Imagem: Henrique Almeida/ Agecom UFSC
Helena Lima* – Redação UFSC à Esquerda – 19/02/2021
Algumas das consequências de um possível retorno presencial progressivo serão críticas e evidentes, como a situação financeira dos estudantes com a volta para a capital, o que foi tratado em outro texto.
Por outro lado, com um retorno híbrido, em que não se tenha, da noite para o dia, a volta de toda a comunidade universitária nas salas de aula, nas bibliotecas, nos restaurantes, nas praças e nos laboratórios, o orçamento precário da Universidade poderá permanecer mascarado, o que intensifica a dificuldade de permanência dos estudantes.
Assim, a falta de professores, de materiais nos laboratórios e de manutenção nos prédios, a perda de qualidade no Restaurante Universitário, a precariedade da iluminação e da segurança no campus, a deterioração das condições de trabalho, dos terceirizados aos professores, e a redução das bolsas estudantis devem ter menos impacto no cotidiano do que deveriam em proporção ao ataque que permanece.
Tantos destes motivos que desencadearam uma greve estudantil na UFSC em 2019 não deixaram de existir, são apenas menos perceptíveis durante o ensino remoto. A verba prevista para 2021, inclusive, é ainda menor que a dos anos anteriores.
A escassez de professores, por exemplo, já está sendo camuflada durante a pandemia nos cursos de graduação e até no Colégio Aplicação. Com as salas de aula sendo condensadas, com a possibilidade de gravar vídeos em detrimento da aula síncrona e a carga horária das aulas reduzida, os professores conseguiram por hora se esparramar nos buracos que existem nos cursos, de maneira muito precária.
Com o retorno gradual, em que os estudantes e professores estarão divididos entre aulas presenciais e aulas online, a carga horária excessiva de lecionar tantas disciplinas, ainda que vá pesar sobre os professores, não estará totalmente evidente ao restante da comunidade universitária, e vai recair sobre os professores, novamente, a adaptação a um cenário que não é de sua responsabilidade.
É preciso ter clareza que, enquanto suspende-se a discussão do orçamento pela falta de sua expressão latente no dia-a-dia do corpo universitário, os cortes continuam a assaltar a Universidade. É melhor que não se espere até o momento crítico de retorno total das atividades para retomar a questão, quando o cenário já estará muito pior.
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