidade do autor e pode não refletir a opinião do Jornal.

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