[Opinião] Porque se juntar ao Dia de Mobilização em Defesa da Universidade (III)

Imagem: Chamado para a mobilização em defesa da universidade a partir de foto do jornal UFSC à Esquerda que mostra uma das assembleias de greve contra o future-se em 2019, em frente à reitoria da UFSC.

Luísa Estácio – Redação UàE – 07/03/2022

Hoje (07/03), a partir das 9h, a comunidade universitária se reunirá em frente a reitoria para o Dia de Mobilização em Defesa da Universidade, espaço organizado pela Associação  de Pós-Graduandos (APG) da UFSC e que contará também com o apoio do Diretório Central dos Estudantes (DCE) e do Sindicato dos Trabalhadores em Educação das Instituições Públicas de Ensino Superior do Estado de Santa Catarina (SINTUFSC).  

A ideia é ampliar o debate entre todas as categorias da comunidade depois de tantos meses sem mobilizações. Será discutida a situação da UFSC nesse retorno presencial e as condições que temos nesse momento. Será realizada também uma audiência às 14h com a reitoria para pressionar por um plano seguro para abertura imediata do Restaurante Universitário e Biblioteca Universitária. Essa série de textos busca trazer elementos sobre a importância de construir essa mobilização. 

Parte 3

Com o retorno das atividades presenciais na universidade precisamos de condições concretas e estruturais para a volta, tal como discutido na Parte 1 desta matéria. As condições incluem o básico e indispensável para a vida universitária, ainda mais neste cenário de crise econômica: garantia de uma alimentação saudável com o Restaurante Universitário (RU) funcionando para a comunidade com a manutenção do valor de R$1,50; garantia das condições de estudos com as salas individuais, de informática e Biblioteca Central funcionando; a urgência da ampliação das vagas na moradia estudantil; além da própria garantia de segurança sanitária, com a distribuição de álcool gel e máscaras para a comunidade. 

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Essas condições primordiais para o retorno, que garantem a permanência dos estudantes nos corredores e aulas da universidade são confrontadas com o atual sucateamento da estrutura institucional. Saindo da experiência remota e individual que tivemos nesses dois últimos anos, distante do mínimo que a universidade deve oferecer para seus discentes, pisamos no chão de uma universidade que estava com muitos de seus prédios fechados e carecendo de reparos urgentes desde o período anterior ao ensino remoto.

Com o ensino remoto as deteriorações ficaram mascaradas pela falta de circulação nos campis, sendo percebida agora com o retorno das atividades presenciais de uma parcela de servidores e técnico-administrativos, estudantes que trabalham nos laboratórios e realizam matérias práticas e estudantes do Colégio de Aplicação e NDI. 

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Na parte 2, foi discutida também que para além dessa estrutura material precária da universidade anterior ao período pandêmico, o legado que teremos que enfrentar é também educacional, com a aceitação maior e implementação mais brutal da modalidade remota e híbrida permanentemente. Esse projeto educacional do capital para a universidade é a outra face da precarização, expressa nas tentativas de implementação de 40% da carga remota da graduação, nas reformas da pós-graduação e no próprio lema que agora carrega a instituição, com seu mote de inovação e de atendimento às demandas do mercado. 

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Neste cenário corrosivo de recém experimentação de ensino remoto nas universidades públicas e o sucateamento de longa data da instituição que precisamos lutar e principalmente ter atenção aos próximos cenários que virão a seguir. Sem a luta do movimento estudantil, qualquer projeto que queremos para a instituição fica cada vez mais distante de nós pela velocidade na qual as mudanças acontecem. É por isso que o aspecto político de toda essa precarização não pode ser deixado de lado, pois não se trata somente da escassez de recursos, mas de uma conivência com um projeto de desmonte da universidade por parte daqueles que gerem a universidade. 

As soluções costumeiramente apresentadas quando se naturaliza a precarização da universidade são formas alternativas que aquiescem com o desmonte, sem contraposições críticas desse cenário enfadonho: aceitam cortar gastos, aceitam receber emendas parlamentares e até mesmo aceitam que a privatização se expanda cada vez mais.

Recorrer às emendas já se tornou informalmente uma tradição entre gestores da universidade que recorrem ao congresso catarinense como saída e única opção possível diante dos cortes. 

Como lembra Luiz Costa em seu texto sobre a passividade da reitoria diante dos cortes, é esse o mesmo congresso composto por deputados que votaram favoráveis à proposta de reforma da previdência. Não é deste setor que devemos esperar que atenda nossos anseios de uma universidade pública, um setor que se senta confortavelmente com aqueles que negociam as formas variadas de privatização da instituição, que são a favor das reformas trabalhistas e da previdência.

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Contrários ao teto de gastos sociais implementado pela PEC 95, uma das lutas em nossa memória coletiva estudantil, docente e demais servidores é sem dúvida ainda a derrubada desse teto que visa limitar o investimento com educação e saúde, transferindo recursos para o setor financeiro dar conta da dívida pública, sustentando uma crise que já nos assola há mais de uma década. 

A abertura para a privatização da universidade pelas fundações e terceirizações dos serviços por conta da falta de verba pública além de não combater com a precarização consegue aumentá-la ao serem alterados contratos trabalhistas e transferência de recursos do fundo público. Projetos que tiveram uma luta extensa de mobilização estudantil como foi o caso o da Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (EBESERH) nos mostra como a luta pode ser ferrenha entre a comunidade e aqueles que estão na sua gestão. Depois de anos impedindo a inserção na universidade, no fim de 2015 a iniciativa passa aos golpes. 

Um dos argumentos daqueles que eram favoráveis era de que a iniciativa seria benéfica para melhorar de imediato a qualidade do atendimento e de equipamentos do hospital, que se encontrava com algumas alas mais precarizadas. O discurso de melhoria é presente no apoio a essa inserção, ainda que ela não corresponda à realidade, mas o que fica secundarizado é a mudança de financiamento, de regime de trabalho, a ampliação do reforço da lógica de “atores sociais” para cumprir com atividades da esfera pública e as transformações de responsabilidade e inclusive de ensino após a entrada da EBSERH.  

Por fim e sem muita surpresa observamos o hospital enfrentar os mesmos problemas que vinha enfrentando anteriormente, mas agora embrenhado com iniciativas privadas. 

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O exemplo da EBSERH mostra claramente qual lado da política de desmontes acabam ficando gestores da universidade. Também se expressa igualmente em forma de resoluções aprovadas de forma diluída, sem debate amplo com a comunidade, como foi o caso da recente reforma da pós-graduação. Os ajustes acabam sendo discutidos nos conselhos com o caráter de meras adaptações técnicas ou de necessidade de adaptação com as agências de fomento.

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Não podemos comprar esse tipo de saída: é preciso barrar e cobrar desse projeto político que apenas dilui o próprio caráter das suas posições e se aferra às ideias legalistas mais enfadonhas, muitas vezes ao lado daqueles que estão sucateando as estruturas da nossa instituição e mudando seu caráter público. É preciso que nós, que queremos uma universidade diferente da que irá nos receber hoje, façamos contraposição a esse lógica de manutenção da universidade às custas de aniquilar precisamente seu caráter público, seja por inserir e aceitar a lógica dos cortes, por atender as demandas de mercado através de produção do conhecimento vinculado não mais para a transformação social e sua plena autonomia, mas para a manutenção da miséria a qual enfrenta nossa classe atualmente. 

Se de fato queremos fazer com que a universidade vá para além de seus muros frase que já ouvimos inúmeras vezes, é preciso que as categorias dos estudantes, docentes e servidores estejam organizadas e mobilizadas tanto contra o projeto de desmonte da universidade, compreendendo que essa não é uma medida isolada, mas parte de um cenário maior de reformas do governo de aniquilar direitos trabalhistas, ampliar as privatizações, acabar com a previdência social.

Após meses sem mobilizações, ressaltamos a importância de somar-se ao Dia de Mobilização em Defesa da Universidade, que ocorrerá hoje, 07/03 a partir das 9h em frente à reitoria. Lá será um espaço para retomar as ações políticas coletivas, de debate e também a partilha dessas angústias que muitos de nós acabaram cultivando individualmente durante esse tempo a respeito da situação da universidade. Podemos então transformar essa angústia individual em um corpo maior, transformar insatisfações em reivindicações. 

Participe da mobilização hoje e acompanhe a cobertura realizada pelo UFSC à Esquerda!

*Os textos de opinião são de responsabilidade dos autores e não representam, necessariamente, as posições do Jornal.

 

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